Os voos que ligarão Maputo a Lisboa terão início a 31 de março de 2020, com um "serviço diferenciado e competitivo", garantiu o diretor-geral da LAM à DW. A ambição da companhia moçambicana é voar para a Alemanha.
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A companhia de bandeira moçambicana saiu da lista negra da União Europeia, depois de ter cumprido todas as exigências de segurança impostas pelos organismos competentes. Está assim de regresso ao mercado já de si bastante competitivo.
Em entrevista à DW África, o diretor-geral da Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), João Pó Jorge, começa por afirmar que a companhia já foi submetida a várias auditorias e certificações, estando os problemas técnicos que a impediam de voar para o espaço europeu ultrapassados. Para já, a ligação aérea Maputo/Lisboa/Maputo será efetuada com aparelhos da portuguesa Hi Fly, e tem início a 31 de março de 2020.
"Obviamente que a aviação civil também melhorou substancialmente a sua performance e isso dá-nos essa possibilidade de voar para a Europa quando nós quisermos mesmo sem operador, se bem que vamos começar este voo baseados no apoio de um operador português", explicou João Pó Jorge.
Com os olhos no mercado europeu, a companhia moçambicana quer também explorar as ligações com a Alemanha.
Concorrência
O diretor-geral da LAM adiantou que a companhia está atenta à concorrência pela apetência do mercado moçambicano por outras congéneres como a TAAG (Angola) e, como tal, promete serviço diferenciado e competitivo.
"Contamos oferecer um produto diferente, não só no tratamento, desde a compra do bilhete até ao destino final, mas também apostando no facto de ser um voo direto. Queremos utilizar isso como uma fonte para alavancar o mercado. Sabemos que é um mercado bastante forte e que está a crescer e acreditamos que, com isso, conseguiremos encaixar-nos bem nessa rota. Obviamente que há outras companhias (a TAAG, a Air Qatar…) que fazem essa ligação", notou João Pó Jorge, acrescentando que a intenção da LAM com a TAP, "que faz voos diretos", é trabalhar "em parceria e não entrar em competição direta".
Moçambique: LAM volta a voar para a Europa
Público saúda regresso
A comunidade moçambicana e empresários com interesses em Moçambique acolheram com agrado o regresso dos voos entre Maputo e Lisboa. É o caso de Ana Luísa, uma lojista moçambicana que vive há cerca de três anos em Portugal e que diz esperar "que as condições sejam melhores que as anteriores".
"Gostaria que fosse uma boa companhia, que estivesse à altura das outras. Porque há gente indo pela TAAG [Transportadora Aérea de Angola], por outras [companhias] que andam por aí. Espero mais melhorias nos aviões, na assistência; melhoria dos serviços em geral", acrescentou Ana Luísa.
Também Paulo Garção, reformado, vê com bons olhos este regresso. "Acho que é excelente, porque é oportunidade ao mesmo tempo para abrir novos horizontes”, diz. Este antigo funcionário bancário moçambicano veio de férias a Portugal através da Transportadora Aérea Portuguesa (TAP), uma realidade que poderá ser diferente em 2020, nota: "Mais fácil [é] virmos mais rapidamente com a nossa companhia de bandeira. Estamos aqui, vamos para qualquer lado. Porque viajei muito na LAM para todos os lados e agora quando soube disto disse "ótimo". Fico feliz".
A participar no evento, em Lisboa, desta segunda-feira (07.10) que marcou o lançamento formal da ligação, o embaixador moçambicano, Joaquim Simeão Bule, afirmou que este voo não é uma mera operação comercial entre a LAM e a companhia aérea privada portuguesa Hi Fly. "Este voo representa ganhos enormes para Moçambique» e constitui «mais uma oportunidade para colocar o país na rota do mundo", afirmou.
Moçambique: O abecedário das dívidas ocultas
A auditoria independente de 2017 às dívidas ocultas não revela nomes. As letras do abecedário foram usadas para os substituir. Mas pelas funções chega-se aos possíveis nomes. Apresentamos parte deles e as suas ações.
Foto: Fotolia/Africa Studio
Indivíduo "A"
Supõe-se que Carlos Rosário seja o indivíduo "A" do relatório da Kroll. Na altura um alto quadro da secreta moçambicana que se teria recusado a fornecer as informações solicitadas pelos auditores da Kroll alegando que eram "confidenciais" e não estavam disponíveis. Rosário foi detido em meados de fevereiro no âmbito das dívidas ocultas. Há inconsistências nas informações fornecidas pelo indivíduo.
