"Governo moçambicano está a cumprir acordo com a RENAMO"
Leonel Matias (Maputo)
13 de dezembro de 2018
Ministro moçambicano da Defesa, negou que recentes nomeações interinas de três oficiais generais da RENAMO violou os entendimentos alcançados entre a liderança do maior partido da oposição e o Presidente Filipe Nyusi.
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O titular da pasta moçambicana da Defesa, Atanásio Salvador M'tumuke, afirmou esta quinta-feira (13.12.), em Maputo, que a nomeação de três oficiais generais da RENAMO na última terça-feira (11.12.) para ocuparem cargos de direção no Ministério da Defesa foi em cumprimento dos entendimentos alcançados no diálogo político entre o Presidente Filipe Nyusi e o falecido líder da RENAMO, Afonso Dhlakama.
"O falecido Presidente da RENAMO, é que indicou que os três deviam ocupar estes departamentos e para os quais foram nomeados", testacou M'tumuke.
Ontem, quarta-feira (12.12.), o porta-voz da RENAMO, José Manteigas, tinha afirmado numa conferência de imprensa que os entendimentos alcançados não previam que as nomeações fossem interinas.
"Todos são oficiais do exército moçambicano"Questionado pelos jornalistas, o ministro da Defesa afirmou que "ser interino não significa não ser um oficial. São oficiais, até porque estão aqui. E vocês podem não descobrir quem são esses oficiais. Todos são oficiais das forças armadas".
O titular da pasta da Defesa falava a jornalistas à margem de uma cerimónia de tomada de posse de novos quadros superiores do Ministério que contou com a presença de oficiais do setor, incluindo os três generais da RENAMO recentemente nomeados para ocuparem cargos de direção.
14 quadros e não três
Numa outra inquietação levantada esta quarta-feira, a RENAMO afirmou que os entendimentos alcançados entre Nyusi e Dhlakama, no quadro do processo de desmilitarização, desmobilização e reinserção social das forças residuais da RENAMO, previam a nomeação de 14 quadros da RENAMO para a direção das forças armadas e não de apenas três.
Porém, o ministro da Defesa disse que "catorze não. Podem inventar. Os que falam nem estiveram com o Presidente da RENAMO. O que estamos à espera é a lista de 10 elementos para fazerem parte da Polícia da República de Moçambique. E quem escolheu esses departamentos foi o falecido Presidente Dhlakama".Os recém nomeados generais da RENAMO são o Brigadeiro Xavier António, que ocupa as funções de Diretor do Departamento de Operações , Comodoro Inácio Luís Vaz, Diretor do Departamento de Informações Militares e Brigadeiro Araújo Andeiro Maciacona, Diretor do Departamento de Comunicações.
Moçambique: Ministro da Defesa diz estar a cumprir acordo com a RENAMO
"Somos todos apartidários"
Dirigindo-se a estes generais, o ministro da Defesa, Atanásio M'tumuke, afirmou que as forças de defesa de Moçambique são republicanas e deixou um apelo…
"Pela natureza e caráter sensível das funções incumbidas, exortamos que as decisões e missões, sejam orientados pelo espírito apartidário e pelo escrupuloso respeito à Constituição da República. Não deve existir no nosso seio, elementos provenientes deste ou daquele canto, somos todos apartidários, a nossa missão deve centrar-se na defesa da integridade territorial, da soberania do país e da coesão interna", afirmou o governante.
Os recém nomeados não tomaram posse por terem sido indicados para exercerem os novos cargos interinamente, segundo informou uma fonte do Ministério da Defesa.
"É militar e não um político"Questionado sobre o seu sentimento ao ser nomeado para exercer o novo cargo interinamente, o Comodoro Inácio Vaz foi evasivo na resposta afirmando que ele é militar e não um político.
"Já desempenhei várias funções nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique, o que aconteceu é no âmbito político".
Inácio Vaz está há vários anos nas Forças Armadas indicado pela RENAMO.
"Lá onde eu vou conheço a casa, não vou para um sítio que não conheço. As pessoas que estão lá são colegas e foram colegas. A partir de hoje eu tenho uma grande responsabilidade na área onde vou. Agora temos aquela situação que está em Cabo Delgado precisamos de entender de que fenómeno se trata".
Por seu turno, o Brigadeiro Xavier António, que integra as Forças Armadas de Defesa de Moçambique desde a sua criação em 1994 proveniente da RENAMO disse que "a mudança de funções para um militar é para cumprir outras missões. Eu sinto isso como tantas vezes ao longo da minha carreira que fui mudando de tarefas. Tudo isso é normal", concluiu.
20 Anos de Paz em Moçambique: Uma viagem
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos.
Foto: Marta Barroso
A guerra presente todos os dias
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos. Joula estava grávida de oito meses quando uma mina anti-pessoal lhe arrancou um pé em 1991. Na noite anterior, a RENAMO tinha atacado a aldeia e plantado minas em redor.
