Mais de 24 mil idosos sem subsídios passam fome em Manica
Bernardo Jequete (Manica)
17 de fevereiro de 2020
Na província de Manica, mais de 24 mil idosos beneficiários do programa de subsídio social básico estão há cerca de quatro meses sem receber os seus valores. A falta de auxílio faz com que muitos deles passem fome.
Foto: DW/B. Jequete
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O Instituto Nacional de Ação Social (INAS) alega não ter dinheiro para pagar aos idosos beneficiários do programa de subsídio social básico em Manica, centro de Moçambique. A diretora provincial de Género, Criança e Ação Social, Lurdes Daniel, não quis gravar entrevista, mas explicou à DW áfrica que a dívida provém do défice orçamental. O valor só chegou para pagar os subsídios até outubro de 2019.
São exatamente 24.074 idosos beneficiários do subsídio social básico. Um grupo expressivo de pessoas oriundo de oito distritos, nomeadamente, Chimoio, Mossurize, Machaze, Gondola, Sussundenga, Macate, Vanduzi e Manica.
Um grupo de idosos, que prefere manter o anonimato, disse à DW África depende desses subsídios para viver e descreveu as dificuldades que enfrenta devido à falta do subsídio. Desde novembro, estes idosos sobrevivem de apoios de pessoas singulares. A situação faz com que muitos busquem ajuda de desconhecidos pelas artérias da cidade, passando de loja em loja a pedir esmolas para poder colocar comida na mesa.
"Estamos a passar muito mal"
"São quatros meses sem subsídios, a partir de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro. Nós estamos a passar muito mal, porque não temos o que comer e não temos outra forma de sobreviver", contam os beneficiários do programa, que falam sob anonimato por medo de represálias. E caso deixe de haver subsídios, os idosos deixam um apelo: "É melhor que nos informem para ficarmos a saber e sem alimentar esperanças."
Mais de 24 mil idosos sem subsídios passam fome em Manica
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"E com essa época chuvosa, as casas estão a desabar e não temos o que fazer. O Estado prometeu ajudar-nos, mas não está a ajudar, se calhar já nos esqueceu", disse um dos idosos ouvidos pela DW África.
Outro entrevistado, que também não se identificou por medo de represálias, contou ainda que os seus filhos não possuem material escolar por falta daquele subsídio. "A esperança é a última coisa a morrer. Nada podemos fazer pois as nossas ideias já acabaram, o que nos resta é pedir ajuda nas lojas e pessoas de boa-fé. E paulatinamente vamos aguardando com serenidade e calma", relata.
O secretário do Estado na província de Manica, Edson da Graça Macuácua, que na semana passada efetuou uma visita de trabalho ao INAS, espera que o problema seja resolvido em breve. "Está-se trabalhar para isso, falamos da revisão de todos os procedimentos, que é para garantir que haja uma recessão com a necessária regularidade. E quando não há regularidade é necessário esclarecimento", declarou.
O governante promete continuar a "garantir que os cidadãos que carecem deste apoio do Estado possam receber subsídios e outros apoios que o Estado canaliza com a necessária celeridade."
Idosos abandonados em Inhambane
Maltratados, acusados de feitiçaria e sem apoio. Em Moçambique, muitos idosos são rejeitados pelos familiares, vivem sem abrigo e passam a maior parte do dia nas ruas a pedir esmola. Governo diz que faltam fundos.
Foto: DW/L. da Conceição
Viver na rua sem abrigo e comida
Isabel Bato vive há cinco anos nas ruas da cidade de Maxixe, na província de Inhambane. Os familiares rejeitaram-na, alegando que estava a enfeitiçar os filhos e netos para que não tivessem sucesso nos seus trabalhos e negócios. Sem apoio do Governo, a idosa vive pedindo esmola nas lojas dos comerciantes locais.
Foto: DW/L. da Conceição
Caminhar sem destino
Como muitas pessoas da terceira idade, Jortina João caminha pelas ruas do distrito de Morrumbene a pedir ajuda às pessoas. É "caminhar sem ter destino e descanso", diz. Se ficar sentada, ninguém a apoiará com alimentação e roupas, sublinha.
