Momade sai da Gorongosa para se encontrar com Nyusi
Leonel Matias (Maputo)
27 de fevereiro de 2019
Encontro entre o Presidente Filipe Nyusi e o líder da RENAMO Ossufo Momade, em Maputo, termina sem declarações à imprensa. Ainda não se sabe se a saída de Momade da Gorongosa é definitiva ou não.
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O chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi e o líder da RENAMO, Ossufo Momade, encontraram-se esta quarta-feira (27.02.) pela primeira vez na capital do país, Maputo, na Presidência da República.
Os dois líderes fizeram-se acompanhar pelos respetivos membros na Comissão de Assuntos Militares.
Nenhuma das partes fez declarações à imprensa no final do encontro, integrado nos esforços por uma paz definitiva para o país.Num comunicado posteriormente distribuído à imprensa, as duas partes congratularam-se pelos avanços no processo de enquadramento efetivo nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique de oficiais oriundos da RENAMO, e comprometem-se a honrar todos os compromissos assumidos no âmbito do Memorando de Entendimento sobre assuntos militares.
Elementos da RENAMO na polícia
O documento indica ainda que o Presidente da RENAMO, Ossufo Momade, assegurou que serão, em breve, entregues as listas do seu pessoal a integrar na polícia.
Os dois líderes reafirmaram a sua determinação em continuar a manter o diálogo ao mais alto nível e reforçar a comunicação, tendo concordado em concluir a fase principal de um processo que culminará num acordo de paz para a cessação definitiva das hostilidades, o mais cedo possível.
Comentando a deslocação de Ossufo Momade a Maputo a partir da Serra da Gorongosa onde está a residir, o analista Calton Cadeado salientou que se trata de um gesto de retribuição por parte do Presidente da RENAMO às visitas que o Chefe de Estado efetuou à Gorongosa e Beira onde se encontraram."Este é um reforçar da legitimidade do Chefe de Estado, que está a trazer a condução das negociações para um espaço mais próximo de diálogo direto entre as duas lideranças fora de Gorongosa. Isto dá a entender que o Chefe de Estado consegue mobilizar a simpatia do Sr. Ossufo Momade a ponto de colocá-lo aqui em Maputo", disse Cadeado.
Confiança no processo
Cadeado recorda que num recente encontro técnico ficou prometido que haveria sessões semanais, sendo provável que estejam a acontecer alguns avanços que ainda não são do domínio público. Isso pode estar a aproximar de novo as parte, avança o analista.
Para Calton Cadeado, as recentes nomeações de 14 oficiais da RENAMO para cargos de direção nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique são "um sinal do Governo que está a mostrar interesse em avançar com o processo de negociação para a desmobilização, desarmamento e reintegração ( DDR). Mas também não podemos ignorar que o próprio líder da RENAMO neste momento está sob pressão da ala político-militar dentro do partido. Então qualquer gesto desta natureza que o aproxime ao Chefe de Estado e permita avançar com o DDR também serve para lhe conferir um pouco mais de legitimidade dentro da própria RENAMO".
Moçambique: Líder da RENAMO sai da Gorongosa para se encontrar com Presidente Filipe Nyusi
Encontos marcados por secretismo
Calton Cadeado considera que há um claro sinal de que o maior partido da oposição em Moçambique tem muito interesse em avançar com o processo de desmobilização, desmilitarização e reintegração das suas forças porque já ficou insustentável para a RENAMO continuar a manter homens armados.
O diálogo entre o Presidente moçambicano e o líder da RENAMO tem sido criticado por estar rodeado de um certo secretismo.
Para Calton Cadeado "apesar de ser contra este modelo de secretismo, parece-me que os resultados estão aí à vista, são incontestáveis. Enquanto os resultados falarem por si próprios não podemos ir contra a mão. Contra factos não há argumentos", concluiu o anlista.
20 Anos de Paz em Moçambique: Uma viagem
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos.
Foto: Marta Barroso
A guerra presente todos os dias
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos. Joula estava grávida de oito meses quando uma mina anti-pessoal lhe arrancou um pé em 1991. Na noite anterior, a RENAMO tinha atacado a aldeia e plantado minas em redor.
Foto: Marta Barroso
De armas a enxadas... ou cadeiras
Desde 1996, o projeto "Armas em Enxadas" dá um novo destino ao material bélico que destruiu milhares de vidas durante a guerra civil. O objetivo da iniciativa, lançada pelo Conselho Cristão de Moçambique, é criar, com as armas, obras de arte com mensagens de paz. Muitas peças foram encontradas pelo país, outras foram recolhidas a privados.
