Um grupo de membros da RENAMO saiu hoje (23.11) às ruas da cidade de Tete, centro de Moçambique, para exigir o afastamento de Ossufo Momade da liderança do maior partido da oposição. A manifestação acabou em confrontos.
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Ossufo Momade é acusado pelos manifestantes, entre outros aspetos, de má gestão e clientelismo dentro do partido Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), a maior força política da oposição em Moçambique.
Entretanto, o delegado político provincial da RENAMO na província de Tete, Evaristo Tatamo, chamou os mentores destas contestações públicas contra Ossufo Momade de "palhaços”.
Em conferência de imprensa, que marcou o início da manifestação nesta segunda-feira (23), Hernani da Silva, porta-voz do grupo e membro da assembleia municipal de Tete pela RENAMO, acusou o líder do maior partido da oposição de "divisionismo, clientelismo e exclusão ao nível do partido".
"Resignação voluntária e incondicional"
"Estamos convictos de que o caminho mais seguro e rápido para o reforço da união interna do partido RENAMO seria, com todo o respeito à figura do general Ossufo Momade, a [sua] resignação voluntária e incondicional da presidência do partido", disse.
Entretanto, o grupo encabeçado por Hernani da Silva acredita ainda que uma uma possível saída para as crises internas dentro do partido RENAMO, seria a convocação de uma reunião extraordinária do Conselho Nacional do partido para que, segundo ele, "os quadros possam debater [o tema] de forma aberta e franca, para o bem do partido e dos moçambicanos", argumentou.
Os contestatários de Ossufo Momade em Tete denunciam que as crises internas dentro da RENAMO não estão apenas a ter consequências dentro do partido, mas também para o país. Como exemplo, cita os ataques armados nas províncias de Manica e Sofala – atribuídos à Junta Militar, dissidente da RENAMO.
"Pedíamos que o Conselho de Estado que convocasse o Presidente Ossufo Momade para se explicar sobre o papel que [ele] pensa desempenhar para pôr fim ao conflito político militar na zona centro do país", apelou Hernani da Silva.
Mas, em entrevista à DW África, Evaristo Tatamo, o delegado provincial da RENAMO em Tete, nega divisionismo. Ele defende que o atual líder daquela formação política seja "um presidente legítimo segundo os estatutos do partido".
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"São palhaços"
"Se alguns se intitulam membros da RENAMO e contestam a liderança do partido e do presidente Ossufo Momade; para nós, esses são palhaços. E até podemos dizer que [isso] é um produto do nosso adversário, a FRELIMO", disse.
A manifestação desta segunda-feira (23.11) terminou com uma confrontação entre o grupo liderado por Hernani da Silva e o liderado pelo atual delegado político provincial – Evaristo Tatamo.
Questionado, pela DW África sobre as razões da confrontação, Tatamo respondeu: "nós, como RENAMO ao nível provincial, não podemos ficar alegres quando aparece um outro grupo que se diz ser da RENAMO [mas que está] a tirar mérito ao presidente. É por isso que os membros e simpatizantes ficaram furiosos, e tomaram aquelas medidas", argumentou.
Há indicações da existência de feridos em ambas as partes. Hernani da Silva acusou, também nesta segunda-feira (23.11), o delegado político provincial e o chefe nacional da mobilização da RENAMO de ameaças de morte.
Evaristo Tatamo negou as acusações, mas alerta que "se ele continuar a insultar e espalhar o presidente, acredito que os membros não poderão ficar alheios". E acrescentou, "paciência tem limite, não é a nossa vontade, mas o senhor Hernani, que se diz ser membro da RENAMO, deve recuar".
Por sua vez, Hernani da Silva nega que vá recuar, e justifica que este comportamento "mostra estarem no caminho certo".
Afonso Dhlakama, homem de causas
O percurso de Afonso Dhlakama enquanto político e militar quase se confunde com a história de Moçambique independente. Em nome da democracia não hesitou em entrar numa guerra. Herói para uns, vilão para outros.
Foto: picture-alliance/dpa
Dhlakama, um começo na FRELIMO que não vingou
Afonso Macacho Marceta Dhlakama nasceu a 1 de janeiro de 1953 em Mangunde, povíncia central de Sofala, Moçambique. Entra para a FRELIMO perto da época da independência em 1975, mas não fica muito tempo. Em 1976 sai do partido que governa o país para co-fundar a RNM (Resistência Nacional de Moçambique), um movimento armado, com o apoio da Rodésia do Zimbabué. O objetivo: por fim a ditadura.
