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Presidenciais: Manifestos refletem desafios do país?

Silaide Mutemba (Maputo)
8 de setembro de 2024

Analistas têm perspetivas contrastantes sobre o que os candidatos presidenciais propõem para o futuro de Moçambique. Mas, de forma geral, concordam que os manifestos apresentados refletem a situação atual do país.

Eleições gerais em Moçambique | 2024
Daniel Chapo (FRELIMO), Venâncio Mondlane (candidato emergente), Lutero Simango (MDM) e Ossufo Momade (RENAMO) candidatam-se a Presidente de MoçambiqueFoto: Alfredo Zuniga/AFP/Getty Images

Para Mirna Chitsungo o candidato Venâncio Mondlane é o que apresenta o discurso mais alinhado com os anseios dos moçambicanos, especialmente no que tange à despartidarização do Estado. Segundo a ativista, a proposta reflete um anseio crescente da sociedade por uma administração pública desvinculada de partidos políticos, fundamental para a transparência e integridade na gestão pública.

Chitsungo ressalta que essa proposta também é defendida pelo candidato do MDM, Lutero Simango, fortalecendo a visão de um Estado mais independente e democrático.

"Ele vende a ideia de despartidarizar o Estado, reduzir os poderes excessivos que o Presidente da República tem e separar a componente do Presidente da República ser o mesmo Presidente do partido. Já ninguém quer que esta condição prevaleça, até porque é inconstitucional", explica.

No entanto, Mondlane também causou polémica com declarações sobre possíveis ações em caso de fraude eleitoral. Durante um comício na Zambézia, o candidato apelou aos moçambicanos para "apertarem o gatilho" se houver evidências de fraude nas eleições, ameaçando paralisar aeroportos e fechar fronteiras.

"Venâncio Mondlane está a inflamar"

Para Mirna Chitsungo, a retórica de Mondlane é compreensível tendo em conta o contexto de histórico de fraudes eleitorais no país, especialmente nas últimas eleições autárquicas. A ativista enfatiza que cabe aos órgãos eleitorais a responsabilidade de evitar que situações de conflito se concretizem.

Mas o Jornalista Luís Nhanchote alerta: "Acho que Venâncio Mondlane está a inflamar e pode incorrer processos na justiça. Parece-me ser uma falácia emocional de um promíscuo político em Moçambique."

Por seu lado, o analista político Ernesto Júnior considera preocupante as palavras de Mondlane argumentando que o candidato incita à violência.

“Este discurso deve ser tido em conta pelas autoridades porque não se trata apenas de um discurso político de campanha eleitoral. É um discurso que coloca em causa a soberania nacional", argumenta. 

Ligação com o passado da FRELIMO mina credibilidade das promessas de mudança feitas por Daniel Chapo, diz ativistaFoto: Marcelino Mueia/DW

Daniel Chapo e o desafio da credibilidade na luta contra a corrupção

Quanto ao candidato da FRELIMO, Daniel Chapo, Mirna Chitsungo reconhece que aborda questões centrais como o combate à corrupção e a melhoria das condições de saúde, particularmente nas maternidades. Contudo, a ativista destaca uma contradição significativa: Chapo representa um partido que está no poder há quase cinquenta anos, período marcado por acusações de corrupção e má gestão da coisa pública.

Para a ativista, essa ligação direta com o passado do partido mina a credibilidade das promessas de mudança feitas por Chapo e reforça a ideia de continuidade em vez de renovação.

“Se nós temos um país degrado é por causa da corrupção, mas tem a desvantagem de prometer combater este mal estando num partido que, em grande escala, esteve a perpetuar a corrupção”, complementa Chitsungo.

A mesma ideia é partilhada por Luís Nhanchote que defende que há um desgaste em relação aos partidos libertadores em África e Moçambique não é exceção.

“Os partidos libertadores falharam no contrato social com os seus povos e houve um desencanto por parte da sociedade. As pessoas agora estão desencantadas e querem um voto de punição.”

“Momade tem se contentado com a posição do líder do partido da oposição e mantem benesses que não precisa justificar a ninguém", diz jornalistaFoto: Bernardo Jequete/DW

Momade é um "candidato conformado"

Em relação a Ossufo Momade, candidato da RENAMO, Luís Nhanchote considera que é um candidato "conformado".

“Ossufo Momade tem se contentado com a posição do líder do partido da oposição e segundo candidato mais votado. Mantem uma série de benesses que não precisa justificar a ninguém e acho que é o que ele busca nestas eleições. Não tem interesse em governar porque reconhece as suas fragilidades”, diz Nhanchote.

Já Mirna Chitsungo é crítica, afirmando que a RENAMO perdeu tempo com questões triviais ao longo do ano, em vez de se concentrar na formulação de um manifesto robusto e coerente.

“Parece-me que a RENAMO não está interessada em desenvolver-se e nem estar no topo. Já se passam 15 dias desde que a campanha eleitoral iniciou e ainda não vimos nada consistente, apenas discursos dizendo que querem mostrar como se governa. Mais do que mostrar como se governa, que nos digam qual é a agenda de governação.”

Em contraste, Ernesto Júnior apresenta uma visão diferente, defendendo que o manifesto do principal partido da oposição é sólido e que aborda os problemas enfrentados pelos moçambicanos de maneira eficaz. No entanto, aponta que a principal deficiência está na falta de eloquência e habilidade comunicativa de Ossufo Momade.

“Ossufo Momade não se apega ao que está escrito no seu manifesto e vê-se claramente uma falta de domínio no seu manifesto aliado à falta de eloquência no seu discurso”, conclui.

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