Em um ano, sistema de drenagem transforma Lichinga
Conceição Matende
25 de agosto de 2021
Capital do Niassa instalou valas de drenagem, sistema de recolha de resíduos e tem concurso aberto para projeto de aterro sanitário. Problemas com a chuva diminuíram, mas aumento do trabalho infantil preocupa.
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Em Moçambique, a cidade de Lichinga começa a resolver um problema que parecia não ter solução. Na época das chuvas, as ruas da capital provincial do Niassa eram intransitáveis. A falta de canalização para a água resultava na abertura de enormes crateras nas vias. A erosão acabava por ser um dos maiores desafios para a manutenção das ruas de Lichinga, mas com a construção do sistema de drenagem e pavimentação a situação mudou.
Após um ano do projeto "Melhorar a Cidade de Lichinga", os munícipes são unânimes em dizer que as vias de acesso estão em ótimas condições. O mototaxista Abel Benjamim, morador do bairro Niassa 1, diz que houve melhorias nas vias públicas por onde transita. Ele conta que antigamente não se via "estradas alcatroadas".
Elias Wassir, morador do bairro Sanjala, manifestou o mesmo ponto de vista. Para o professor, não só as estradas como também os passeios estão muito melhores em comparação a anos anteriores. "Dou força para que eles continuem assim", incentiva.
O município diz que não pode estimar o valor investido na melhoria das estradas pavimentadas e abertura das valas de drenagem porque os seus parceiros doam materiais de construção, não financiam as obras.
Valas auxiliam na limpeza pública
A reforma da pavimentação facilita a recolha dos resíduos sólidos. No âmbito do projeto, foram colocados mais de um contentor em cada bairro desde princípio do primeiro trimestre de 2020.
O ambientalista da Rodes, coligação das associações para o ambiente e o desenvolvimento sustentável da província do Niassa, Faustino Nassera, confirma que o maior problema ambiental que Lichinga tinha era a erosão. Para Nassera, essa iniciativa do poder público de canalizar as águas fluviais trouxe uma mudança repentina e significativa.
Nassera diz que as construções das valas de drenagem melhoraram o sistema de saneamento de Lichinga como um todo. Além das crateras que surgiam com o tempo, o lixo acumulado era levado pelas valas de drenagem em direção ao centro da cidade. Ele conta que no início foi um desafio influenciar o município e os cidadãos a ter atitude e consciência em relação aos resíduos sólidos.
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Aterro também faz parte do projeto
O vereador para área de Saúde e Meio Ambiente de Lichinga, Alberto Ndala, diz que o município quer canalizar recursos agora para o aterro sanitário em Lulumile. Ele explica que a Câmara quer abranger toda a cidade com o projeto. Contudo, para isso iniciou-se projetos pilotos em algumas zonas do municipio, entre eles o aterro sanitário. Para isso, lançou um concurso para o projeto com o financiamento de Banco Mundial.
Como ainda não há aterro, organizações não-governamentais e empresas fazem a reciclagem do lixo. Garrafas plásticas são reutilizadas como recipientes para venda de água e óleo, papel é transformado em carvão e resíduos metálicos são aproveitados para fazer varões de construção e chapas de zinco.
Trabalho infantil na recolha dos materiais
A solução, porém, abre margem para outro problema: o trabalho infantil. Crianças e jovens que fazem a recolha do material metálico nas lixeiras dizem que o fazem por necessidades financeiras. Eles ajudam em casa, mas acabam por não frequentar a escola.
Dois dos jovens ouvidos pela DW África, Florindo Rafael e Cassimo Cole, dizem que os valores que ganham com a venda do metal garantem a compra de algumas roupas. Eles sabem que correm riscos ao vasculharem as lixeiras, mas preferem isso ao invés de roubar, afirma Cole.
O comprador do material recolhido pelos jovens, Abubacar Maxuda, diz que revende material recolhido em diferentes distritos da província de Nampula. Ele conta que um dos maiores compradores é uma fábrica de reciclagem de metal que transforma a matéria em varões de construção e chapas de zinco.
Moçambique: As novas estradas do Niassa
Com a reabilitação das duas principais estradas do Niassa, a N13 e N14, vitais para o desenvolvimento da província, a ligação da região com o resto de Moçambique e países vizinhos torna-se mais rápida e segura.
