Domingos de Albuquerque foi, esta segunda-feira (21.01), empossado como presidente do município de Quelimane. Apoiado por dezenas de membros da RENAMO, Manuel de Araújo afirmou entregar a pasta de "livre vontade".
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Apesar de não concordar com a decisão, Manuel de Araújo passou, esta segunda-feira (21.01), a pasta da edilidade de Quelimane ao presidente da assembleia Municipal Domingos de Albuquerque. A cerimónia de transmissão de poderes foi presidida pelo secretário permanente da província da Zambézia, Júlio Mendes.
"Este ato decorre do acórdão 86/2018, de 21 de dezembro do Tribunal Administrativo, que não deu provimento ao recurso interposto àquela instância por ter concluído não haver fundamento legal para tal. Importa referir que o presidente do município de Quelimane, que hoje recebe os serviços do Conselho Municipal, deverá assegurar a gestão corrente dos serviços municipais até ao final do presente mandato, que termina a 7 de fevereiro", disse.
Domingos de Albuquerque assume, assim, as funções de edil de Quelimane, a partir desta segunda-feira (21.01), no entanto, por um período de apenas 15 dias.
Moçambique: Manuel de Araújo passa pasta da edilidade de Quelimane
Recorde-se que o Conselho de Ministros decretou a perda do cargo de presidente do município de Quelimane por parte de Manuel de Araújo, após o autarca ter decidido concorrer pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, a um novo mandato na liderança da cidade, quando ainda cumpria as mesmas funções para às quais concorreu e foi eleito pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
Esta segunda-feira (21.01), no juramento de tomada de posse, Domingos de Albuquerque disse que irá exercer a função com muita dedicação. "Juro solenemente respeitar e servir fielmente o município da cidade de Quelimane, dedicar todas as minhas energias aos munícipes, respeitar a Constituição da República e demais leis no cargo que me é atribuído", afirmou.
"Fazer valer a justiça", diz Araújo
Por sua vez, Manuel de Araújo, que disse que estava a entregar a pasta por livre vontade, jurou fazer "valer a justiça".
"Quero agradecer aos munícipes da cidade de Quelimane pelo apoio durante estes sete anos. Agradeço aos vereadores que, desde 2011, estiveram incansavelmente a trabalhar 24 horas e quero desejar ao colega que me substitui interinamente um bom trabalho", disse Manuel de Araújo, acrescentando que "o fundamental é o bem estar dos munícipes. De resto, a justiça será feita brevemente e a história nos absolverá".
Quelimane: Manifestação de apoio a Manuel de Araújo
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Rijone Bombino marcou presença na cerimónia como representante da FRELIMO. À DW disse que, com a tomada de posse de Albuquerque, os membros da assembleia já "respiram ar puro". E lembra: "passámos cinco anos de mandato a sermos insultados e injuriados [por Manuel de Araújo] e sem desempenharmos o papel de desenvolvimento da autarquia. O nosso edil só estava preocupado com a sua vida pessoal, razão pela qual hoje está a sair fora", afirmou.
Também presente na cerimónia esteve Listano Evaristo, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), partido do qual Araújo fazia parte. "Lamentamos, pois 15 dias não é o suficiente para trabalhar. Penso que o governo demorou na tomada de decisão, que já devia ter acontecido no dia 28 de agosto", afirmou.
Antes da cerimónia de tomada posse do novo edil, dezenas de polícias da República de Moçambique cercaram o edifício do Conselho Municipal para evitar tumultos, uma vez que centenas de simpatizantes da RENAMO deslocaram-se ao local para apoiar Manuel de Araújo. No final, transportaram às costas o agora ex-edil da cidade num cortejo que circulou pelas principais ruas de Quelimane.
Quelimane: Os mecânicos da capital do ciclismo de Moçambique
A bicicleta é o meio de transporte de eleição em Quelimane, capital da província da Zambézia. No centro, multiplicam-se oficinas e mecânicos prontos para prestar os seus serviços quando há uma avaria.
Foto: DW/M. Mueia
Modelos para todos os gostos
Na capital do ciclismo há dezenas de lojas, a maioria de cidadãos chineses, indianos e nigerianos, dedicadas à venda de bicicletas novas e usadas. Em cada um dos estabelecimentos, há no mínimo 500 veículos de todos os feitios e para todas as idades. O preço de uma bicicleta em segunda mão varia entre os 5 mil e os 10 mil meticais, cerca de 140 euros. Os estudantes são os principais compradores.
