Moçambique: 200 casas vão abrigar deslocados em Nampula
Sitoi Lutxeque (Nampula)
22 de abril de 2021
Arcebispo de Nampula pede ao Governo em Maputo que encontre soluções para o conflito em Cabo Delgado. Igreja anuncia construção de mais de 200 casas para deslocados na província vizinha.
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A igreja católica em Moçambique continua a manifestar preocupação com a intensificação dos ataques terroristas na província de Cabo Delgado, mas também com o conflito político-militar no centro do país, protagonizado pela auto-proclamada Junta Militar da RENAMO, liderada pelo dissidente Mariano Nhongo.
Dom Inácio Saúre, arcebispo de Nampula e vice-presidente da Conferência Episcopal de Moçambique, lançou na passada sexta-feira (16.04) um grito de socorro face às várias questões que assolam o país. Em entrevista à DW, Inácio Saúre reitera a posição dos bispos. "Deploramos qualquer tipo de matanças, desordens e mortes", frisou.
Os ataques terroristas em Cabo Delgado já provocaram a morte de milhares de pessoas e fizeram mais de 700 mil deslocados internos, sendo que grande parte desses cidadãos procurou abrigo na província vizinha de Nampula.
Igreja vai continuar a apoiar deslocados
Dom Inácio Saúre, que também é arcebispo da província eclesiástica do Norte, responsável pelas dioceses de Nampula, Nacala, Pemba, Lichinga e Gurué, esta última na Zambézia, disse que a igreja está e vai continuar a dar o seu apoio aos deslocados internos que procuram abrigo em Nampula.
"O sentimento é de muito sofrimento", descreve. "Falo mesmo como pastor, de coração a sangrar ao ver todos aqueles nossos irmãos completamente desprovidos. Nós, na nossa pobreza, não temos muita possibilidade de dar respostas às diferentes inquietações que eles apresentam", comentou. "Estamos muito empenhados em acolher esses nossos irmãos", lamentou.
O arcebispo de Nampula anunciou, no entanto, a construção e distribuição de mais de 200 casas, de pau a pique e chapa de zinco, no Centro de Acomodação em Corane, distrito de Meconta.
"Estamos a trabalhar com o Governo e com todas as outras organizações que têm projetos lá [em Corane]. Falaram-me também de outra organização que quer construir [outras] 300 casas", contou.
As obras de construção das casas ainda não arrancaram, mas o prelado assegurou que a empreitada estará para breve. Neste momento, decorre o processo de seleção dos primeiros beneficiários. Idosos, famílias em que os seus chefes são crianças e mulheres são prioritários.
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Ameaças a membros da igreja
Dom Luís Lisboa, que até há pouco tempo era bispo da diocese de Pemba, denunciou, muito recentemente, ter sido alvo de ameaças de morte por parte das elites governamentais moçambicanas, algo que está a incomodar a igreja.
"Isso é verdade e preocupante", assevera. "Se foi efetivamente perseguido, isso é deplorável e condenável, não só como [membro da] igreja, mas como qualquer pessoa. Para mim, o seu trabalho é de louvar e [quero] agradecer por tudo aquilo que ele fez e que eu acredito que ele fazia com todo amor pelo seu povo", referiu.
Sobre uma possível propagação do conflito armado na região norte do país, Dom Inácio Saúre diz: "Para mim, como pastor, é muito lamentável que isto continue a alastrar-se assim. Deve encontrar-se maneiras de parar isto o mais cedo possível", aconselhou.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.