Foto: Imago/photothek
Dhlakama: Desde cedo líder da RENAMO
A guerra civil entre a RNM, depois denominada RENAMO, Resistência Nacional de Moçambique, e o Governo começou em 1976. Dhlakama assume a liderança da RNM depois da morte de André Matsangaíssa em combate em 1979. Já era líder quando o primeiro acordo que visava por fim a guerra foi assinado entre o Governo e o regime do apartheid na África do Sul em 1984. Mas o Acordo de Inkomati fracassou.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
AGP: Democracia entra no vocabulário com Dhlakama
Depois de 16 anos de guerra Dhlakama assina com o Governo o Acordo Geral de Paz de Roma em 1992 no contexto do fim da guerra fria e do apartheid na África do Sul. Começa uma nova era para o país, depois de uma guerra que fez perto de um milhão de mortos e milhões de refugiados. A democracia passa então a fazer parte do vocabulário dos moçambicanos, com Dhlakama a auto-intitular-se o seu pai.
Foto: picture-alliance/dpa
O começo das derrotas de Dhlakama nas eleições
Moçambique entra para a era do multipartidarismo e realiza as suas primeiras eleições em 1994. Dhlakama e o seu partido perdem as eleições. As segundas eleições acontecem em 1999 e Dhlakama volta a perder, mas rejeita a derrota. E desde então não parou de perder, facto que provocou descontentamento ao partido de Dhlakama. Reclamava de fraudes e injustiças. E nasceram assim as crises com o Governo.
Foto: Reuters/Grant Lee Neuenburg
Dhlakama: O regresso às matas como estratégia de pressão
O regresso do líder da RENAMO à Serra da Gorongosa em 2013, um dos seus bastiões militares, foi uma mensagem inequívoca ao Governo da FRELIMO. Dhlakama queria mudanças reais, que passavam pelo respeito integral do AGP, principalmente a integração dos militares da RENAMO no exército nacional, e mudança da legislação eleitoral. Assim o país voltou a guerra depois de mais de vinte anos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Armando Guebuza e Dhlakama em braço de ferro permanente
A 5 de agosto de 2014 o então Presidente Armando Guebuza e Afonso Dhlakama assinaram um cessar-fogo. Estavam criadas as condições para o líder da RENAMO participar nas eleições gerais de outubro de 2014. Dhlakama e o seu partido participam nas eleições e voltam a perder. As crise volta ao rubro e Dhlakama regressa às matas da Gorongosa.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Emboscada contra Afonso Dhlakama
A 12 de setembro de 2015 a caravana em que seguia Afonso Dhlakama foi atacada na província de Manica. Ate hoje não se sabe quem foram os atacantes. A RENAMO considerou a emboscada como uma tentativa de assassinato do seu líder. A comunidade internacional condenou o uso da violência.
Foto: DW/A. Sebastião
Aperto ao cerco contra Afonso Dhlakama
No dia 9 de outubro de 2015, a polícia cercou e invadiu a casa de Afonso Dhlakama na cidade da Beira. As forças governamentais pretendiam desarmar a força a guarda do líder da RENAMO. Os homens da RENAMO que se encontravam no local foram detidos. A população da Beira, bastião da RENAMO, juntou-se diante da casa de Dhlakama manifestando o seu apoio ao líder.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Dhlakama e Nyusi: Menos mãos melhores resultados
O líder da RENAMO e o Presidente da República decidiram prescindir de mediadores e passaram a negociar o acordo pessoalmente. Desde então consensos têm sido alcançados, um deles relativo à revisão pontual da Constituição, no âmbito do processo de descentralização em fevereiro de 2018. A aprovação da proposta pelo Parlamento é urgente, pois as próximas eleições de 2018 e 2019 dependem dele.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
Dhlakama: Não foi a bala que ditou o seu fim
Na manhã de 3 de maio o maior líder da oposição em Moçambique perdeu a vida vítima de doença. Deixa aos seus correlegionários a tarefa de negociar outro ponto controverso na crise com o Governo: a desmilitarização ou integração dos homens armados da RENAMO no exército nacional. Há quase 40 anos à frente da liderança da RENAMO teve de negociar com todos os Presidentes de Moçambique independente.