MDM acusa FRELIMO de atacar a sua comitiva em Inhambane
Arcénio Sebastião
19 de outubro de 2020
O partido no poder já negou as acusações da segunda maior força da oposição. Mesmo assim o MDM exige que a polícia esclareça o caso.
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O incidente contra a comitiva do segundo maior partido da oposição, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terá ocorrido durante a noite da última quinta-feira (15.10), na vila de Mabote, a oeste da província de Inhambane, sul de Moçambique.
Depois de um longo percurso desde a capital provincial até àquele distrito, desconhecidos teriam se deslocado ao local de hospedagem da comitiva provincial do partido do galo para sabotar as viaturas.
Artur Faduco, o delegado do MDM, disse que a vandalização da viatura ocorreu durante a estadia do grupo no distrito de Mabote, onde trabalhavam.
"Reportamos o caso à polícia e no dia seguinte tivemos a informação de que a Organização da Juventude Moçambicana (OJM) estava à nossa espera no povoado de Macuacua, que faz limite com o distrito de Funhalouro", conta.
"É o partido no poder que está a inviabilizar o nosso trabalho", acusa Faduco.
Desmente acusação
O secretário da OJM na província de Inhambane, Celso Calege, desmentiu a acusação.
"Não é uma prática nossa. Somos uma organização do partido Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), guiada pelos princípios éticos e morais que nos distanciam destas atitudes", afirma.
"Previlegiamos a paz e o diálogo em caso de contendas e não vandalizar [...]. Em nenhum momento a juventude comporta-se desta forma. Se algo aconteceu ao nível do distrito de Mabote eu penso que deve se fazer um aprofundamento local com a polícia e todos mais e não necessariamente olhar-se para OJM como mentor desta ação", argumenta Calege.
Segundo Artur Faduco, do MDM, o atentado é mais um, entre vários outros atos de intolerância política do partido no poder, que a FRELIMO protagoniza já há vários anos. Para o delegado do MDM, isso mostra, claramente, a falta de "espírito de convivência política na província de Inhanbane".
"Estes atos não começaram hoje, [mas] vinham acontecendo durante a campanha, em todo momento que o MDM fazia o seu trabalho no distrito de Mabote. Temos muitos episódios e lembranças dos nossos companheiros, que acabaram ficando deficientes por causa destas atitudes do partido no poder", diz.
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Pneus vazados e vidros perfurados
No local, todos os pneus da viatura principal do delegado foram vazados e os vidros perfurados. Mas não há registo de vítimas. Os membros do MDM dizem ter reportado a ocorrência à Polícia da República de Moçambique (PRM).
Porém, "estranhamente, a polícia, na pessoa do chefe das operações, disse que tinha informação da nossa ida para lá, mas ele espera uma comunicação oficial da nossa parte", explicou Artur Faduco.
Nesta segunda-feira (19.10), na cidade da Beira, o porta-voz do MDM, Sande Carmona, solicitou, através de uma conferência de imprensa, uma investigação urgente e séria para a responsabilização dos autores.
"Gostaríamos de exortar as forças policiais de Inhambane a usarem os meios disponíveis a fim de esclarecer estes casos. E também para a devida reposição dos danos à viatura e às pessoas que faziam parte da brigada desde Mabote à Funhalouro, de modo a evitar a eclosão de conflitos políticos e sociais".
O espaço reservado e pago para o efeito ficou indisponível para albergar os quadros do partido. Um episódio semelhante aconteceu recentemente, na mesma província, com o líder do maior partido de oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Ossufo Momade.
O drama dos transportes em Inhambane
Sobrelotados, danificados e sem condições mínimas de segurança: os transportes públicos da província de Inhambane, no sul de Moçambique, têm graves problemas.
Foto: DW/L. d. Conceição
Sem condições
Em Inhambane, passageiros vêem-se obrigados a viajar em veículos sobrelotados e sem as mínimas condições de segurança - muitas vezes ao lado de mercadorias. Da cidade de Maxixe, capital económica da província, saem muitas viaturas para os distritos do interior. Mas as vias de acesso estão muito degradadas, o que explica os danos nas viaturas, dizem os condutores.
Foto: DW/L. d. Conceição
Ir para a escola de "My Love"
Os alunos que estudam longe de casa enfrentam vários riscos para chegar à escola em viaturas de caixa aberta, conhecidas como "My Love", principalmente nos distritos de Maxixe, Morrumbene, Massinga, Homoíne, Jangamo, Panda e Vilankulo. O "transporte escolar" não respeita as normas de segurança e os acidentes são frequentes.
