Em causa está a indicação por parte de Ossufo Momade de Elisa Maria Isabel para o cargo de delegada política provincial sem eleições. RENAMO justifica nomeação com novos estatutos do partido.
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Na província da Zambézia, vários membros e simpatizantes da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) estão descontentes com a liderança do partido e pedem esclarecimentos ao líder Ossufo Momade.
O mal-estar entre os membros da RENAMO na província da Zambézia e a direção central do partido tornou-se evidente na semana passada, quando Ossufo Momade indicou o nome de Elisa Maria Isabel, em substituição de Abdala Ossifo, para o cargo de delegada política provincial sem qualquer votação.
No entender dos membros da RENAMO na Zambézia, a forma como a nova delegada foi indicada - sem votação - viola os estatutos do partido.
"Maioria descontente"
Em entrevista à DW, um destes membros descontentes, que não quis identificar-se, assegura que a "maioria dos membros não está satisfeita com a indicação" e que esta "vai provocar desavenças dentro do partido". "Vejo que isto nos vai criar problemas com o andar do tempo", diz.
O mesmo jovem deixa outras críticas ao partido: "nenhum membro [fiscal] da RENAMO esteva presente, durante o processo de votação, no Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e na Comissão Nacional de Eleições (CNE). E por quê? Quem deu essa ordem? Houve um trabalho muito mal feito por isso temos poucos membros na Assembleia Provincial e na Assembleia da República, uma coisa que nunca aconteceu", diz.
Moçambique: Membros da RENAMO voltam a contestar liderança do partido na Zambézia
Desde que Ossufo Momade assumiu o comando da RENAMO que os membros do partido na Zambézia questionam a evolução política da sua formação partidária. Muitos deles apontam o líder como o principal culpado pela derrota da RENAMO nas eleições gerais de 2019.
"Daqui a um bocado, até as futuras eleições da RENAMO vão desaparecer. Nós não queremos um presidente que brinca connosco, queremos a verdadeira democracia. Queremos um presidente que discuta o bem-estar do povo moçambicano, não um presidente que receba gorjetas. Se ele não está a conseguir, terá de abandonar a RENAMO. Acho que Ossufo Momade devia fazer uma política que convença a população da Zambézia", sugere um outro membro do partido, que prefere também manter-se no anonimato.
Por seu lado, o chefe da Mobilização da Juventude da RENAMO, José Pedro, explica que o processo de escolha das lideranças do partido pode ocorrer por eleição ou nomeação. "Foi assim que foi indicada, para delegada provincial da Zambézia, Elisa Silvestre. Se os membros não estivessem de acordo, teriam de ter feito barulho nesse dia".
Mudança nos estatutos
Também segundo o delegado da RENAMO em Quelimane, os estatutos do partido - que preconizavam a eleição de quadros - já foram alterados. Segundo Latifo Charifo, Ossufo Momade tem autonomia para nomear quem quer que seja.
"Com os novos estatutos do partido, o presidente tem a prerrogativa de indicar os delegados políticos provinciais. No congresso que tivemos no ano passado, foram aprovadas as diretrizes que indicam que [essa] prerrogativa. Não há eleição. As pessoas que falam isso não conhecem os novos estatutos do partido, é preciso lê-los", alerta.
Moçambique: A polémica exploração de areias pesadas na Zambézia
A exploração de areias pesadas em Inhassunge, na província da Zambézia, continua a gerar polémica. Residentes não querem deixar as suas terras, mas muitos cedem à pressão do Governo e da empresa responsável.
Foto: DW/M. Mueia
Concessionária chinesa
A Africa Great Wall Meaning Company Development, uma empresa de capitais chineses, é a concessionária na prospeção e exploração das areias pesadas na província da Zambézia desde 2014. Segundo o Governo local, a Africa Great Wall atua nos distritos de Inhassunge e Chinde, onde detém propriedades de uso e aproveitamento da terra.
Foto: DW/M. Mueia
Moradores têm que deixar suas terras
A presença da empresa chinesa é polémica. Depois de confrontos violentos com a polícia, que resultaram na morte de pelo menos 4 pessoas em julho de 2018, a população de Inhassunge, que basicamente vive da agricultura, diz que aceita por imposição abrir mão das suas terras para a exploração das areias pesadas.
Foto: DW/M. Mueia
Terras rejeitadas
No entanto, o plano de reassentar as famílias abrangidas pelo projeto de exploração de areias pesadas fracassou. A população recusa-se a mudar para o novo espaço porque, segundo os moradores, as terras são áridas e não servem para a produção de qualquer alimento. Alé disso, não há no local condições para desenvolver a pesca, tal como existem nas suas zonas de origem.
Foto: DW/M. Mueia
"Recuso-me a ceder o meu espaço"
Albrinho Veloso vive na ilha de Mualane e não vê com bons olhos o projeto de exploração das areias pesadas pelos chineses: "Recuso-me a ceder o meu espaço. Há um ditado popular, na língua local, que diz que 'o futuro não é confiável', por isso, quero continuar a viver na minha terra com as condições favoráveis para a minha sobrevivência".
Foto: DW/M. Mueia
Sem energia elétrica
Há um ano, o Governo da Zambézia estendeu uma linha elétrica que parte de Quelimane, capital provincial, para a região de Inhassunge. Porém, a linha de média tensão ainda não cobre todos os lugares, como, por exemplo, as áreas onde estão a ser feitas as explorações de areias pesadas. Mais um problema que os habitantes põem em cima da mesa.
Foto: DW/M. Mueia
Acesso às ilhas
A vida nas ilhas daquela região não é fácil. Para chegar à Olinda e Mualane, em Inhassunge, onde as areias pesadas são exploradas, a principal portagem está ao lado de Quelimane, capital da Zambézia. Os bilhetes são vendidos por agentes da polícia marítima e alguns operadores privados que têm pequenas embarcações a motor. A viagem pode custar até 300 meticais (pouco mais de 4 euros).
Foto: DW/M. Mueia
Barcos de carga
As canoas a remo são os primeiros e únicos meios de transporte de mercadoria e carga para as ilhas. Os produtos de primeira necessidade para a população das ilhas em Inhassunge são adquiridos em Quelimane e transportados pelas canoas por jovens naturais do distrito. A viagem demora de 8 a 10 horas no mar.
Foto: DW/M. Mueia
Transporte de passageiros
Além do transporte de mercadorias, as canoas também são usadas para transportar passageiros. O custo deste transporte ronda entre 10 a 30 meticais (entre 0,10 e 0,40 cêntimos de euro). Além disso, há também serviços de aluguer diário de canoas, cujo preço é mais caro.