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Autarca de Quelimane admite concorrer à liderança da Renamo

Lusa
22 de junho de 2022

Edil de Quelimane admite candidatar-se à liderança do maior partido da oposição moçambicana a tempo de disputar as eleições presidenciais de 2024 e defende que o partido deve ser muito mais atuante.

Mosambik Quelimane Manuel de Araújo
Foto: DW/M. Mueia

O presidente da câmara municipal de Quelimane, em Moçambique, admitiu, esta quarta-feira (22.06), candidatar-se à liderança da RENAMO a tempo de disputar as eleições presidenciais de 2024, defendendo que o partido deve ser muito mais atuante.

"Eu não me vejo como presidente da RENAMO, mas se houver vontade que assim seja, bom... quando a pátria nos chama nós nunca devemos dizer não", disse Manuel de Araújo, em entrevista à Lusa, quando questionado sobre se se vê como líder da RENAMO.

"Se o desafio for esse, acho que a decisão, na devida altura, vai ser tomada, mas para já estou concentrado no município de Quelimane", acrescentou o autarca, depois de ter feito diversas críticas à falta de rumo do Governo e à apatia da oposição.

Em entrevista à Lusa, o autarca voltou a defender que "a oposição deve organizar-se e traçar estratégias para poder diariamente mostrar as falhas do sistema de governação, mas isso não é suficiente, é preciso apresentar ideias alternativas", vincando que "é aí que a oposição não tem sido muito atuante, deixa muito a desejar, e Moçambique precisa de uma oposição muito mais atuante" do que a que existe atualmente.

Na entrevista à Lusa em Carcavelos, nos arredores de Lisboa, à margem da participação na Conferência NOVAFRICA 2022 sobre Desenvolvimento Económico, Manuel de Araújo disse que "a oposição já devia ter começado a reorganizar-se há três anos" e lamentou: "Já se perderam três anos".

País "está no alto mar sem piloto"

Para o autarca, o país assemelha-se a um barco à deriva no alto mar, em tempo de tempestade, e com um comandante que não sabe como lidar com a situação.

Moçambique realiza no próximo ano, em outubro, eleições municipais, e em 2024 eleições presidenciaisFoto: Getty Images/AFP/G. Guercia

"Moçambique está no mar alto, em tempo de ciclone, e infelizmente o nosso chefe de Estado, que é o piloto desse barco, parece ter perdido a bússola, não sabe para onde o barco vai; quer salvar o barco, não lhe falta vontade, mas não sabe para onde ir; precisamos de uma governação alternativa, a FRELIMO esgotou-se, está há quase 50 anos no poder, já não consegue renovar-se a si própria, são escândalos atrás de escândalos, o projeto de governação chegou ao fim, bateu na rocha", argumentou.

Entre os "escândalos" elencados, Manuel de Araújo destacou a distribuição de livros "com seis meses de atraso e com erros graves; e o setor dos transportes: "o transporte de cabotagem não existe, as linhas aéreas estão falidas, a estrada nacional está tão esburacada que não se consegue andar... assim como está só iremos afundar-nos cada vez mais", disse.

Na mesma ocasião, Manuel de Araújo disse ainda que a primeira pandemia que Moçambique enfrentou foi o escândalo das dívidas ocultas, cujos efeitos vão sentir-se por "mais dois ou três anos". 

"Os parceiros ainda têm algumas dificuldades em conceber parcerias a médio e pequeno nível, ao contrário das grandes multinacionais do gás e dos minérios, que não se importam com a imagem do país, aliás as grandes multinacionais nunca pararam de investir na Nigéria e na África do Sul mesmo no tempo do 'apartheid' [segregação racial], mas as pequenas e médias empresas são muito sensíveis e nós, no poder local, enfrentamos muitas dificuldades e sentimos o impacto das dívidas ocultas porque os parceiros da cooperação deixaram de apoiar o orçamento", referiu. 

Moçambique realiza no próximo ano, em outubro, eleições municipais, e em 2024 terá cinco eleições para eleger os administradores dos distritos, os governadores das províncias, as assembleias provinciais, a assembleia da república e o Presidente da República.

No início de maio, o porta-voz da Renamo, José Manteigas, acusou Manuel de Araújo de "mentiras e calúnias", depois de o autarca de Quelimane ter acusado membros da comissão política de o pressionarem para canalizar dinheiro da autarquia para o partido.

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