Foto: DW/M. David
Mãos à obra
A província de Niassa, a mais extensa de Moçambique, é potencialmente rica em agropecuária, turismo, conservação, extração mineira, entre outras atividades. No entanto, o estado das vias de acesso constitui o principal entrave no desenvolvimento económico da província. Mas esse cenário já começou a mudar com as obras de reabilitação de várias vias.
Foto: DW/M. David
Estrada N13
Finalmente arrancou a construção da N13, estrada nacional que liga as províncias de Nampula e Zambézia, através da via do Cuamba. Também tem ligação com o vizinho Malawi, passando pelo distrito de Mandimba. A reabilitação está dividida em três partes: nas ligações de Lichinga-Massangulo, Massangulo-Muita e Muita-Cuamba. Estes são troços mais complexos devido às pontes que devem ser construídas.
Foto: DW/M. David
De Moçambique ao Malawi
Devido a relação de proximidade entre os dois povos, a estrada Mandimba-Malawi foi igualmente contemplada pelo projeto de asfaltagem. Neste momento, a estrada esta totalmente planada, faltando apenas o seu revestimento para permitir uma ligação mais efetiva entre os dois países vizinhos. O antigo troço dificultava a circulação de pessoas e bens praticamente em todas as épocas do ano.
Foto: DW/M. David
Estrada Montepuez-Balama
As obras de reabilitação e asfaltagem de cerca de 130 km de estradas decorrem a todo gás para que este troço esteja pronto até fevereiro de 2020. Trata-se de uma via que liga a cidade de Montepeuez, em Cabo Delgado, até Balama, no Niassa. O objetivo é assegurar a ligação entre as duas províncias nortenhas, sobretudo do Niassa ao porto de Pemba, dinamizando as trocas comerciais.
Foto: DW/M. David
Limite entre o Niassa e Cabo Delgado
Marrupa é o distrito do Niassa que faz fronteira com a província de Cabo Delgado através do distrito de Balama, separadao pelo rio Ruança. Do lado do Niassa a estrada está totalmente asfaltada. Mas o mesmo não se pode dizer sobre a estrada em Balama, como mostra a foto.
Foto: DW/M. David
Vias alternativas com problemas
No intuito de acelerar as obras de reabilitação da estrada N13 sem criar grandes transtornos na mobilidade das pessoas e bens, as empresas encarregues do projeto de asfaltagem criaram desvios através de vias alternativas. Mas estas vias não estão em condições de transitabilidade e dificultam, principalmente, a circulação de viaturas de grande porte.
Foto: DW/M. David
Travessia mais segura
A ponte inaugurada em dezembro de 2018 pelo Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, sobre o rio Lunho, no distrito turístico do Lago Niassa, é um alívio para a população local. Antes todos atravessavam o rio através de pirogas com risco de serem atacados por crocodilos. A ponte liga as zonas de Chuanga e Messumba, no distrito do Lago.
Foto: DW/M. David
Estrada N14 reabilitada
Com 455 km, a N14 liga a província do Niassa com a vizinha Cabo Delgado. Trata-se de uma estrada totalmente asfaltada e sinalizada e já aliviou muitos niassenses que passam por aquela via diariamente. A estrada conta com duas faixas de rodagem.
Foto: DW/M. David
"Desenvolvimento acelerado"
A reabilitação das estradas no Niassa já anima a população local. Euclides Tavares, que mora na capital provincial, acredita que estas obras poderão trazer um "desenvolvimento acelerado" para a região. "Acho que o Niassa vai mudar, porque o a província só está mais atrasada devido à degradação das estradas", diz o residente, que comemora o fim das obras na N14 - que liga Lichinga a Cabo Delgado.
Foto: DW/M. David
Impacto no futuro
Maria Orlando, também residente no Niassa, também comemora a conclusão das obras em algumas estradas. Para ela, estas vias "estão a trazer uma nova cara ao Niassa" e os seus impactos poderão se refletir no futuro da vida dos niassenses.
Foto: DW/M. David
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Nota: artigo atualizado no dia 7 de setembro de 2021 (a versão antiga fez referência a Nacala como província, corrigimos para Nampula)