Foto: DW/L. d. Conceição
Longas distâncias de pé
Fazer vários quilómetros de pé nos transportes coletivos é rotina para muitas pessoas em Inhambane. Isto, porque alguns proprietários dos carros que fazem serviços de transporte proíbem os passageiros de se sentarem para poderem transportar um maior número de pessoas. Quando chegam ao destino - muitas vezes depois de percorrerem 50 quilómetros de pé - o corpo ressente-se.
Foto: DW/L. d. Conceição
A idade não é um posto
Os problemas afetam todos os passageiros - não há exceções para os idosos, que viajam também em más condições. O Governo tem vindo a prometer melhores condições para a terceira idade, mas a situação continua precária. E os preços dos transportes continuam elevados para todos, dos mais novos aos mais velhos.
Foto: DW/L. d. Conceição
Sem alternativas
Para quem tem carro próprio, as vias de acesso degradadas, que chegam a ficar intransitáveis quando chove, são um fator que pesa muito na decisão de conduzir até ao destino. E muitos outros não têm escolha: ou viajam de "My Love" ou ficam em terra. Entre os passageiros, idosos, mulheres grávidas ou com crianças de colo também têm muitas vezes mercadorias como companheiros de viagem.
Foto: DW/L. d. Conceição
Luxo…de passagem
Os autocarros com melhores condições saem da capital, Maputo, com destino a Inhambane, Vilankulo, Mambone, Massinga e Inhassoro. Não apanham passageiros pelo caminho, nas localidades mais pequenas. E, muitas vezes, já vêm sobrelotados de Maputo. A população pede às autoridades da província que melhorem os transportes entre distritos, para acabar com as viagens em carrinhas de caixa aberta.
Foto: DW/L. d. Conceição
150 quilómetros de desconforto
Esta viatura faz transporte público da cidade de Maxixe até ao distrito de Funhalouro, a mais de 150 quilómetros. As pessoas são obrigadas a viajar de pé e a partilhar o espaço com mercadorias. A agravar a situação está uma via de acesso em péssimas condições.
Foto: DW/L. d. Conceição
Viagem de risco para o interior
A história repete-se para muitos que vivem no interior da província. As deslocações entre os locais de residência e as cidades fazem-se em viaturas de caixa aberta, muitas vezes com material de construção, galinhas e produtos alimentares a dificultar uma viagem já em si perigosa.
Foto: DW/L. d. Conceição
De txopela nas zonas urbanas
Nas cidades e vilas, há alternativa aos "My Love". Aumenta o número das chamadas txopelas - motorizadas de três rodas - na maioria, provenientes da Índia, que acabam por tirar alguns jovens do desemprego. Mas nem todos os cidadãos têm dinheiro para andar de txopela nos centros urbanos: em média, uma viagem custa 150 meticais (cerca de 2 euros).
Foto: DW/L. d. Conceição
Só para estradas pavimentadas
Os mini-autocarros de 15 lugares são usados apenas em estradas pavimentadas ou alcatroadas, e a província de Inhambane só tem a Estrada Nacional. Muitas viaturas como estas não conseguem entrar em alguns distritos, como Funhalouro e Panda, devido ao estado das vias de acesso. Arriscar a entrada em estradas degradadas pode obrigar a uma visita ao mecânico.
Foto: DW/L. d. Conceição
Problemas também no transporte oficial
O Governo de Moçambique tem alocado todos os anos viaturas para o transporte de passageiros nas províncias. Mas, por falta de condições nas estradas, os veículos operam apenas em zonas urbanas. O Estado tem vindo a entregar a gestão destes transportes a terceiros, a título de empréstimo, mediante uma taxa mensal. Mesmo assim, os transportes públicos oficiais também estão sobrelotados.
Foto: DW/L. d. Conceição
Até quando?
Tal como os "My Love" demoram a chegar ao destino - devido também ao excesso de peso a diminuir a velocidade - a solução para os transportes públicos em Inhambane tarda igualmente em chegar. Ainda não há fim à vista para o transporte de passageiros em viaturas de caixa aberta. Até lá, veículos como este continuarão a ser adaptados para transportar passageiros e mercadorias.