Moçambique: Manuel de Araújo denuncia ameaças de morte
Sitoi Lutxeque (Nampula)
12 de julho de 2019
Edil de Quelimane diz ser alvo de intimidações desde o ano passado, mas afirma que as ameaças aumentaram desde que foi eleito candidato a governador pela RENAMO na província da Zambézia.
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Manuel de Araújo diz estar a sofrer ameaças de morte por indivíduos desconhecidos. O edil de Quelimane, na província da Zambézia, centro de Moçambique, fez saber que as intimidações acontecem desde maio de 2018, mas aumentaram recentemente, depois de ser eleito cabeça-de-lista pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) a governador da província da Zambézia.
Segundo o autarca, até então os indivíduos desencorajavam-no a candidatar-se, mas as ameaças subiram de tom e agora querem que abandone a ideia de prosseguir no desafio. ‘‘Nós recebemos duas cartas: a primeira foi no dia 8 de maio de 2018, que dizia que não devia concorrer à posição de cabeça-de-lista da RENAMO na província da Zambézia”, explica.
"A segunda carta foi na quarta-feira (10.07) e foi distribuída em vários mercados da cidade de Quelimane, dizendo que já me tinham avisado de que não devia concorrer, mas que agora tenho de tomar cuidado porque ou morremos nós [os autores da missiva] ou morre o senhor. Portanto, uma clara a minha integridade física"’, conclui.
Caso nas mãos das autoridades
Mesmo sem mostrar provas, Manuel de Araújo suspeita que as ameaças venham de "esquadrões da morte", grupos de indivíduos que pretendem silenciar as vozes críticas ao regime. Araújo promete perseguir os autores das ameaças até onde for possível, até porque o caso já está nas mãos das autoridades: "‘Os meus assessores jurídicos estão a tomar conta deste assunto. Neste momento, não vou avançar quais são os caminhos que nós já tomámos para que atitudes como estas jamais voltem a acontecer no nosso país"’, afirmou.
Moçambique: Manuel de Araújo denuncia ameaças de morte
O cabeça-de-lista da RENAMO esteve esta semana na cidade de Nampula, uma outra autarquia governada pelo seu partido. À DW África, garantiu não ter nada a temer: "Refugiar-me? Nunca! Jamais me refugiarei! Vim cá para visitar o vice-presidente da Assembleia Municipal da Vila de Alto Molocué, que foi violentado e espancado e a quem partiram as pernas".
"O senhor Txetxema está aqui no Hospital Central de Nampula em tratamento, e eu saí de Quelimane para prestar a minha solidariedade, mas também para dar a minha ajuda naquilo em que puder ser útil", disse Araújo.
Perante as ameaças, o cabeça-de-lista do principal partido da oposição em Moçambique, na província da Zambézia, diz que não vai ceder: "‘Nunca verguei na minha vida e quanto mais cartas eu receber, mais firme me torno".
Manuel de Araújo não é o primeiro edil da RENAMO a ser ameaçado de morte. Ainda neste ano, Paulo Vahanle, autarca de Nampula, do mesmo partido, já foi também vítima de ameaças de mortes por desconhecidos.
Moçambique: A polémica exploração de areias pesadas na Zambézia
A exploração de areias pesadas em Inhassunge, na província da Zambézia, continua a gerar polémica. Residentes não querem deixar as suas terras, mas muitos cedem à pressão do Governo e da empresa responsável.
Foto: DW/M. Mueia
Concessionária chinesa
A Africa Great Wall Meaning Company Development, uma empresa de capitais chineses, é a concessionária na prospeção e exploração das areias pesadas na província da Zambézia desde 2014. Segundo o Governo local, a Africa Great Wall atua nos distritos de Inhassunge e Chinde, onde detém propriedades de uso e aproveitamento da terra.
Foto: DW/M. Mueia
Moradores têm que deixar suas terras
A presença da empresa chinesa é polémica. Depois de confrontos violentos com a polícia, que resultaram na morte de pelo menos 4 pessoas em julho de 2018, a população de Inhassunge, que basicamente vive da agricultura, diz que aceita por imposição abrir mão das suas terras para a exploração das areias pesadas.
Foto: DW/M. Mueia
Terras rejeitadas
No entanto, o plano de reassentar as famílias abrangidas pelo projeto de exploração de areias pesadas fracassou. A população recusa-se a mudar para o novo espaço porque, segundo os moradores, as terras são áridas e não servem para a produção de qualquer alimento. Alé disso, não há no local condições para desenvolver a pesca, tal como existem nas suas zonas de origem.
Foto: DW/M. Mueia
"Recuso-me a ceder o meu espaço"
Albrinho Veloso vive na ilha de Mualane e não vê com bons olhos o projeto de exploração das areias pesadas pelos chineses: "Recuso-me a ceder o meu espaço. Há um ditado popular, na língua local, que diz que 'o futuro não é confiável', por isso, quero continuar a viver na minha terra com as condições favoráveis para a minha sobrevivência".
Foto: DW/M. Mueia
Sem energia elétrica
Há um ano, o Governo da Zambézia estendeu uma linha elétrica que parte de Quelimane, capital provincial, para a região de Inhassunge. Porém, a linha de média tensão ainda não cobre todos os lugares, como, por exemplo, as áreas onde estão a ser feitas as explorações de areias pesadas. Mais um problema que os habitantes põem em cima da mesa.
Foto: DW/M. Mueia
Acesso às ilhas
A vida nas ilhas daquela região não é fácil. Para chegar à Olinda e Mualane, em Inhassunge, onde as areias pesadas são exploradas, a principal portagem está ao lado de Quelimane, capital da Zambézia. Os bilhetes são vendidos por agentes da polícia marítima e alguns operadores privados que têm pequenas embarcações a motor. A viagem pode custar até 300 meticais (pouco mais de 4 euros).
Foto: DW/M. Mueia
Barcos de carga
As canoas a remo são os primeiros e únicos meios de transporte de mercadoria e carga para as ilhas. Os produtos de primeira necessidade para a população das ilhas em Inhassunge são adquiridos em Quelimane e transportados pelas canoas por jovens naturais do distrito. A viagem demora de 8 a 10 horas no mar.
Foto: DW/M. Mueia
Transporte de passageiros
Além do transporte de mercadorias, as canoas também são usadas para transportar passageiros. O custo deste transporte ronda entre 10 a 30 meticais (entre 0,10 e 0,40 cêntimos de euro). Além disso, há também serviços de aluguer diário de canoas, cujo preço é mais caro.