Moto-taxistas de Manica acusam polícia de corrupção
Bernardo Jequete (Manica)
13 de abril de 2018
Moto-taxistas acusam polícias de cobrarem multas descabidas - muito mais altas do que o previsto na lei. Além disso, contestam uma taxa mensal exorbitante para exercer a atividade e pedem ao Conselho Municipal para agir.
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Os moto-taxistas da capital provincial de Manica, Chimoio, acusam agentes da polícia local de cobranças ilícitas. Um profissional contou à DW África o que lhe aconteceu, mas pediu para não ser identificado, por medo de represálias.
"Esse polícia municipal disse que eu estava multado em 900 meticais. Eu disse que não tinha ali esse valor e ele perguntou.me quanto tinha. Respondi que não tinha nada e ele mandou-me procurar 300 meticais. Eu deixei a minha mota com eles e fui a casa procurar os 300 meticais. Quando trouxe o dinheiro, o polícia já se tinha ido embora com a minha mota para o comando. Fui atrás dele e no comando expliquei a situação ao oficial que estava lá. Ele deu-me a mota e não paguei a multa, nem se quer 10 meticais, não me pediu dinheiro", relata o moto-taxista.
Este não é um caso isolado, de acordo com Chiganda Isaías, o representante dos moto-taxistas em Chimoio. Há agentes da polícia nas ruas que chegam a cobrar multas de 5 mil meticais (cerca de 66 euros), muito acima do que está previsto na lei, denuncia Isaías.
"Não está tudo bem, estão a fazer coisas que não ajudam e as multas que eles estão a passar aos colegas de táxi-motas é muito elevada. Ultimamente eles dão multas de 5 mil, 4 mil e 3 mil. E para além disso não encaminham as mota apreendida para o comando, os polícias giram com as motas e isso que dói a todos moto-taxistas", contesta Isaías.
Vereador esclarece
Em resposta, Lucas Chiguma, vereador para o Pelouro dos Transportes, afirma que, a serem verdadeiras as acusações dos moto-taxistas, os polícias estão a agir ilegalmente.
Moto-taxistas de Manica acusam polícia de corrupção
"Confirmo que é exatamente corrupção e chamamos a atenção a todos operadores taxi-motos para não serem padrinhos deste tipo de situações", diz o governante.
O vereador esclarece ainda que "o indivíduo multado legalmente tem de depositar o valor da multa nos cofres do Conselho Municipal onde recebe um talão e os seus documentos a posteriori. [Não há uma entrega directa do valor ao polícia para uma determinada multa."
PRM pede que se façam denúncias
Mas a polícia nega que haja cobranças ilícitas. O porta-voz do Comando da Polícia Municipal em Chimoio, Paulo Eduardo Gimo, refere que as multas estão bem tabeladas. Por exemplo, quem for apanhado sem capacete, livrete, carta e licença anual de circulação tem de pagar 3.500 meticais (cerca de 40 euros).
"Face a isso, aquele moto-taxista que for flagrado sem esses requisitos todos tem as suas devidas multas", esclarece o porta-voz do Comando da Polícia Municipal em Chimoio.
A polícia pede, no entanto, aos cidadãos que denunciem possíveis irregularidades: "Se houver um caso isolado relacionado a isso pedimos que o próprio moto-taxista se dirija ao comando da Polícia Municipal e tenha melhor esclarecimento para evitar especulações."
Os moto-taxistas queixam-se ainda da taxa mensal cobrada pela edilidade, de 450 meticais (cerca de seis euros), para poder exercer a profissão. E reclamam da insegurança nas ruas.
Nos primeiros meses deste ano, dois moto-taxistas foram mortos. No ano passado, foram sete. Recentemente, centenas de moto-taxistas fizeram greve, em protesto. Por isso, pedem à edilidade para agir.
País pobre com táxis de luxo
Táxis e autocarros da Mercedes-Benz definem o cenário nas ruas de Bissau. Quase todos os taxistas deste país pobre conduzem viaturas da construtora alemã de carros topo da gama, sobretudo modelos a gasóleo dos anos 80.
Foto: DW/B. Darame
Táxis da Mercedes-Benz por todo o lado em Bissau
Nas estradas da Guiné-Bissau, país situado na África Ocidental, prevalecem carros da marca Mercedes-Benz. Apesar deste ser um dos países mais pobres do mundo, ocupando a 12ª posição a contar do fim no índice de desenvolvimento humano das Nações Unidas, quase todos os taxistas conduzem viaturas da Daimler, construtora alemã de carros topo da gama.
Foto: DW/B. Darame
Modelos resistentes a gasóleo
Os modelos mais resistentes são também os mais procurados. Ao contrário dos modelos modernos, os mais antigos podem ser reparados pelos proprietários e condutores sem conhecimentos de informática. Quase a totalidade dos transportes públicos de Bissau, com os seus 400 000 habitantes, é operada com táxis coletivos e mini-autocarros da marca Mercedes-Benz.
