Moçambique: Mazula sugere resultados eleitorais em 48 horas
20 de agosto de 2024O primeiro presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique defendeu hoje que os resultados eleitorais no país devem ser divulgados em, pelo menos, 48 horas. Brazão Mazula criticou a alegada "desonestidade e falta de transparência" nos escrutínios, durante uma mesa-redonda sobre integridade dos processos eleitorais e confiança nas instituições que decorreu em Maputo esta terça-feira (20.08).
"Temos de refletir e encurtar o máximo possível o período entre a votação e a divulgação dos resultados eleitorais", afirmou o académico, para quem, "em 48 horas, Moçambique é capaz de divulgar os resultados".
As afirmações de Mazula surgem poucos dias antes do início da campanha para as eleições presidenciais de 9 de outubro , que vão decorrer em simultâneo com as legislativas e dos governadores.
O ex-reitor da Universidade Eduardo Mondlane, a mais antiga instituição de ensino superior de Moçambique alertou para as múltiplas "desconfianças" que o intervalo temporário entre a votação e a divulgação dos resultados eleitorais provoca, sobretudo quando demora bastante tempo.
"Penso que, nas últimas eleições, levámos 45 dias para divulgar os resultados eleitorais", lembrou. "Esse período, para mim, não é pela complexidade dos números, e leva o cidadão a pensar que é nesse período que se está a maquinar as fraudes e a reduzir os votos do adversário", avisou.
Mazula propõe Tribunal Eleitoral
Brazão Mazula, doutorado em História e Filosofia, sugeriu aos órgãos eleitorais o uso de tecnologias para acelerar a divulgação dos resultados nos escrutínios. "Por que não se pode informatizar o processo de tal maneira que em 48 horas tenhamos resultados?", questionou. O académico suspeita que esse período longo visa "permitir a adulteração dos resultados em favor deste ou daquele partido".
O ex-presidente da CNE considera que as eleições em Moçambique não têm sido "honestas" e pediu aos órgãos eleitorais "coragem" e "moral", visando assegurar a imparcialidade em momentos de tomada de decisões. Afirmou que "a CNE e o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral [STAE] não são donos do processo eleitoral", pelo que ambas as instituições "devem ser o caminho para a verdade e justiça eleitoral".
Mazula acrescentou que é papel destas instituições realizar eleições com foco na manutenção da paz, tendo sugerido, inclusive, a criação de um "tribunal eleitoral", porque, argumentou, a "injustiça" e "inverdade" são "pecados mortais" dos órgãos eleitorais.
Exclusão da CAD
Por outro lado, o académico acusou a CNE e o Conselho Constitucional de terem sido "muito legalistas" na sua decisão que culminou com a exclusão da Coligação Aliança Democrática (CAD), formação política que suportava a candidatura do político Venâncio Mondlane à Presidência de Moçambique.
"Ainda não entendi porque é que a CAD foi excluída do processo eleitoral", disse Mazula, acrescentando que "não houve honestidade" nesse processo, tendo-se imposto à sociedade "uma inverdade, que é um pecado imortal das eleições".