Ministério Público pede condenação de ex-ministro da Justiça
Leonel Matias (Maputo)
3 de julho de 2017
Abduremane Lino de Almeida é indiciado de crimes de abuso do cargo e pagamentos indevidos usando fundos do Estado. Defesa defende que réu agiu em obediência a ordem do seu superior hierárquico, o Presidente da República.
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O antigo ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Abduremane Lino de Almeida, é indiciado de ter feito um despacho autorizando o pagamento de uma viagem para três pessoas sem vínculo com o Estado, a expensas do erário público.
As três pessoas viajaram a Meca para uma cerimónia religiosa. O custo da deslocação ascendeu a um montante equivalente a cerca de 1.780.000.00 mts, o equivalente a 250 mil euros. Lino de Almeida é ainda indiciado de ter-se beneficiado de ajudas de custo indevidas durante a viagem.
A sessão de julgamento desta segunda-feira (03.07.) foi reservada a apresentação das alegações finais por parte do Ministério Público e da defesa. Esta última reiterou que o réu não teve qualquer iniciativa de organização da viagem a Meca e que a deslocação das três pessoas resultou de uma ordem verbal do seu superior hierárquico, o Presidente da República, Filipe Nyusi.
Segundo o advogado de defesa, Augusto Chivangue, o réu não conhece e nem são das suas relações as pessoas indicadas para fazerem a viagem. Nega igualmente que ele tenha beneficiado da mesma. "Tudo o que o réu queria era ver devidamente cumprida a ordem do seu superior", acrescentou.
Defesa fala em "prática institucional"
O advogado de defesa observou ainda que conforme foi referido durante as audições do julgamento, após o seu regresso de Meca os três integrantes do grupo que foi a Meca foi recebido pelo Presidente Filipe Nyusi.
A defesa apontou, citando declarações feitas durante as audições durante o julgamento, que a indicação de pessoas para viajarem para Meca a expensas do Estado é uma prática institucional, seguida mesmo antes do réu ser nomeado ministro.
Por seu turno, o Ministério Público insiste em como o réu agiu em desconformidade com a lei e em consciência, notando ainda que se trata de alguém formado em Direito.
Para o Ministério Público, o réu devia ter reclamado e exigido uma informação por escrito dando conta da alegada ordem do Presidente da República. O Ministério Público exige a condenação exemplar do réu e o ressarcimento ao Ministério da Justiça pelos danos causados.
Entretanto, o juiz de causa João Guilherme, comentou após a apresentação das alegações finais que as práticas ilegais devem ser combatidas, apesar de se reconhecer a existência de irregularidades no funcionamento das instituições do Estado.
Abduremane Lino de Almeida: declarações só depois do fim do processo
03.07.2017 Caso Lino de Almeida - MP3-Mono
Interpelado pelos jornalistas a saída da sessão, o reú Abduremane Lino de Almeida limitou-se a afirmar que: "Ainda não está concluído o processo portanto não posso fazer nenhuma declaração”.
E o advogado de defesa Augusto Chivangue reagiu da mesma forma: "O processo ainda não chegou ao seu fim portanto continuo sob dever de não me pronunciar. Vamos esperar pela decisão final."
A leitura da sentença está marcada para o próximo dia 14 de Julho. O réu Lino de Almeida foi exonerado do cargo de Ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos em Março de 2016, um ano após ter tomado posse no início do mandato do atual Presidente da República, Filipe Nyusi.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.