Foto: Marta Barroso
De armas a enxadas... ou cadeiras
Desde 1996, o projeto "Armas em Enxadas" dá um novo destino ao material bélico que destruiu milhares de vidas durante a guerra civil. O objetivo da iniciativa, lançada pelo Conselho Cristão de Moçambique, é criar, com as armas, obras de arte com mensagens de paz. Muitas peças foram encontradas pelo país, outras foram recolhidas a privados.
Foto: Marta Barroso
Ataques inesperados
São as mesmas armas que há 20 anos eram usadas para atacar seres humanos como estes refugiados em Chamanculo, perto da capital, Maputo, em 1992. Chamanculo nunca recuperou da chegada de milhares de refugiados da guerra civil. Ainda hoje, é um bairro pobre. Foi aqui que nasceram figuras ilustres do país como Maria de Lurdes Mutola.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Ruas desertas em Maputo
A guerra, que se arrastou por 16 anos, atrasou o desenvolvimento do país. Também a vida social sofreu, até mesmo na capital. Engarrafamentos eram, durante a guerra e nos primeiros anos seguintes, algo raro como se pode ver nesta fotografia do centro de Maputo de 1992.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da guerra
Em 1990, Moçambique era considerado o país mais pobre do mundo. Em 2011, ocupava o lugar 184 entre 187 Estados no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD. 20 anos depois de assinada a paz, os moçambicanos continuam a viver, em média, 50 anos.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da paz
20 anos depois do Acordo Geral de Paz, ainda há muito que fazer no combate à pobreza em Moçambique. As províncias do Niassa, de Maputo, Cabo Delgado e Tete (na imagem) são, segundo o Programa da ONU para o Desenvolvimento, PNUD, as que têm maior incidência de pobreza no país.
Foto: Marta Barroso
Casa de Espera
Iniciativas como esta na aldeia de Vinho, no Parque Nacional da Gorongosa, província de Sofala, contribuem para diminuir a mortalidade infantil e materna. Atualmente, em Moçambique cerca de 500 mães morrem por cada 100 mil crianças nascidas vivas. Para evitar que isso aconteça na aldeia de Vinho, a Casa de Espera assiste as mulheres grávidas das redondezas na preparação dos partos.
Foto: Marta Barroso
Economia dominada por megaprojetos
A paz possibilitou megaprojetos, como o da exploração de carvão em Moatize, Tete. De futuro, a esperança é de que os rendimentos destes projetos beneficiem mais a população. Devido aos incentivos fiscais de que gozam as multinacionais ligadas a eles, o Estado moçambicano deixa de ganhar mais de 200 milhões de dólares por ano, segundo o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE).
Foto: Marta Barroso
Carvão, a euforia de Tete
74 toneladas de carvão já estão carregadas nesta transportadora que pode levar até 400 toneladas. O carvão da província central de Tete tem vindo a atrair investidores nacionais e internacionais à procura do "El Dorado" que tem limitado a diversificação da economia nacional na segunda década de paz em Moçambique.
Foto: Marta Barroso
Cahora Bassa...
Durante a guerra civil, as linhas de transmissão de Cahora Bassa foram alvo de ataques da RENAMO. Hoje, a barragem funciona em pleno. Cahora Bassa tem uma capacidade instalada de 2.075 megawatts, a maior parte da energia é exportada para os países da região: 70% para a África do Sul e 5% para o Zimbabué. Apenas um quarto da eletricidade aqui produzida é consumida em Moçambique.
Foto: DW/M. Barroso
... um elefante branco para esta área do país?
Ainda há poucas casas em redor de Cahora Bassa com acesso regular à eletricidade. Para o economista moçambicano Carlos Castel-Branco do IESE, dever-se-iam estender as bases do desenvolvimento do país às aldeias e vilas em torno da barragem para que também aqui a vida económica se transformasse num elemento de estímulo para o investimento.
Foto: Marta Barroso
Gentes ligadas
A reabilitação das infraestruturas permite agora uma maior mobilidade e fomenta o comércio interno. A linha férrea de Sena liga a província de Tete, no interior de Moçambique, à cidade portuária da Beira. No tempo da guerra civil, foi encerrada e acabou por ser completamente destruída. Nos últimos anos, o corredor ferroviário foi reabilitado para escoar sobretudo o carvão da região de Tete.
Foto: Marta Barroso
Gentes apertadas
O comboio é um dos meios de transporte mais baratos em Moçambique. Em fevereiro de 2012, a Linha de Sena abriu a passageiros em toda a sua extensão. A reconstrução foi feita por troços e acabou por tomar muito mais tempo que o previsto, porque o consórcio indiano responsável pelas obras não cumpriu diversos prazos. Grande parte do dinheiro veio do Banco Mundial.
Foto: Marta Barroso
Há esperança em Moçambique
Idalina Melesse viajou de comboio pela primeira vez em 2012. Durante a guerra civil, os ataques impediram-na de se mover dentro do país. Desde então e até à reabertura da Linha de Sena, não tinha tido dinheiro para longas viagens. A Linha de Sena e outras infraestruturas não só unem moçambicanos, mas devolvem-lhes a liberdade de movimento e a facilidade de comunicação confiscadas pela guerra.