Foto: Marta Barroso
Ataques inesperados
São as mesmas armas que há 20 anos eram usadas para atacar seres humanos como estes refugiados em Chamanculo, perto da capital, Maputo, em 1992. Chamanculo nunca recuperou da chegada de milhares de refugiados da guerra civil. Ainda hoje, é um bairro pobre. Foi aqui que nasceram figuras ilustres do país como Maria de Lurdes Mutola.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Ruas desertas em Maputo
A guerra, que se arrastou por 16 anos, atrasou o desenvolvimento do país. Também a vida social sofreu, até mesmo na capital. Engarrafamentos eram, durante a guerra e nos primeiros anos seguintes, algo raro como se pode ver nesta fotografia do centro de Maputo de 1992.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da guerra
Em 1990, Moçambique era considerado o país mais pobre do mundo. Em 2011, ocupava o lugar 184 entre 187 Estados no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD. 20 anos depois de assinada a paz, os moçambicanos continuam a viver, em média, 50 anos.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da paz
20 anos depois do Acordo Geral de Paz, ainda há muito que fazer no combate à pobreza em Moçambique. As províncias do Niassa, de Maputo, Cabo Delgado e Tete (na imagem) são, segundo o Programa da ONU para o Desenvolvimento, PNUD, as que têm maior incidência de pobreza no país.
Foto: Marta Barroso
Casa de Espera
Iniciativas como esta na aldeia de Vinho, no Parque Nacional da Gorongosa, província de Sofala, contribuem para diminuir a mortalidade infantil e materna. Atualmente, em Moçambique cerca de 500 mães morrem por cada 100 mil crianças nascidas vivas. Para evitar que isso aconteça na aldeia de Vinho, a Casa de Espera assiste as mulheres grávidas das redondezas na preparação dos partos.
Foto: Marta Barroso
Economia dominada por megaprojetos
A paz possibilitou megaprojetos, como o da exploração de carvão em Moatize, Tete. De futuro, a esperança é de que os rendimentos destes projetos beneficiem mais a população. Devido aos incentivos fiscais de que gozam as multinacionais ligadas a eles, o Estado moçambicano deixa de ganhar mais de 200 milhões de dólares por ano, segundo o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE).
Foto: Marta Barroso
Carvão, a euforia de Tete
74 toneladas de carvão já estão carregadas nesta transportadora que pode levar até 400 toneladas. O carvão da província central de Tete tem vindo a atrair investidores nacionais e internacionais à procura do "El Dorado" que tem limitado a diversificação da economia nacional na segunda década de paz em Moçambique.
Foto: Marta Barroso
Cahora Bassa...
Durante a guerra civil, as linhas de transmissão de Cahora Bassa foram alvo de ataques da RENAMO. Hoje, a barragem funciona em pleno. Cahora Bassa tem uma capacidade instalada de 2.075 megawatts, a maior parte da energia é exportada para os países da região: 70% para a África do Sul e 5% para o Zimbabué. Apenas um quarto da eletricidade aqui produzida é consumida em Moçambique.
Foto: DW/M. Barroso
... um elefante branco para esta área do país?
Ainda há poucas casas em redor de Cahora Bassa com acesso regular à eletricidade. Para o economista moçambicano Carlos Castel-Branco do IESE, dever-se-iam estender as bases do desenvolvimento do país às aldeias e vilas em torno da barragem para que também aqui a vida económica se transformasse num elemento de estímulo para o investimento.
Foto: Marta Barroso
Gentes ligadas
A reabilitação das infraestruturas permite agora uma maior mobilidade e fomenta o comércio interno. A linha férrea de Sena liga a província de Tete, no interior de Moçambique, à cidade portuária da Beira. No tempo da guerra civil, foi encerrada e acabou por ser completamente destruída. Nos últimos anos, o corredor ferroviário foi reabilitado para escoar sobretudo o carvão da região de Tete.
Foto: Marta Barroso
Gentes apertadas
O comboio é um dos meios de transporte mais baratos em Moçambique. Em fevereiro de 2012, a Linha de Sena abriu a passageiros em toda a sua extensão. A reconstrução foi feita por troços e acabou por tomar muito mais tempo que o previsto, porque o consórcio indiano responsável pelas obras não cumpriu diversos prazos. Grande parte do dinheiro veio do Banco Mundial.
Foto: Marta Barroso
Há esperança em Moçambique
Idalina Melesse viajou de comboio pela primeira vez em 2012. Durante a guerra civil, os ataques impediram-na de se mover dentro do país. Desde então e até à reabertura da Linha de Sena, não tinha tido dinheiro para longas viagens. A Linha de Sena e outras infraestruturas não só unem moçambicanos, mas devolvem-lhes a liberdade de movimento e a facilidade de comunicação confiscadas pela guerra.