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Moçambique: marcha pacífica de apoio à paz

Vanessa Raminhos20 de junho de 2016

"Pelo direito à esperança" é o mote da marcha pacífica que se encontra no dia 18 de junho, em Maputo. Paz, liberdade de expressão e esclarecimento da dívida pública é o que exigem os manifestantes.

A marcha tem início junto à estátua de Eduardo Mondlane e termina na Praça da IndependênciaFoto: Ismael Miquidade

São, pelo menos, 11 as organizações que se juntam no centro de Maputo, às 7h 30m deste sábado (18.06), para alertar para os problemas que têm vindo a afetar os moçambicanos.

“O nosso objetivo é chamar toda a sociedade para partilhar connosco este momento que o país está a atravessar”, afirma Bayano Valy, da rede HOPEM – Homens pela Mudança. “Moçambique está a viver um conflito político-militar, de baixa intensidade, de há uns três anos a este parte; temos um país onde temos divídas públicas escondidas; temos casos de perseguições a associações de direitos humanos.”

Apesar de estas serem as principais questões que levam estas organizações a sair à rua, Valy ressalva também “a questão das valas comuns no centro do país, que ainda não foram clarificadas, raptos, que continuam a apoquentar os cidadãos, sobretudo os cidadãos de ascendência asiática. Há uma série de problemas que afligem os moçambicanos”.

Para o membro da rede HOPEM, esta marcha não significa que as organizações têm a fórmula mágica para a resolução destes problemas, mas que podem contribuir com soluções. “É necessário um debate inclusivo, para que possamos encontrar as soluções”, afirma Bayano Valy.

Uma opinião partilhada por Nzira de Deus, do Fórum Mulher. "Estaremos a marchar mulheres, homens, crianças, estudantes, académicos, todos, amanhã, com vista a reivindicar todo o nosso espaço como cidadão e de acesso à nossa cidadania e dizer que Moçambique não pode estar refém de indivíduos que tomaram decisões contra a vontade do povo, sem consultar o povo", afirma.

Em março do ano pasado, o constitucionalista Gilles Cistac foi assasinadoFoto: A Verdade

“É necessário parar com a intimidação”

Nzira de Deus recorda que “esta marcha foi convocada depois de duas tentativas de se realizar uma ação pública, em que o povo moçambicano reivindica paz, pede também a explicação sobre a situação da dívida pública e pedir também que deixem que o povo se expresse livremente em Moçambique”.

A coordenadora do Fórum Mulher relembra que, nos últimos meses, a liberdade de expressão dos moçambicanos tem sido bastante limitada, através de ameaças e pressões e, por isso, esse é também um dos motivos que os leva a sair à rua.

"Em primeiro lugar, é preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados, não pode haver baleamento com recado, não pode haver chamadas anónimas a pedir cuidado com as palavras”, afirma Nzira.

Apesar dos vários crimes que têm vindo a abalar Moçambique, como o assassinato de Gilles Cistac ou o rapto e baleamento do analista político José Jaime Macuane, nunca foram encontrados os responsáveis.

“[É preciso] procurar os culpados, quem comete estes crimes”, afirma Nzira de Deus. “Os crimes estão a acontecer, mas nunca aparecem os mentores, nunca aparecem os culpados ou quem está a levar a cabo estas ações. A justiça não nos mostra, nunca julgou nenhum dos casos que já aconteceram aqui.”

Para Nzira, isto “está a tornar-se numa coisa normal e nós não queremos que isto seja normal. Não podemos viver com medo nem acorrentados, com medo de nos expressarmos e dizer o que pensamos”.

Para Cheila Virgílio, do Centro de Estudos Moçambicanos (CEMO), estes ataques são motivados por uma “guerra civil não declarada, entre o Governo da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e o partido RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana)”.

A directora-executiva do CEMO recorda o caso recente da descoberta de valas comuns no centro de Moçambique, cuja existência “é negada pelo próprio Governo”.

Recentemente, foram descobertas várias valas comuns no centro de MoçambiqueFoto: A. Sebastião

“Toda a gente que é mandada para lá [zona onde foram encontradas as valas comuns] dificilmente tem tido informação acerca do seu autor”, afirma Cheila Virgílio, que considera “um bocadinho difícil não pensar na possibilidade de que aqueles corpos que foram encontrados lá, mortos, sejam destes militares, desses jovens que foram mandados para uma guerra que eles não sabem [que existe] e que estão simplesmente a pagar por uma coisa que eles não sabem”.

Com esta manifestação, Cheila Virgílio espera que “a Assembleia da República tome medidas adequadas para repor a normalidade constitucional”, depois do caso das dívidas públicas, contraídas em nome do anterior Governo sem o conhecimento e a aprovação da Assembleia da República, para satisfazer interesses privados, responsabilizando quem contraiu essas dívidas.

No entanto, não deixa de lado a questão dos raptos e assassinatos que têm vindo a abalar o país. “[Também] queremos que a Procuradoria-Geral realize investigações, com vista a averiguar ou a ter mais informações acerca dos assassinatos e execuções políticas, de forma a desmascarar aqueles que gerem a máquina de morte e violência", afirma Cheila Virgílio.

É necessário acabar com o conflito

Para Nzira de Deus, o conflito político-militar em Moçambique agrava ainda mais a situação do país. A coordenadora do Fórum Mulher defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa”.

“Porque é que não se cessam as hostilidades na zona centro?”, questiona Nzira de Deus. “Ninguém sabe porque é que isto está a acontecer. Precisamos de ter um esclarecimento mais objetivo, porque é que se está a lutar e o que é que cada parte está a exigir e que se encontre um consenso imediatamente e que se cessem os ataques às pessoas, aos carros na zona centro.”

Cheila Virgílio considera que o único avanço do conflito político-militar é apenas ao nível dos “impactos negativos, tanto para a economia nacional, como as vidas humanas”.

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Tendo em conta a “repressão bélica das últimas marcas”, Nzira de Deus considera que "as pessoas têm medo de sair à rua, com medo de serem atacadas ou baleadas”. Mas deixa um apelo: “Esperamos que as pessoas consigam ir à rua, saiam do medo e acreditem que só estando na rua vamos ultrapassar os problemas que temos vindo a passar."

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