Daviz Simango defende que a violência armada no centro do país resulta de fragilidades do acordo de paz e pede revisão do documento. Militares dizem estar em "prontidão combativa" para fazer face aos ataques armados.
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"O acordo foi feito por duas pessoas e foi feito a correr, à porta das eleições. Quando assim é, o resultado é este [o retorno à violência armada]", declarou o presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a terceira força política parlamentar no país, Daviz Simango, em entrevista à agência Lusa.
Em causa está a violência armada que tem sido registada no centro de Moçambique. Os episódios têm sido atribuídos a guerrilheiros dissidentes da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que permanecem na região.
Para Daviz Simango, o grupo, que se encontra nas matas da Serra da Gorongosa, no centro de Moçambique, sente-se excluído - na medida em que o processo de desmobilização e integração não foi feito a partir da realidade dos guerrilheiros do braço armado do principal partido da oposição.
"O figurino do Desarmamento, Desmobilização e Reintegração dos guerrilheiros da RENAMO foi simplesmente de cima para baixo. É um figurino imposto e, quando se faz a imposição de um figurino, o resultado é esse", frisou Daviz Simango.
Para o líder do MDM, "na prática ainda não há paz em Moçambique" e os signatários do acordo de paz de Maputo não devem sentir "vergonha de rever o documento".
"É necessário dizer que há erros e que os vamos corrigir rapidamente", afirmou Daviz Simango, alertando que não se pode subestimar os guerrilheiros que permanecem entrincheirados nas matas do centro de Moçambique.
O líder daquela força política entende ainda que é preciso entender as expectativas dos guerrilheiros da RENAMO e, a partir disso, começar a desenhar o um novo figurino para o seu desarmamento.
Militares em "prontidão combativa"
Entretanto, as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique disseram, esta terça-feira (31.12), estar em "prontidão combativa" para fazer face aos ataques armados no centro e norte de Moçambique.
"As Forças de Defesa e Segurança estão em permanente prontidão combativa, desdobrando-se em diversas frentes operacionais", lê-se num comunicado do Comando Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM) distribuído à imprensa.
Sem avançar detalhes, as autoridades moçambicanas garantem que se estão a "desdobrar num patrulhamento ostensivo, visando repelir e combater os autores dos ataques", acrescenta o documento, no qual refere-se ainda que a última foi "relativamente calma".
Em alguns pontos do norte e do centro do país, especificamente nas províncias de Cabo Delgado, Sofala e Manica, grupos armados têm protagonizado ataques contra viaturas civis, autoridades e aldeias.
Acordo de paz X conflito permanente
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da RENAMO, Ossufo Momade, assinaram a 6 de agosto o Acordo de Paz e Reconciliação em Maputo.
As novas incursões no centro de Moçambique já causaram 21 mortos e acontecem num reduto da RENAMO, onde os guerrilheiros daquele partido confrontaram-se com as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas e atingiram alvos civis até ao cessar-fogo de dezembro de 2016.
Na semana passada, o ministro do Interior de Moçambique, Basílio Monteiro, anunciou o reforço de medidas de segurança em Manica e Sofala, que incluem o reforço do policiamento e escoltas militares em alguns troços - um cenário que remonta ao pico, entre 2014 e 2016, das confrontações militares na crise política entre o Governo moçambicano e a RENAMO.
O grupo de guerrilheiros acusado de estar a protagonizar os ataques, a autoproclamada Junta Militar, é liderado por Mariano Nhongo, general da RENAMO que exige a demissão do atual presidente do partido e melhores condições de reintegração.
A RENAMO, por sua vez, distancia-se dos ataques, considerando que continua a cumprir com as cláusulas do acordo de paz e classificando Nhongo como desertor.
Vítimas dos ataques
Em Cabo Delgado, os ataques de grupos armados eclodiram há dois anos e já provocaram pelo menos 300 mortos, além de deixar cerca de 60 mil pessoas afetadas ou obrigadas a abandonar as suas terras e locais de residência, de acordo com a mais recente revisão do plano global de ajuda humanitária das Nações Unidas.
