O Conselho Constitucional moçambicano proclamou os resultados das autárquicas em todos os municípios, à excepção de Marromeu, onde a FRELIMO tinha vencido. Resultados foram anulados devido a irregularidades.
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Os resultados das eleições autárquicas de 10 de outubro, validados e proclamados esta quarta-feira (14.11) pelo Conselho Constitucional, dão vitória à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) em 43 dos 53 municípios. A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) venceu em oito autarquias, enquanto o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) ganhou num município.
O anúncio da decisão foi feito numa cerimónia pública pelo presidente do Conselho Constitucional. Hermenegildo Gamito disse que o órgão decidiu ainda anular o resultado das eleições em várias mesas de voto na vila de Marromeu, devido a irregularidades registadas no processo de votação.
Nestas eleições, o Conselho Constitucional rejeitou quase todos os recursos apresentados pelos partidos na fase de candidaturas, votação e apuramento dos resultados pelos órgãos eleitorais.
"Quase todos os recursos de contencioso eleitoral interpostos junto dos tribunais de distrito ou de cidade foram indeferidos por falta de observância do princípio da impugnação prévia e por intempestividade, pois é dever dos tribunais assim como do Conselho Constitucional vergarem-se perante o império da lei", explicou Hermenegildo Gamito.
O Conselho Constitucional admitiu, igualmente, a existência de alguns problemas que impõem a necessidade urgente de se caminhar para uma melhor sistematização e uniformização da legislação eleitoral no seu conjunto através de um código eleitoral.
O órgão também repudia e desencoraja, por outro lado, os atos de intimidação registados durante o processo eleitoral contra alguns jornalistas. "Não fica sem reparo o facto reportado pela comunicação social e observadores, a demora dos órgãos eleitorais da divulgação dos resultados eleitorais nas autarquias onde a oposição registou vantagem na recontagem de votos", disse ainda Gamito.
FRELIMO satisfeita, oposição reclama
Os três principais partidos políticos divergiram na reacção ao acórdão do Conselho Constitucional. Sérgio Pantie, membro sénior da FRELIMO, mostrou-se satisfeito com os resultados. "Nós concorremos em 53 municípios e ganhamos em 43", lembrou.
Já André Majibire, mandatário da RENAMO, não escondeu a sua insatisfação: "Lamentamos estes resultados que foram aqui divulgados, porque na verdade não correspondem àquilo que foi todo o processo."
O MDM, apesar de não estar completamente satisfeito, regozija-se por ter conseguido eleger nas 52 autarquias 84 membros. "O Movimento Democrático de Moçambique é um partido que está estendido à escala nacional, por isso estamos satisfeitos", disse José de Sousa.
Vila de Marromeu vai repetir eleições autárquicas
Repetição em Marromeu
Quanto à invalidação dos resultados da votação em Marromeu, Sérgio Pantie, da FRELIMO, disse que, apesar dos dados do seu partido apontarem para uma vitória naquela autarquia, é preciso cumprir a decisão dos órgãos. "No caso do Conselho Constitucional, foram invocadas as suas razões e nós vamos naturalmente preparar-nos, caso sejam realizadas novas eleições, para voltarmos a participar no escrutínio e vencer", declarou.
Já André Majibiri, da RENAMO, é de opinião que o Conselho Constitucional devia ter feito mais, analisando as várias irregularidades denunciadas pelo seu partido em seis municípios, apesar da não apresentação da impugnação prévia dos ilícitos eleitorais. "Como é que alguém poderia ter possibilidade de apresentar esta mesma impugnação prévia na mesa, se na mesa havia tumultos e pessoas que estavam a ser escorraçadas?", questiona.
José de Sousa, do MDM, defendeu uma revisão da legislação no que se refere à questão da impugnação prévia, considerando-a inconstitucional e sublinhando que os partidos acabam sendo preteridos, só porque o presidente da Assembleia da Mesa não aceitou a reclamação do partido político.
José de Sousa manifestou o apoio do MDM à repetição da eleição em Marromeu, tendo em conta que foram consideradas "irregularidades gravíssimas" que tiveram influência no resultado final, mas observou que "o que aconteceu em Marromeu também aconteceu um pouco em algumas autarquias."
Autárquicas: Quem venceu nas principais cidades de Moçambique
Os resultados eleitorais das eleições autárquicas moçambicanas dão a vitória ao partido no poder em 44 municípios. A RENAMO, a principal força da oposição, venceu em sete autarquias. O MDM conquistou apenas a Beira.
