Os médicos enfrentam um processo-crime por criar uma clínica particular que atendia pacientes com uso de material cirúrgico do Sistema Nacional de Saúde. Autoridades investigam o envolvimento de médicos moçambicanos.
Publicidade
No total, são seis os médicos oriundos da Coreia do Norte afetos ao Hospital Provincial de Pemba, na província de Cabo Delgado, que terão decidido montar uma clínica particular que funcionava ilegalmente. Os profissionais de saúde atendiam pacientes no bairro de Natite, em Pemba, com recurso a material do Sistema Nacional de Saúde de Moçambique.
Médicos norte-coreanos criam clínica clandestina em Pemba
A desativação da clínica clandestina aconteceu graças a denúncias de populares que, ao notar um movimento incomum de pacientes na zona, alertaram a Inspeção Provincial da Saúde. Acompanhados por agentes da polícia, os inspetores invadiram a residência onde funcionava a clínica particular, tendo flagrado doentes em processo de tratamento.
A operaçãorealizada na semana passadaresultou na apreensão de diverso material clínico. "Os medicamentos tal como outros materiais consumíveis saem dos nossos serviços de saúde e isto prejudica bastante o atendimento real dos nossos pacientes no hospital", afirma João Nalumbau, inspetor de saúde em Cabo Delgado.
"Eles como funcionários não estão a trabalhar sós. Acreditamos que existe o envolvimento de outros colegas [nacionais]. Nós vamos continuar para apurar como este material sai do hospital para fora", explica .
Atendimento precário
Na altura em que a clínica foi desmantelada, encontravam-se no local quatro pessoas, nomeadamente, dois doentes e seus respetivos acompanhantes. Em declarações a jornalistas, os pacientes disseram que preferiam aquela clínica, porque a qualidade dos serviços prestados era melhor que no hospital provincial.
Adamo Onofre acompanhou a esposa que sofre de problemas de saúde à clínica. "Já chegamos várias vezes no hospital e não havia resultados. Diziam-nos que essa doença era para levar lá fora [no curandeiro], mas os medicamentos de lá, ela tomava e a doença continuava. Voltamos para o hospital, a situação continuava na mesma. É por isso que nós viemos aqui", conta.
De acordo com a polícia de Cabo Delgado, houve detenções de indivíduos relacionados com o caso. E o respetivo processo-crime já foi encaminhado ao Ministério Público.
"O que podemos garantir é que esta clínica estava montada com todos os aparelhos para atender utentes. Para nós, esta é uma ação criminosa e ilegal, daí que como forma de responsabilização criminal detivemos estes indivíduos, lavramos o auto de denúncia e remetemos ao Ministério Público para outros procedimentos", diz Augusto Guta, porta-voz do Comando Provincial da Polícia.
A reportagem da DW África tentou ouvir os médicos, mas não obteve resposta. Os acusados negaram prestar declarações aos jornalistas.
Quelimane: Familiares de doentes queixam-se das condições de acomodação no Hospital
Familiares vêm acompanhar os pacientes transferidos, na maioria, dos hospitais dos distritos e províncias vizinhas. Acompanhantes dormem no chão, alguns sem cobertores, e sem redes mosquiteiras.
Foto: DW/M. Mueia
Acomodação nos sanitários
As autoridades de saúde adjudicaram, recentemente, as obras para a construção de um muro de vedação à volta dos sanitários públicos do Hospital Central Quelimane. É nestes sanitários, e ao ar livre, que uma parte dos acompanhantes dos pacientes deste Hospital dorme. Usam a água do poço para as necessidades diárias, nomeadamente, para preparar refeições, lavar roupa e tomar banho.
Foto: DW/M. Mueia
Dormir em "Muchungué"
"Muchungué" é o nome dado ao local onde, no Hospital Central de Quelimane, se acomodam os acompanhantes dos pacientes que precisam de internamento. A maioria vem transferida dos hospitais distritais da província da Zambézia. À DW, os acompanhantes explicam que este nome se deve às condições do local: "o modo de vida é comparado ao da região de Muchungué, em Sofala, no tempo do conflito armado".