Por outro lado, no centro do país, especificamente nas províncias de Sofala e Manica, grupos armados têm protagonizado ataques contra viaturas em dois dos principais corredores rodoviários moçambicanos, a Estrada Nacional 1 (EN1), que liga o norte ao sul, e a Estrada Nacional 6 (EN6), que liga o porto da cidade da Beira ao Zimbabué e restantes países do interior da África austral.
Desde agosto, pelo menos 21 pessoas morreram em ataques de grupos armados que deambulam pelas matas nas províncias de Manica e Sofala.
África 2019: Entre dívidas ocultas, ataques e revoluções
2019 em África foi marcado por novos começos e catástrofes. Em Moçambique houve ciclones, dívidas ocultas, eleições e ataques armados, apesar do novo acordo de paz. A Guiné-Bissau foi às urnas eleger um novo Presidente.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Mukwazhi
Ciclones Idai e Kenneth
Dois ciclones atingiram a África Oriental este ano. Em março e abril, ciclones devastaram áreas inteiras de Moçambique, Madagáscar, Zimbabué, Malawi, Tanzânia e Comores. Mais de 1.400 pessoas morreram, muitas ainda estão desaparecidas e milhares perderam os seus meios de subsistência. Após o desastre, um surto de cólera atingiu as zonas por onde os ciclones passaram.
Foto: Reuters/M. Hutchings
Félix Tshisekedi é o novo Presidente congolês
O novo Presidente da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, tomou posse no início do ano. O resultado desta eleição caótica foi considerado controverso. Tshisekedi prometeu grandes reformas, como o combate aos rebeldes no leste do país. Mas após um ano a esperança esmoreceu: Tshisekedi é apelidado de "fantoche" do ex-Presidente Joseph Kabila, que governou o país durante 18 anos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Delay
Um segundo mandato para Buhari
Na Nigéria, o atual Presidente Muhammadu Buhari venceu novamente as eleições com mais de três milhões de votos. Buhari tem-se dedicado particularmente à pobreza e à segurança. Temas mais do que necessários, já que o grupo terrorista Boko Haram continua a atacar no norte do país. Além disso, conflitos entre pastores e agricultores originaram centenas de mortes, também em países como Mali e Níger.
Foto: Bayo Omoboriwo
A revolução sudanesa
O sudanês Alaa Salah tornou-se uma figura simbólica da revolução. O aumento dos preços dos alimentos e a difícil situação económica levaram a protestos em todo o país. Em abril, o Presidente Omar al-Bashir foi deposto depois de governar por quase 30 anos. Um Governo de transição de militares e civis está a preparar o caminho para as eleições. Durante as manifestações, dezenas de pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP
Uma surpreendente Taça das Nações Africanas
A maior surpresa do CAN deste ano foi provavelmente a equipa de Madagáscar. Ao vencer a Nigéria e a República Democrática do Congo, chegaram aos quartos de final. Entretanto, a Argélia venceu o Senegal na final. O Senegal nunca ganhou um CAN até agora. O torneio foi originalmente planeado para decorrer nos Camarões, mas foi transferido para o Egito devido a distúrbios políticos naquele país.
Foto: Getty Images/AFP/M. El-Shahed
Epidemia de ébola na RDC
Desde agosto de 2018, a República Democrática do Congo enfrenta uma das maiores epidemias de ébola: mais de 3.300 casos já foram registados, dois terços dos quais fatais. Em novembro, o Uganda confirmou o fim da epidemia no distrito de Kasese, na fronteira com a RDC. Uma vacina ainda não aprovada contra o vírus tem-se mostrado bem-sucedida e os medicamentos para aqueles já infetados também.
