Moçambique: Gravidez precoce preocupa ativista no Niassa
Manuel David (Lichinga)
14 de dezembro de 2018
Ficou gravida quando tinha apenas 14 anos e o pai da criança não só recusou assumir a paternidade como também tentou forçar a jovem a fazer um aborto. Hoje, aos 18 anos Estefânia é ativista contra a gravidez precoce.
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A gravidez na adolescência é um problema que persiste na província do Niassa, norte de Moçambique. Mas há quem olhe para a sua experiência de vida como uma mais valia na busca de uma solução. É o caso de uma jovem do distrito de Mecanhelas que se tornou uma embaixadora contra a gravidez precoce na sua comunidade.
Estefânia Alberto tinha 15 anos quando engravidou. Na altura, em 2005, frequentava a 9ª classe. Sob pressão cultural, viu-se forçada a abandonar a escola para cuidar do filho.
Hoje, com 18 anos, é aluna da 12ª classe da Escola Secundária de Mecanhelas, distrito do mesmo nome, na província do Niassa. Mas não foi fácil convencê-la voltar a estudar. Contou com o apoio psicossocial de uma agremiação feminina que promove a importância da educação junto das jovens de Mecanhelas. Olhando para trás, mostra-se arrependida.
Engravidou aos 14 anos"Na verdade, brinquei mal. Até agora, já estou a me arrepender. No ano de 2014, quando eu tinha catorze anos de idade e a frequentar a 8ª classe, minha mãe já me falava que para eu não brincar com os homens, continua a estudar para amanhã você nos ajudar. Na altura estive a estudar, mas também eu era uma pessoa complicada. Tentava me bater, mas nada".
Estefânia recorda com tristeza a falta de apoio do pai do seu filho, que negou assumir a sua responsabilidade:
"Minhas amigas tentavam procurar medicamento para eu abortar, mas sozinha sentava e refletia muito sobre o assunto. Porque teria que abandonar os meus estudos. O homem que me engravidou não quis assumir e ameaçava bater-me caso lhe denunciasse junto da minha mãe".
Este não é um caso invulgar em Mecanhelas, ou mesmo em Moçambique. Segundo a UNICEF, a gravidez precoce continua a afetar muitas meninas em Moçambique e é a consequência mais comum dos casamentos prematuros. Dados da agência das Nações Unidas para a Infância revelam que mais de 40% das moçambicanas têm o primeiro filho antes dos 18 anos.
E cerca de três mil adolescentes com menos de 18 anos abandonaram a escola em 2017 por estarem grávidas, estima o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano de Moçambique.
Sensibilizar comunidades contra gravidez precoce
Moçambique: "Meninas apostem nos estudos e não gravidez precoce" – ativista
Virgínia Cardoso, representante da Associação para a Promoção da Mulher de Mecanhelas, que luta pela igualdade de género na região do Niassa, diz que não tem sido fácil moldar o comportamento das mulheres, sobretudo das mais jovens.
"Sensibilizamos a comunidade assim como as meninas, jovens e mães. Por exemplo, a mãe dessa miúda veio pedir-nos ajuda porque ela não ouvia o seu conselho. Daí chamamos a menina e começamos a sensibiliza-la no sentido de prosseguir os estudos e focar-se no essencial, mas não nos dava os ouvidos. Também não desistimos dela ao ponto de hoje estar a tirar a 12ª classe de escolaridade”, explica Virgínia Cardoso.
Hoje, Estefânia Alberto vive com o marido, pai legítimo do bebé, depois de uma denúncia da associação para promoção da mulher contra o jovem. Estefânia decidiu partilhar a sua experiência de vida para evitar que outras raparigas passem pelas dificuldades por que passou. É ativista na Associação para a Promoção da Mulher e visita jovens nas escolas e nas suas residências para passar uma mensagem simples: apostem nos estudos.
Fazer as unhas nas ruas de Moçambique
Em Inhambane, fazer as unhas às mulheres nas ruas já se tornou um negócio. Jovens sem emprego percorrem a província com tábuas de vernizes. Outros têm "salões" nos quais oferecem os serviços de manicure e pedicure.
Foto: DW/L. da Conceicao
Caminhar todos dias
O negócio de pintar unhas não é fácil para os jovens que realizam esta atividade, é preciso caminhar pelas ruas das cidades com uma tábua de vernizes, além de ser necessário conquistar a clientela. Valdimiro Chapuana conseguiu lobolar (ter um casamento tradicional) a sua esposa e tem dois filhos graças aos rendimentos deste negócio.