Foto: DW/L. da Conceição
Pedir ajuda
Nos mercados, lojas e mercearias, os idosos pedem ajuda todos os dias para conseguir algo para comer, mas nem todos satisfazem os seus pedidos. Abandonada pela família, Joana de Vaz precisa de sair para pedir ajuda, mas nem sempre sai satisfeita. "Às vezes, recebo dois quilos de arroz, um pouco de óleo, mas muitas pessoas não são solidárias", conta.
Foto: DW/L. da Conceição
Olhar de fome
Tal como outras idosas no interior da província de Inhambane, Joana Wacitela passa fome devido à seca que assola esta região de Moçambique. A colheita não foi boa na sua machamba: "Estou a passar mal de fome, estou a pedir ajuda". Segundo o governo provincial, o apoio não chega a todos os idosos devido à falta de fundos.
Foto: DW/L. da Conceição
Poucos idosos recebem apoio
A Associação dos Aposentados de Moçambique (APOSEMO), o Instituto Nacional de Ação Social (INAS) e a Associação Gupuanana em Inhambane confirmam que os apoios direcionados aos idosos não chegam a todos. Em Inhambane, nem metade das pessoas da terceira idade beneficia dos programas sociais básicos. Estas pessoas são cada vez mais excluídas.
Foto: DW/L. da Conceição
Cesta básica com poucos produtos
O artigo 5º da Lei 03/2014, aprovada pelo Parlamento moçambicano, estabelece que cabe às famílias, à comunidade, à sociedade e ao Estado assegurar o direito à alimentação da pessoa idosa. Em Moçambique, algumas pessoas da terceira idade recebem uma cesta básica, mas com pouquíssimos produtos, como óleo, açúcar, arroz e sal.
Foto: DW/L. da Conceição
Amizade para sempre
Apesar de tantas dificuldades, os idosos gostam de fazer novas amizades enquanto a vida lhes permite. Sitoe Manuel e Ernesto José enfrentam juntos os problemas e reclamam do pouco apoio que recebem do INAS. "Mesmo com dificuldades, temos que ter fé e recordar os bons momentos que passámos. A amizade faz bem a uma pessoa", dizem.
Foto: DW/L. da Conceição
Sem alternativas
Japao Boane perdeu o emprego de motorista por causa da sua idade. Sem ter outra alternativa para se sustentar, decidiu abrir uma pequena banca em frente à sua residência para vender pequenos produtos, como rebuçados e bolachas. Ele diz sentir-se excluído da sociedade.
Foto: DW/L. da Conceição
Investir em pequenos negócios
Joana Chaquir luta todos os dias para sobreviver. Os filhos não lhe dão nenhum apoio. Ela decidiu começar um negócio para vender caldo e alface no mercado distrital de Morrumbene, em Inhambane. Com o que vende, consegue comprar um copo de arroz, meio litro de óleo e arroz.
Foto: DW/L. da Conceição
A perder as forças para trabalhar
Hawa Leka recebe um subsídio de 300 meticais fornecido pelo INAS. Com o dinheiro, começou a vender camarão e peixe seco em Inhambane. Ela afirma que está a perder as forças a cada dia que passa e não sabe o que será do seu futuro, caso não consiga mais trabalhar.
Foto: DW/L. da Conceição
Idosos assassinados pelos familiares
Araujo Nhanice, líder comunitário do povoado de Guicico, no distrito de Morrumbene, não recebe apoio do Governo e não sabe porquê. Ele alerta que, na sua comunidade, os casos de assassinato de idosos prosseguem e que os principais autores são familiares das vítimas.
Foto: DW/L. da Conceição
Esperança em dias melhores
Embora passem muitas dificuldades no dia-a-dia, os idosos de Inhambane ainda têm esperança de que melhores momentos virão. O rosto, no entanto, não esconde as marcas do sofrimento.