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Moçambique: Luta contra a discriminação de LGBTQ em Nampula

Sitoi Lutxeque (Nampula)
21 de dezembro de 2023

Em Nampula, a comunidade LGBTQ queixa-se de discriminação e rejeição pela sociedade. Milhares de jovens sentem que têm de esconder a sua sexualidade, para evitar ser alvo de discriminação e até agressão física.

Mural de luta pelos direitos LGTBQ em Nampula
Foto: Sitói Lutxeque/DW

Na província nortenha de Nampula, a comunidade LGBTQ não tem uma vida tranquila, sendo alvo de discriminações, humilhações e até agressões por causa da sua orientação sexual.

Loiny Mussa, conhecida por Loy, tem 23 anos, nasceu e reside na cidade de Nampula. Descobriu a sua orientação sexual aos 11 anos, mas só assumiu publicamente cinco anos depois. Diz que não foi fácil, porque viveu momentos muito maus.

Já na escola alguns professores agrediam verbalmente a jovem Loiny Mussa Foto: Sitói Lutxeque/DW

Discriminação constante

"Passei a autoexcluir-me e encurralar-me no meu canto sozinha", contou à DW África. Ainda assim, teve sorte: "As pessoas que sabiam aceitaram-me e apoiaram-me." O que não lhe poupou experiências traumatizantes: "Na escola, na aula de educação física, o professor chamava-me nomes pejorativos e cheguei a abandonar. E já passei por violência física, por causa da minha orientação sexual."

A jovem Loy diz que há muitos outros que se fecham devido às humilhações. "Todo aquele que é LGBT [em Nampula] passa por discriminação no dia-a-dia", afirma. "Acho que há muita falta de informação", lamenta, para concluir que os LGTBQ se acabam por conformar.

Neusa Ija, de 24 anos de idade, é transexual. Conhecido por Anly, nasceu em Nacala e vive na cidade de Nampula juntamente com a sua companheira. Assumiu a sua orientação sexual no ano passado. Os pais não aprovam, por motivos religiosos.

LGBT: Quando já não dá para esconder

10:02

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Combate aos preconceitos

"Nenhum pai está preparado para ter um filho ou filha lésbica ou gay, porque eles já têm planos de que os nossos filhos vão nos dar netos", diz compreensivo. "Mas o que me deixa saudável é saber que há pessoas que respeitam essa orientação, isso é que me dá força para seguir em frente", afirma Anly.

Neste momento, Anly tem um único desejo: "Ser respeitado e aceite na comunidade em geral", e que as pessoas entendam a homossexualidade como algo normal.

O coordenador provincial da organização defensora dos direitos das minorias sexuais, LAMBDA, Orlando Cobre, conhecido por Sizney, diz que o trabalho que a associação tem vindo a vindo a desenvolver junto das comunidades já surtiu efeitos positivos.

"Temos realizado capacitações e educação para a sociedade civil, e também para algumas instituições do Governo, principalmente aquelas que servem a nossa comunidade", que precisam saber lidar com os desafios que as minorias sexuais enfrentam, diz.

O coordenador da LAMBDA em Nampula, Orlando Cobre, espanta-se que o Governo se recuse a legalizar a associaçãoFoto: Sitói Lutxeque/DW

Pouca ajuda do Governo

Ainda assim, o Governo de Moçambique parece pouco interessado em ajudar a impor os direitos da comunidade LGBTQ.

A LAMBDA foi criada a 13 de outubro de 2006, mas, até ao momento, as autoridades governamentais moçambicanas não aceitam oficializar a organização, diferentemente de várias outras.

Algo que Sizney lamenta: "As autoridades governamentais precisam respeitar os direitos das pessoas, porque esses direitos não são só de Moçambique, mas são universais. Acho que o não registo da LAMBDA eu acho é anti direitos humanos e a LAMBDA tem pagado todas as contribuições que todas as instituições fazem."