Foto: DW/M. Mueia
Estratégia de mercado
As oficinas do Mercado Central foram instaladas em locais estratégicos, como o próprio recinto do mercado e a avenida 25 de Junho. É aqui que muitos clientes procuram os serviços de reparação. Os preços variam em função do trabalho: reparar uma roda de bicicleta, por exemplo, pode custar 70 meticais - cerca de um euro. A manutenção completa de uma bicicleta nova ronda os 300 meticais.
Foto: DW/M. Mueia
Carga horária pesada
Muitos mecânicos têm de caminhar entre 10 a 15 quilómetros da zona de residência até ao mercado, onde se encontram as oficinas. O horário de trabalho não é fácil: as oficinas abrem de madrugada, entre as 4h00 e as 4h30, e fecham por volta das 17h30. Enquanto alguns regressam finalmente a casa, após um longo dia de trabalho, outros frequentam as aulas do regime noturno.
Foto: DW/M. Mueia
De bicicletas a motas
Fora do mercado central da cidade de Quelimane também há muitas oficinas. Muitos mecânicos oferecem serviço duplo: reparam não só bicicletas, mas também motorizadas. O arranjo de motas é mais rentável, duma vez que se trata de uma "máquina" mais complexa que uma bicicleta.
Foto: DW/M. Mueia
Clientes satisfeitos
Aiena Azevedo é uma das clientes assíduas destas oficinas. Hoje, traz novos pneus para substituir as rodas da sua motorizada. Nunca teve queixas sobre a qualidade dos serviços prestados pelos mecânicos no mercado central de Quelimane. Não se importa de pagar mais pela confiança: nunca deixaria a sua mota nas mãos de mecânicos fora do mercado.
Foto: DW/M. Mueia
Negócio gera negócio
A poucos metros das oficinas, há todo o tipo de peças para bicicletas e motorizadas à disposição de mecânicos e clientes. Em caso de danos maiores nos veículos, é preciso substituir várias componentes e o preço do arranjo aumenta.
Foto: DW/M. Mueia
Aprender o ofício
Todos os dias, as oficinas de Quelimane recebem novos aprendizes de mecânico de bicicletas. É o caso de Lucas Alilo Luís (à direita) que há seis meses trabalha com o mestre Fernando Mariano (à esquerda), os dois naturais de Inhassunge e residentes em Icidhua. Lucas não concluiu a 10ª classe por falta de condições e decidiu juntar-se aos mecânicos do centro.
Foto: DW/M. Mueia
Mecânicos a mais
O mecânico Lucas Casimiro, de 21 anos, do bairro Icidhua, queixa-se da falta de clientes. Diz que não há movimento devido ao excesso de mecânicos de bicicletas na cidade. A ausência de preços fixos também é um problema, na opinião de Lucas Casimiro: cada trabalhador estipula o seu valor e os clientes vão aos mecânicos de baixo custo.
Foto: DW/M. Mueia
Da agronomia à reparação de bicicletas
Em Quelimane, há quem tenha abandonado a sua profissão para se dedicar a este trabalho. Lerio Carlos, de 22 anos, formou-se em Agronomia. Há um ano, decidiu juntar-se aos mecânicos de bicicletas, por falta de emprego na sua área. Afirma que já está adaptado à nova realidade e que gosta do trabalho. Ganha cerca de 200 meticais (cerca de 3 euros) por dia.
Foto: DW/M. Mueia
Pagamento? Só no final!
É uma regra cumprida por todos nas oficinas: clientes e patrões concordam que o pagamento só se faz depois da conclusão do trabalho. Desta forma, evitam-se eventuais falhas na concertação da bicicleta.
Foto: DW/M. Mueia
Fruta para o almoço
Pelas oficinas, a alimentação não é a ideal. Baixon Casquero é um dos mecânicos de renome em Quelimane. Tal como muitos colegas, não tem tempo para ir a casa à hora do almoço. Ao meio-dia, faz uma pausa no arranjo de bicicletas e come duas mangas cozidas. Para variar, nalguns dias compra bolinhos. Nos dias em que ganha mais dinheiro, compra uma refeição preparada numa das barracas do mercado.
Foto: DW/M. Mueia
Profissionais realizados
Muitos mecânicos são jovens e chefes de família. À DW Àfrica, dizem sentir-se bem a exercer esta atividade. Ganham o suficiente para pagar as contas em casa, alimentar a família e comprar material para que os filhos possam ir à escola.