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Moçambique: Militares retiram-se e cresce esperança na paz

Lusa | tms
29 de abril de 2017

População do centro do país afirma que já não há tantos militares na região, e que os poucos que ainda estão por lá andam desarmados. Retirada das Forças de Segurança foi anunciada esta semana pelo Presidente.

Forças de Defesa e Segurança patrulhavam principalmente a região da Gorongosa (Foto de arquivo / Outubro de 2013)Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira

As Forças de Defesa e Segurança moçambicanas "começaram a sair da Gorongosa" e os militares que restam "andam sem arma", disseram este sábado (29.04) habitantes do centro de Moçambique, à agência de notícias Lusa.

Aos olhos da população, andar sem armas é sinal "de que já não há perigo". A desmobilização é a face visível dos avanços nas negociações de paz entre o Governo e o principal partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).

O Presidente da República, Filipe Nyusi, anunciou na quinta-feira que deu ordem de retirada das posições que os militares ainda ocupavam na região. Já os tinha mandado sair de outros postos e agora chegou a altura de abandonar um último reduto junto do que classificou ter sido "a principal base da RENAMO" durante as hostilidades.

"Não deve haver desconfianças entre moçambicanos", rematou, ao explicar que oficiais das Forças Armadas iam começar a trabalhar juntos em dois centros de controlo e vigilância das condições de paz, no centro e sul do país.

Construção da confiança

A confiança constrói-se depois dos confrontos de 2016: Forças de Defesa e Segurança moçambicanas e o braço armado da RENAMO trocaram fogo no centro e norte do país depois da recusa do maior partido da oposição em aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, exigindo governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.

Posto das Forças de Defesa e Segurança, na cidade de Inchope, no centro do país (Foto de arquivo / Novembro de 2013)Foto: E. Valoi

Foi o retorno da violência armada ao país, que ficou igualmente marcada por assassínios políticos de membros da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido do Governo, e da RENAMO e por ataques a alvos civis como autocarros, comboios de mercadorias, entre outros – vitimando um número desconhecido de pessoas, afundando a economia do centro do país e provocando uma crise de refugiados. 

Futuro de paz

Os moçambicanos que assistiram esta guerra de perto acalentam agora esperança no futuro ao ver a saída dos militares, como disse um comerciante local à agência Lusa. 

"Não há a avalanche de carros como foi aquando da entrada, mas o número de tropas diminui significativamente desde a trégua", iniciada em dezembro e desde então prolongada pelo líder da RENAMO, Afonso Dhlakama.

Os poucos militares "que ainda estão por aqui, circulam sem armas, como se estivessem avisando que já não há perigo", acrescentou.

Fonte militar confirmou à Lusa que as forças governamentais "estão a sair daqueles pontos em que controlavam acessos e movimentos na serra [da Gorongosa]".

Afonso Dhlakama e Filipe NyusiFoto: AFP/Getty Images/S. Costa

Agora até é possível contar quantos homens fardados estão em cada sítio. Numa primeira posição "só ficaram alguns homens da guarda-fronteira e da UIR [Unidade de Intervenção Rápida]. Em Mussicazi ficaram dois e no cruzamento para Casa Banana também ficaram muito poucos e não andam com armas", relatou um residente que passou este sábado por aquelas posições militares junto à N1, a principal estrada de Moçambique.

Próximo de Nhamapadza, os homens também se contam pelos dedos das mãos, pelo que "as coisas estão muito tranquilas", referiu.

Fim da trégua

O Presidente Filipe Nyusi e o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, têm feito declarações públicas em que se mostram confiantes num anúncio de paz efetiva após o período de tréguas declarado pelo líder da Renamo e que termina na quinta-feira, 04 de maio.

Além do pacote de descentralização e da cessação dos confrontos, a agenda do processo negocial integra a despartidarização das Forças de Defesa e Segurança e o desarmamento do braço armado da oposição e sua reintegração na vida civil.

Sejam quais for os consensos, a mobilização pela causa da paz tem de ser "massiva", disse à Lusa Fernando Faustino, secretário-geral da Associação dos Combatentes de Luta de Libertação Nacional (ACCLIN), à margem de um encontro do organismo, na sexta-feira, em Maputo.

"Todos os setores [têm de estar envolvidos], professores, académicos, camponeses, operários, estudantes, todos nós temos que estar nesta caminhada", concluiu.

 

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