Foto: DW/S. Lutxeque
Eneas Comiche, edil da capital entre 2004 e 2008, venceu em Maputo
Segundo o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e a Comissão Nacional de Eleições (CNE), a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) saiu como grande vencedora em Maputo com 56,95% dos votos, contra os 36,43% da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi a terceira força política mais votada com 5,13%.
Foto: DW/R. da Silva
Com margem estreita, Calisto Cossa conquista segundo mandato na Matola
No município da Matola, a FRELIMO foi considerada vencedora com 48,05% dos votos, contra os 47,28% da RENAMO, uma diferença inferior a um ponto percentual. A vitória da FRELIMO foi, no entanto, contestada pela oposição. Membros da Comissão Distrital de Eleições disseram mesmo que houve fraude eleitoral.
Foto: DW/Leonel Matias
Emídio Xavier, da FRELIMO, eleito pelo município de Xai-Xai
Na província de Gaza, concretamente na cidade de Xai-Xai, a FRELIMO venceu com 81,21% dos votos contra apenas 12,36% da RENAMO. Em 134 mesas, Xai-Xai registou 53,90% de votos válidos e uma abstenção de 43,86%.
Foto: DW/C. Matsinhe
Benedito Guimino, da FRELIMO, reeleito em Inhambane
Na cidade de Inhambane, capital provincial, a FRELIMO arrasou com 79,50% contra os 15,55% da RENAMO. Sobraram apenas 4,95% para o MDM. Inhambane contou com 65 mesas de voto e uma abstenção de 35,14%.
Foto: DW/L. da Conceição
Daviz Simango, líder do MDM, mantém-se na Beira
Na cidade da Beira, província de Sofala, o MDM conseguiu a única vitória neste sufrágio. A terceira força parlamentar arrecadou 45,77% dos votos. Em segundo lugar, ficou a FRELIMO com 29,26%. Em terceiro, surge a RENAMO com 24,57%. Neste município registou-se uma abstenção de 36,65%.
Foto: DW/A. Sebastiao
João Ferreira foi aposta da FRELIMO na cidade de Chimoio
Em Chimoio, província de Manica, a FRELIMO obteve maioria absoluta com 52,51% da votação. A RENAMO garantiu 44,51% dos votos válidos. Nesta cidade do centro do país havia 220 mesas e, curiosamente, não foram contabilizados quaisquer votos nulos ou brancos.
Foto: DW/M. Muéia
Manuel de Araújo reeleito em Quelimane - desta vez pela RENAMO
Na província da Zambézia, cidade de Quelimane, a RENAMO venceu com 59,17% da votação contra os 36,09% arrecados pelo partido no poder, a FRELIMO. Quelimane com 168 mesas de votos registou uma taxa de abstenção de 34,72%. Do total de votos, 61,39% foram considerados válidos.
Foto: picture-alliance/dpa
César de Carvalho volta à edilidade de Tete, que liderou entre 2004 e 2013
Na província de Tete, na cidade com o mesmo nome, a FRELIMO levou a melhor com 54,49% contra os 43,02% da RENAMO, num universo de 57,04% votos considerados válidos. Nesta província do Centro Norte de Moçambique havia 184 mesas de voto.
Foto: DW/A.Zacarias
RENAMO vence em Nampula com atual edil Paulo Vahanle
Em Nampula, a RENAMO obteve mais votos do que o partido no poder. 59,42% dos munícipes votaram no principal partido da oposição, contra os 32,20% que votaram na FRELIMO. O MDM surge em terceiro com 6,23%. Nesta cidade contabilizaram-se 196.230 votos válidos, o que corresponde a 57,30% do total da votação. Em Nampula havia 456 mesas de voto.
Foto: DW/S. Lutxeque
FRELIMO vence no município de Lichinga
Na cidade de Lichinga, na província do Niassa, a FRELIMO ganhou com 51,93% contra os 45,19% da RENAMO. O MDM garantiu o terceiro posto com apenas 2,88%. A abstenção situou-se nos 41,91%.
Foto: DW/M. David
Em Pemba, venceu Florete Simba Motarua da FRELIMO
Na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado, a vitória foi alcançada pela FRELIMO que arrecadou 54,21% dos votos. A RENAMO não foi além dos 39,01%. Pemba com 134 mesas de votos contabilizou 56,23% de votos válidos. A taxa de abstenção nesta cidade nortenha foi de 40,87%.