Foto: DW/L. da Conceicao
“Estou feliz com o meu trabalho”
Lourenço Zacarias concluiu o nível médio na escola secundária e não teve oportunidade para entrar na faculdade nem conseguir emprego. Pediu dinheiro ao irmão mais velho para começar o negócio e abriu uma banca de pintar unhas em frente à escola que frequentou na cidade de Maxixe. “Estou feliz com o meu trabalho”, diz.
Foto: DW/L. da Conceicao
Colocar e pintar unhas para lobolar
Antunes Costa e a noiva, que estão a preparar-se para lobolar (casamento tradicional), decidiram tratar das unhas por uma questão de elegância e beleza. Recorreram a uma banca onde colocam e pintam unhas. Questionados sobre a escolha deste local, disseram que o trabalho é de qualidade e os preços razoáveis.
Foto: DW/L. da Conceicao
Salões de unhas nas ruas
Os salões que pintam unhas estão espalhados pelas cidades e vilas da província de Inhambane. O negócio começou a fazer sucesso na África do Sul e em Maputo, de onde vieram empreendedores que passaram os seus conhecimentos aos jovens locais. Nos últimos três anos, o negócio ganhou espaço nas ruas da província. Muitas mulheres que procuram realçar a sua beleza recorrem estes locais.
Foto: DW/L. da Conceicao
Detalhe da pedicure
A manicure e a pedicure podem ser realizadas nas ruas, nos locais de trabalho ou nas residências das clientes. Os jovens que exercem a atividade deixam o seu contacto com os clientes. A clientela acredita no trabalho de qualidade. O preço varia entre 100 e 450 meticais (um e seis euros).
Foto: DW/L. da Conceicao
Perigos para a saúde
Esta atividade requer cuidados com a saúde, tanto para quem faz o trabalho, como para as clientes. Nem todos usam proteção, como luvas e máscaras, e o material nem sempre é esterilizado. Muitas vezes os equipamentos são conservados em condições precárias.
Foto: DW/L. da Conceicao
Trabalho infantil
Matias Pedro é um adolescente de 15 anos que abandonou a família no distrito de Funhalouro e veio para a cidade de Maxixe em busca de melhores condições de vida. Não teve escolha quando lhe ofereceram este trabalho para pintar unhas nas ruas. Ganha cerca de 1.500 meticais (20 euros).
Foto: DW/L. da Conceicao
“Faço o trabalho há 15 anos”
Nido Zaqueu conseguiu empregar-se depois de aprender a atividade na África do Sul em 2003. Seis anos depois, voltou a Moçambique e começou a fazer negócio na cidade de Maputo. Devido à procura de novos mercados, fixou-se na cidade de Maxixe. É casado e pai de três filhos. Diz que o negócio vale a pena e emprega temporariamente três jovens, entre eles o irmão.
Foto: DW/L. da Conceicao
Cliente satisfeita
O trabalho requer muita atenção, pois um pequeno erro pode estragar a beleza das unhas. Ainda assim, os jovens pouco experientes conseguem deixar as suas clientes satisfeitas. Os modelos disponíveis encontram-se nos cartazes. “Cada mulher quer um modelo diferente e que combine com o seu vestuário, mas também com a época do ano”, explicam os jovens.
Foto: DW/L. da Conceicao
Quem procura este serviço?
Mulheres trabalhadoras, estudantes universitárias e turistas estão entre os grupos que procuram este serviço. Muitas delas contam que não têm material nas suas casas ou não sabem fazer melhor. Falta de tempo, paciência e criatividade são outros motivos que as levam a pagar por serviços de manicure e pedicure.
Foto: DW/L. da Conceicao
À espera de melhores oportunidades
Delercio Arnaldo, adolescente natural do distrito de Massinga, conseguiu emprego a pintar unhas em Inhambane. Conta que deixou a família e abandonou os estudos por falta de condições há cerca de dois anos. Espera um dia ter outras oportunidades na sua vida.
Foto: DW/L. da Conceicao
Publicidade
O serviço de pintar unhas tem publicidade espalhada em todas as avenidas. Os panfletos incluem o nome de quem pratica a atividade e os contactos. Algumas mulheres recorrem aos salões ou mesmo a jovens na rua por terem confiança neles. Outras solicitam serviços ao domicílio. “Às vezes viajamos para outras províncias, distritos ou mesmo residências aqui dentro da cidade”, dizem muitos jovens.