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MSF pede mais apoio para controlar cólera em Moçambique

Delfim Anacleto
31 de janeiro de 2023

A cólera continua a assolar Moçambique e já afeta três províncias. Segundo a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que está a apoiar o país no terreno, é urgente formar mais pessoal de saúde para lidar com a doença.

Foto: Igor G. Barbero/MSF

Até à semana passada, as autoridades sanitárias já tinham confirmado a doença nas províncias de Niassa, no norte, e em Sofala e Tete, centro do país.

Segundo a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), que está a apoiar as autoridades sanitárias no controlo do surto, "desde setembro de 2022, Moçambique tem registado um aumento preocupante de casos de cólera, particularmente na província do Niassa."

A MSF está a realizar doações e distribuições de produtos de higiene, além de levar a cabo formações para profissionais de saúde sobre o tratamento e de aumentar as medidas de prevenção e controlo de infeções.

Em entrevista à DW África, Sara Miro, coordenadora médica da organização, fala do aumento de casos e da falta de preparação do setor de saúde em lidar com a doença.

Sara Miro, coordenadora dos Médicos Sem FronteirasFoto: MSF

DW África: Qual é o cenário atual que se vive em Moçambique?

Sara Miro (SM): Atualmente a situação que se apresenta é já de mais de 1.500 casos no país, com vários distritos e províncias afetadas. Os dados oficiais são de aumento para esta semana, mas os dados exactos, o número exacto de casos e tudo o que é mais importante são as capacidades locais, as capacidades do Ministério da Saúde para travar o surto. Neste caso, estamos a encontrar, por exemplo, no Niassa, que já há muitos anos não tinha um surto, uma falta de capacidade de gestão dos centros de tratamento de diarreia, de gestão de casos. Há muito tempo que no Niassa não havia casos, portanto carece de pessoal de saúde formado e treinado para tratar dos casos. Portanto, precisam de mais apoio dos parceiros.

DW África: E como é que está a ser a resposta a esse surto de cólera?

SM: A nossa capacidade e experiência, as nossas pesquisas, são mais no manejo de casos e gestão de centros de tratamento, no tratamento do doente, na gestão do centro, que contém também um elemento muito importante de água, de saneamento, de procurar que a estrutura seja uma estrutura isolada do resto do meio hospitalar, isolada da população, que permita que os casos entrem ou fiquem ali ou não cheguem mais ali. Mas há também outras linhas de intervenção, como o trabalho comunitário, o trabalho com as comunidades, para passar a mensagem de que é importante ir ao centro de saúde quando se tem diarreia. Também fazemos um seguimento especial da família, das pessoas que convivem com o doente.

Já há mais de 1.500 casos de cólera no país, segundo dados da MSFFoto: Igor G. Barbero/MSF

DW África: Fala com grande enfoque na questão da disponibilidade de água potável, para que as pessoas possam higienizar-se. Em alguns pontos do país que são assolados pela cólera, no caso particular, por exemplo, de Lichinga, província do Niassa, há registo de falta de água em algumas zonas. Como é que os Médicos Sem Fronteiras, em parceria com as autoridades, estão a fazer para que as pessoas tenham água e possam prevenir-se da cólera?

SM: Nós participamos também na orientação de quais são os bairros que precisam de mais atenção. Se não têm capacidade para que todos os bairros tenham as quantidades de água necessárias, pelo menos aqueles bairros que apresentam mais casos em comparação com as semanas anteriores são prioritários. Às vezes as atividades não vão poder poder ser feitas no mesmo nível em todas as comunidades, porque há algumas que precisam de um pouco mais de atenção especial.

DW África: São três províncias afetadas, Niassa, Sofala e Tete. A MSF neste momento só está no Niassa?

SM: Só estamos no Niassa, ativamente com a intervenção ativa da cólera. Mas as nossas equipas trabalham tanto em Cabo Delgado, como em Nampula, como em Sofala. Temos equipas nas outras províncias que também estão a fazer preparação em colaboração com o Ministério [da Saúde] em cada província.

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