Moçambique: Médicos em greve insatisfeitos com negociações
13 de julho de 2023Na quarta-feira (12.07), a Associação Médica de Moçambique fez o balanço da greve dos médicos em curso há quatro dias.
"Ontem tivemos cerca de 70% de adesão, e hoje tivemos um bocadinho mais, cerca de 75% de adesão da classe médica ao nível nacional", disse o secretário da organização, Henriques Napoleão Viola, em conferência de imprensa.
Viola voltou a salientar que os médicos estão abertos a negociações com o Governo para a suspensão da greve. Lamentou, no entanto, a inconstância no elenco da equipa negocial da administração.
Inconstâncias na equipe negocial do Governo
"Isto criou-nos bastantes embaraços, na medida em que esta equipa veio informar-nos que o Governo não irá cumprir com parte daquilo que tínhamos acordado em fevereiro", disse, acrescentando ser "muitíssimo complicado ter negociações que vão para a frente e vão para trás", referiu Viola.
O responsável acrescentou que a sua associação alertou os órgãos do Estado envolvidos na matéria para estas mudanças, não tendo obtido resposta até à data.
O ministro da Saúde, Armindo Tiago, afirmou não constatar qualquer problema nas mudanças:
"O Governo pode, em função das circunstâncias, mudar a equipa negocial. O mais importante é que dentro da equipa negociar, os técnicos não mudam. O que se pretende na negociação é a manutenção da memória institucional", salientou.
Governo promete pagar salários em atraso
O ministro reconheceu que há médicos que não estão a receber os seus salários desde maio passado devido às mudanças na implementação da tabela salarial única.
A implementação da nova tabela salarial na função pública está a ser alvo de forte contestação por parte de várias classes profissionais, com destaque para os médicos, juízes e professores.
Tiago prometeu o pagamento dos salários dos médicos em julho. E mais: "As horas extras que são anteriores a 2020 serão pagas este mês de julho. As horas extras dos anos 2022 e 23 serão pagas a partir de agosto de 2020".
Uma outra queixa dos médicos moçambicanos prende-se com problemas no cálculo dos pagamentos das horas extras. Armindo Tiago esclarece que esta questão poderá não ser resolvido por falta de enquadramento legal: "Já fizemos algumas concessões para os médicos, reconhecendo a sensibilidade e o caráter desse grupo profissional. O Governo não quer agora trazer mais um fator diferencial no cálculo da hora extra".
Acumulação de greves
Esta é a segunda greve dos médicos em menos de um ano. Uma primeira convocada em dezembro foi suspensa para permitir negociações, mas a falta de entendimento com o Governo levou a associação médica a convocar nova paralisação.
Além dos médicos, a Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique também esteve em greve no mês passado em contestação à aplicação da nova tabela salarial, tendo dado um prazo de 60 dias ao Governo para resolver, pelo menos, uma parte das reivindicações dos profissionais.