O Governo moçambicano comprou 45 viaturas, várias de luxo, para dirigentes estatais. Algumas delas são Mercedes-Benz e Land Cruisers. As críticas não tardaram.
Publicidade
Não faz sentido o Governo comprar mais viaturas luxuosas para dirigentes e antigos governantes em Moçambique, diz Jaime Macuana. O analista político moçambicano critica a atitude do Executivo numa altura em que o país vive uma crise financeira e cumpre medidas de austeridade.
"Num lugar, fala-se em austeridade e [...] a Autoridade Tributária corre atrás de impostos, de tal forma que pode sufocar as empresas em crise. Noutro sítio, diz-se que é preciso comprar Mercedes e outros carros", recrimina Macuana.
"Falta o básico"
O Governo moçambicano anunciou nos últimos dias a aquisição de 45 viaturas, incluindo Toyota Land Cruisers e Mercedes-Benz, num total equivalente a um milhão e seiscentos mil euros. O anúncio sucede a outro, em meados do ano, sobre a compra de 17 viaturas de luxo que custaram ao Estado o equivalente a três milhões e quinhentos mil euros.
O Governo já veio a público explicar que 39 das 45 viaturas foram adquiridas em 2015. Mas, para o analista Jaime Macuana, esta justificação não faz sentido.
"Não se justificam estas compras de Mercedes quando falta o básico", afirma. "Não faz sentido o que está a acontecer em relação a esta compra de bens de luxo numa fase em que o Estado está sem dinheiro."
Carros mais dispendiosos do que carteiras escolares
O secretário permanente do Ministério da Economia e Finanças, Domingos Lambo, diz que o Governo está ciente das dificuldades que o país atravessa, mas "as instituições têm de continuar a funcionar na base daquilo que a legislação estabelece".Questionado sobre a pertinência de adiar a compra das seis viaturas para os antigos altos dirigentes para atender às necessidades básicas da população, Lambo referiu apenas que se trata de uma questão de gestão e cumprimento de "padrões".
Moçambique: Compra de viaturas de Luxo - MP3-Mono
"Estamos preocupados com os gastos", sublinhou. "Mas é claro que não estamos a fazer uma revolução neste país. Nós temos que fazer um esforço de gestão respeitando aquilo que são os padrões e aquilo que a legislação estabelece. É isso que estamos a fazer, conscientes de que temos que poupar."
No Orçamento do Estado deste ano, o Governo comprometeu-se a gastar cerca de 800 mil euros na compra de carteiras escolares, um valor que representa menos de metade do custo total das 45 viaturas.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.