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Moçambique: Massificação do gás não resolve desflorestação

Bernardo Jequete (Chimoio)
16 de julho de 2023

Programa Nacional de Massificação do Uso do Gás de Cozinha visa diminuir uso de lenha e carvão para proteger o meio ambiente, mas especialista alerta que esta não é a solução para combater a desflorestação.

Foto: Bernardo Jequete/DW

Moçambique perde quase 270 mil hectares de florestas por ano devido ao abate indiscriminado de árvores. O "Programa Nacional de Massificação do Uso do Gás de Cozinha" quer diminuir o uso de lenha e carvão vegetal, no sentido de proteger o meio ambiente.

A iniciativa de levar o gás para as cozinhas das populações é do Ministério dos Recursos Minerais e Energia, que está a vender de forma massiva fogões e botijas a preços bonificados.

Segundo o diretor do Serviço Provincial de Infraestrutura em Manica, Silva Manuel, o programa está a surtir efeitos, embora admita que "a campanha de massificação levará muito tempo".

"Queremos que a nossa população adira, pois tem por objetivo dar a conhecer que temos que optar pelo gás e não pelo carvão", explica o responsável.

"Moçambique produz gás"

O Governo aliou-se ao setor privado para mostrar às comunidades, sobretudo das zonas rurais, práticas mais sustentáveis de cozinhar, visando preservar o meio ambiente.

"A população deve aderir ao uso de gás da cozinha. É muito bom, pois vamos evitar mais corte de árvores, preservando assim o nosso ambiente", garante Silva Manuel. "É melhor que usemos gás, porque Moçambique produz gás. Temos jazidas em Pemba e noutras províncias, então há necessidade de nós, como moçambicanos, usarmos esse nosso gás".

Botijas estão a ser vendidas em massa no paísFoto: Bernardo Jequete/DW

Edna Rodolfo Zione, residente em Chimoio, considera que o programa é uma mais-valia para a saúde da população, uma vez que irá "reduzir a inalação de fumo e cinza derivados de carvão e lenha e o gás faz parte das energias limpas".

No entanto, Edna salienta que o Governo deve assegurar a existência do gás a preços bonificados, "para que continuemos a usar hoje e sempre".

A culpa não é das comunidades rurais

Para o geógrafo e ambientalista Félix Alexandre Muzime, a iniciativa não é uma solução para combater a desflorestação, pois não se pode olhar para essa prática como uma ação das comunidades rurais. O especialista aponta culpas aos interesses dos operadores florestais.

"Os operadores devem tomar medidas ambientalmente desejáveis, reflorestar, reaproveitar o desperdício, não podemos olhar o abate ou a eliminação da floresta, o abate das árvores indiscriminado apenas como uma acção das comunidades rurais", afirma.

"As árvores são muito importantes, porque elas conservam o carbono. São várias intervenções locais que, na globalidade, dão as mudanças climáticas, portanto é preciso pensar globalmente e agir localmente", defende o geógrafo.

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