Foto: L. Meneses
Indivíduo "B"
Andrew Pearse é ex-diretor do banco Credit Suisse, um dos dois bancos que concedeu os empréstimos. No relatório da Kroll é apontado como um dos envolvidos nos contratos de empréstimos originais entre a ProIndicus e o Credit Suisse. De acordo com a justiça dos EUA, terá recebido, juntamente com outros dois ex-colegas, mais de 50 milhões de dólares em subornos e comissões irregulares.
Foto: dw
Indivíduo "C"
Manuel Chang, ex-ministro das Finanças, assinou as garantias de empréstimo em nome do Governo moçambicano. Admitiu à auditoria que violou conscientemente as leis do orçamento ao aprovar as garantias para as empresas moçambicanas. Alega que funcionários do SISE convenceram-no a fazê-lo, alegando razões de segurança nacional. Hoje é acusado pela justiça dos EUA de ter cometido crimes financeiros.
Foto: Getty Images/AFP/W. de Wet
Indivíduo "D"
Maria Isaltina de Sales Lucas, na altura diretora nacional do Tesouro, terá coadjuvado o ministro das Finanças Manuel Chang, ou indivíduo "C", na arquitetura das dívidas ocultas. No Governo de Filipe Nyusi foi vice-ministra da Economia e Finanças, mas exonerada em fevereiro de 2019. Segundo o relatório, terá recebido 95 mil dólares pelo seu papel entre agosto de 2013 e julho de 2014 pela Ematum.
Foto: P. Manjate
Indivíduo "E"
Gregório Leão foi o número um do SISE, os Serviços de Informação e Segurança do Estado. O seu nome é apontado no relatório da Kroll e foi detido em fevereiro passado em conexão com o caso das dívidas ocultas.
Foto: Ferhat Momad
Indivíduo "F"
Acredita-se que Lagos Lidimo, diretor do SISE, Serviços de Informação e Segurança do Estado, desde janeiro de 2017, seja o indivíduo "F". Substituiu Gregório Leão, o indivíduo "E". Na altura disse que não tinha recebido "qualquer registo relacionado as empresas de Moçambique desde que assumiu o cargo." A ONG CIP acredita que assumiu essa posição para proteger Filipe Nyusi, hoje chefe de Estado.
Foto: Ferhat Momad
Indivíduo "K"
Salvador Ntumuke é ministro da Defesa desde de 2015. Diz que não recebeu qualquer registo relacionado com as empresas moçambicanas desde que assumiu o cargo. O relatório da Kroll diz que informações fornecidas pelo Ministério da Defesa, Ematum e a fornecedores de material militar não coincidem. Em jogo estariam 500 milhões de dólares. O ministro garante que não recebeu dinheiro nem equipamento.
Foto: Ferhat Momad
Indivíduo "L"
Víctor Bernardo foi vice-ministro da Planificação e Desenvolvimento no Governo de Armando Guebuza. E na qualidade de presidente do conselho de administração da ProIndicus, terá assinado os termos e condições financeiras para a contratação do primeiro empréstimo da ProIndicus ao banco Credit Suisse, juntamente com Maria Isaltina de Sales Lucas.
Foto: Ferhat Momade
Indivíduo "R"
Alberto Ricardo Mondlane, ex-ministro do Interior, terá assinado em nome do Estado o contrato de concessão da ProIndicus, juntamente com Nyusi, Chang e Rosário. Um email citado pela justiça dos EUA deixa a entender que titulares de alguns ministérios moçambicanos envolvidos no caso, entre eles o do Interior, iriam querer a sua "fatia de bolo" enquanto estivessem no Governo.
Foto: DW/B . Jaquete
Indivíduo "Q"
Filipe Nyusi, na altura ministro da Defesa, seria identificado como indivíduo "Q" no relatório. Uma carta publicada em 2019 pela imprensa moçambicana revela que Nyusi terá instruído os responsáveis da Ematum, MAM e ProIndicus a fazerem o empréstimo. Afinal, parte dessas empresas estavam sob tutela do seu ministério. Hoje Presidente da República, Nyusi nunca esclareceu a sua participação no caso.
Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/M. Yalcin
Indivíduo "U"
Supõe-se que Ernesto Gove, ex-governador do Banco de Moçambique, seja o indivíduo "U". Terá sido uma das entidades que autorizou a contração dos empréstimos. E neste contexto, em abril de 2019 foi constituído arguido no processo judicial sobre as dívidas ocultas. Entretanto, em 2016 Gove terá dito que não tinha conhecimento do caso das dívidas. (galeria em atualização)