Foto: DW/M. Mueia
Péssimas condições
À DW, os acompanhantes dos doentes queixam-se da falta de dormitórios, cobertores e redes mosquiteiras. Não há também estendais para a roupa. As roupas que são lavadas são expostas nas matas para secar. Já por muitas vezes, asseveram estas pessoas, houve queixas sobre as condições de sobrevivências no local, mas as autoridades nada fizeram para melhorar a situação.
Foto: DW/M. Mueia
Redes mosquiteiras
Cada acompanhante é responsável por criar as suas condições para dormir. Têm por isso que trazer as suas próprias "esteiras e mantas". A fumaça das fogueiras tem sido uma salvação, pois afugenta os mosquitos, uma vez que também não existem redes mosquiteiras no local.
Foto: DW/M. Mueia
Refeições
As refeições são confecionadas individualmente ou em pequenos grupos de quatro elementos, independentemente, do sexo ou idade, e têm como base as pequenas contribuições de arroz e farinha ou valor monetário. Muitas vezes, o caril é feito com peixe seco, localmente conhecido como "Madjembe", e verduras preparadas em água e sal.
Foto: DW/M. Mueia
Entreajuda
Joaquina Oniva veio da Maganja da Costa, a sul da província da Zambézia. Acompanha a sua neta, que está internada há meses. Joaquina Oniva não tem nada para comer, nem para dormir, tal como a maioria dos acompanhantes. Quando a comida acaba, pede ajuda a outros acompanhantes. Algumas vezes, há gente de boa fé que, ao preparar refeições, conta com mais dois ou três elementos.
Foto: DW/M. Mueia
Falta de segurança e luz
Também Eric Semba se queixa das condições do local. À DW, lembra o sofrimento que tem passado: as noites sem cobertor, sem um dormitório convencional e sem comida. Com ou sem chuva, homens e mulheres dormem, juntos, no local. Muitas mulheres reclamam que são assediadas sexualmente por falta de segurança e iluminação.
Foto: DW/M. Mueia
Esperando a alta médica dos familiares...
Beatriz Lourenco Coambe é mais uma das muitas mulheres que aqui se encontra. Veio há três semanas do distrito de Mocuba, para acompanhar o seu irmão, internado devido a um acidente de viação. Beatriz Coambe explica que gostava de abandonar o local devido ao sofrimento que ali passa. Mas não tem alternativa. Terá que esperar até que o seu irmão tenha alta médica.
Foto: DW/M. Mueia
Situações mais críticas
Não revelando a sua identidade, este jovem veio do distrito de Gorongosa, em Sofala, para acompanhar o seu irmão mais novo. Por semana vai duas vezes à lixeira do Hospital à procura de caixas que sirvam de dormitório. Não tem condições para comprar esteiras ou cobertores. O dinheiro que trazia de casa acabou, por isso, de madrugada, circula pelos bairros vizinhos, onde apanha fruta para vender.
Foto: DW/M. Mueia
Sem garantias de melhorias
Em média, e segundo os dados estatísticos da direção do Hospital Central de Quelimane, cinco a dez acompanhantes procuram abrigo neste local, diariamente. A maioria chega dos distritos de Caia, Maganja da Costa, Mocuba, Inhassunge, Madal, Namacurra, Nicoadala e Pebane. Apesar das reclamações serem frequentes, não há garantias de melhoria das condições a curto prazo.
Foto: DW/M. Mueia
Hospital reconhece situação
O diretor do Hospital Central de Quelimane, Ladino Suade, diz estar preocupado com a situação e lamenta a falta de capacidade para solucionar o problema. No entanto, afirma que à sua instituição compete cuidar dos pacientes e não dos acompanhantes. Na sua opinião, a Direção Provincial de Ação Social da Zambézia deveria intervir.
Foto: DW/M. Mueia
Situação arrasta-se desde 2016
Construído com fundos do Governo e parceiros sul-coreanos, o Hospital Central de Quelimane foi inaugurado a 27 de outubro de 2016. É composto por mais de 100 compartimentos e tem ainda uma clínica privada com serviços e tratamentos mais especializados. Durante a construção deste Hospital, não foi periodizada a construção de salas para os acompanhantes dos pacientes.