Foto: DW/B. Darame
Amado conduz este Mercedes-Benz desde 1999
Um tio que emigrou para a Alemanha em 1997 enviou este Mercedes para Bafatá, no leste do país, para apoiar a família. Em 1999, o carro foi levado para a capital, Bissau. Desde então serve de ganha-pão ao taxista Amado. As receitas chegam para pagar o almoço e o jantar a toda a família.
Foto: DW/B. Darame
Todos os táxis são táxis coletivos
Tal como todos os taxistas em Bissau, também Amado recolhe sempre vários passageiros que querem ir mais ou menos para o mesmo lado. Os táxis de Bissau estão quase sempre em movimento. Se ainda há um lugar livre, pode-se mandar parar o táxi. Mas o destino deve ser próximo daquele dos restantes passageiros. Também é possível ter o uso exclusivo do táxi, mas é mais caro.
Foto: DW/B. Darame
Painéis dos anos 80
Uma apreciação do interior da viatura revela instrumentos clássicos dos anos 80. Este é o interior de um modelo 190D da série Mercedes-Benz W201. Entre 1982 e 1993 foram produzidos cerca de 1,8 milhões de exemplares deste predecessor da atual classe C. Olhando com atenção deteta-se no lado direito da imagem uma bandeira alemã. Este género de símbolos é muito popular entre os taxistas.
Foto: DW/B. Darame
Oficina da rua
Muitos táxis já têm mais de um milhão de quilómetros de rodagem, e, por isso, sofrem de numerosos defeitos. A reparação torna-se assim num negócio rentável, no qual se especializaram várias oficinas da rua. Sobretudo os jovens aprendem aqui como reparar os modelos da Mercedes-Benz, ocupação que lhes garante o sustento.
Foto: DW/B. Darame
Carros canibalizados
Hoje em dia é fácil obter em Bissau todas as peças sobressalentes dos modelos mais comuns da Mercedes-Benz. Elas não são importadas da Alemanha, mas extraídas dos numerosos táxis cujas carroçarias já não resistem ao uso. As viaturas são canibalizadas e usadas como depósito de peças de reposição. Neste caso foi extraído o bloco completo do motor para ser inserido noutro táxi.
Foto: DW/B. Darame
Investimento conjunto
Sete guineenses juntaram-se para comprar este táxi Mercedes-Benz. Com a matrícula, 42-11-CD, é um dos táxis mais conhecidos da cidade. No fim do mês, o condutor paga o aluguer aos proprietários. Quando o negócio anda de vento em popa, sobra o equivalente a 75 euros para cada um. O que na Guiné-Bissau é uma pequena fortuna. O rendimento médio per capita no país é inferior a 50 euros mensais.
Foto: DW/B. Darame
O modelo para carreiras de longo curso
O modelo 240TD da série 123 foi construído de 1975 a 1986, e é conhecido pelo nome de "sete plass" (sete lugares) na Guiné-Bissau. Este carro é considerado muito resistente e usado, sobretudo, para carreiras de longo curso. Este táxi coletivo faz a carreira de Bissau para Ziguinchor, na Casamansa (Casamance), no vizinho Senegal. A publicidade no para-brisas revela a sua origem.
Foto: DW/B. Darame
Furgonetas da Mercedes para rotas fixas
Enquanto os pequenos táxis coletivos têm rotas flexíveis, as grandes furgonetas da Mercedes-Benz cumprem carreiras fixas. É o caso deste mini-autocarro do tipo 210D ("Mercedes Transporter"), chamado de "toca-toca", que faz a ligação entre o centro da cidade o Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira em Bissau, como se pode ler na placa que diz “Aeroporto”.
Foto: DW/B. Darame
Miríade de tipos
Também há vários tipos de mini-autocarros, mas a preferência dos motoristas pelos modelos da Mercedes-Benz é evidente. Os carros desta marca têm a fama de ser resistentes. O furgão do tipo 210D foi construído na fábrica de Bremen, no norte da Alemanha, entre 1977 e 1995. Deste modelo de nome “Bremer Transporter” foram fabricados 970.000 unidades. Hoje ele é construído sob licença na Índia.
Foto: DW/B. Darame
A importação é sempre de segunda mão
Tanto as furgonetas amarelas e azuis que servem de mini-autocarro como os táxis azuis e brancos são geralmente importados em segunda mão. Normalmente os carros oriundos da Europa entram em África via Banjul, cidade portuária na vizinha Gâmbia. Daí seguem via sul do Senegal e norte da Guiné-Bissau para a capital, Bissau. Onde são pintados nas cores típicas.
Foto: DW/B. Darame
Parte integrante do cenário de Bissau
Na imagem, vários táxis pintados em azul e branco seguem numa estrada secundária de terra batida em Bissau. Os táxis da Mercedes-Benz são hoje parte integrante do cenário da capital da Guiné-Bissau. Como as viaturas são muito resistentes e fáceis de reparar, é muito provável que os modelos dos anos 80 e do início da década 90 ainda possam ser admirados por muito tempo nas ruas de Bissau.