Foto: picture-alliance/dpa/AP Photo/Medecins Sans Frontieres/J. Wessels
Repatriamento de congoleses em Angola
Milhares de congoleses regressaram a casa depois de se refugiarem em Angola desde 2017 devido aos conflitos na província congolesa do Cassai. O repatriamento começou de forma espontânea, mas em setembro o processo foi organizado e acompanhado pelas autoridades angolanas e pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Foto: Getty Images/AFP/S. Kambidi
Primeiro-ministro etíope vence Nobel da Paz
O primeiro-ministro da Etiópia fez as pazes com a vizinha Eritreia após décadas de conflitos. Por isso, Abiy Ahmed recebeu o Prémio Nobel da Paz. Além disso, conseguiu estabilizar a situação no país dividido em 80 grupos étnicos diferentes, libertou milhares de presos políticos, introduziu reformas económicas e nomeu mulheres para metade do seu gabinete.
Foto: Ethiopian Prime Minister Office
Conflito em Moçambique
O Presidente Filipe Nyusi foi reeleito com uma grande maioria, mas a RENAMO rejeitou os resultados e acusou Nyusi e a FRELIMO de "grande fraude eleitoral". Até 1992, os dois partidos travaram uma brutal guerra civil que matou quase um milhão de vidas. As partes assinaram um acordo de paz em agosto, mas as tensões no país permanecem, com ataques nas estradas do centro do país.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Ataques no norte de Moçambique
A província de Cabo Delgado continua a ser alvo de grupos armados. Os primeiros ataques foram registados em 2017 e este ano novos episódios de violência aterrorizaram aldeias locais. Pelo menos 300 pessoas já morreram e há centenas de deslocados, segundo as autoridades. A situação também deixa em alerta empresários. A região abriga um megaprojeto de exploração de gás natural.
Foto: DW/A. Chissale
Novo estado federal na Etiópia
Em novembro, 98,5% dos moradores de Sidama, na Etiópia, votaram num referendo para a formação de um novo estado federal e mais autonomia. Os Sidama, quinto maior grupo étnico da Etiópia, espera controlar os recursos da terra, ter voz na política e preservar e fortalecer a sua identidade cultural. Dez outros grupos étnicos manifestaram interesse num referendo semelhante.
Foto: Reuters/T. Negeri
Quem será o novo Presidente da Guiné-Bissau?
Com José Mário Vaz já fora da corrida, a segunda volta das presidenciais disputou-se a 29 de dezembro, entre os favoritos Domingos Simões Pereira e Umaro Sissoco Embaló. Os resultados provisórios deverão ser divulgados pela CNE a 1 de janeiro. A disputa entre Jomav e o Parlamento levou à crise política e económica no país. O novo Presidente terá de resolver isso em 2020.
Foto: DW/B. Darame
Ataques às Nações Unidas na RDC
Manifestantes em Beni, uma cidade no leste congolês, invadiram uma base da ONU no final de novembro e incendiaram o edifício municipal. Alegavam que a missão da ONU no país, a MONUSCO, não está a fazer nada para protegê-los dos ataques rebeldes. A milícia extremista "Forças Democráticas Aliadas" matou e sequestrou dezenas de pessoas na região. A luta em Beni continua.
Foto: Reuters/File Photo/O. Oleksandr
"Arquiteto" das dívidas ocultas ilibado nos EUA
Jean Boustani, tido como o principal mentor no caso das dívidas ocultas, foi considerado inocente em julgamento nos EUA. Entretanto, a Justiça norte-americana quer também julgar o ex-ministro das Finanças de Moçambique, por alegado envolvimento nas dívidas ocultas. Manuel Chang está detido na África do Sul desde dezembro de 2018, com pedidos de extradição para Moçambique e para os EUA.
Foto: Reuters/E. Munoz
Protestos no Zimbabué
O ano começa e termina com protestos no Zimbabué. Depois de o preço dos combustíveis ter subido 130%, milhares de pessoas saíram às ruas e houve escassez de alimentos nos mercados. Foram também demitidos 211 dos 1.550 médicos do país por protestarem por melhores salários e condições de trabalho. Dizem que os seus salários - menos de 200 dólares por mês - são insuficientes para sobreviver.