Manica: Mulheres queixam-se de discriminação nas autarquias
Bernardo Jequete (Manica)
2 de outubro de 2018
As mulheres representam metade dos votos no país, mas não têm forte presença na tomada de decisões nas autarquias. Com o aproximar das eleições autárquicas, a 10 de outubro, questiona-se o porquê da situação.
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Ivete Luís David, munícipe de Chimoio, lamenta que as mulheres ainda sejam pouco ouvidas na tomada de decisões, a nível administrativo.
Apesar disso, nas próximas eleições, Ivete David não deixa de ter expetativas: "Gostaria que o candidato que vencer [as autárquicas] enquadre a mulher em quase todos os setores de atividade do seu município."
A munícipe também considera que o novo edil "deveria criar fundos dentro do Conselho Municipal, e não só, visto que a mulher é vítima de várias situações e, por isso, é obrigada a ter um seguro para que possa garantir o seu futuro." E ela questiona: "A mulher é aquela que é abandonada com uma criança e o homem vai [embora] - como é que [ela] fica?"
Programas para mulheres nos manifestos eleitorais?
Segundo David, há mulheres em Moçambique com mais capacidades do que alguns homens, mas não lhes são confiadas tarefas como cargos de chefia, por exemplo. Daí que insista junto dos cabeças de lista para que incluam no seu manifesto eleitoral projetos que beneficiem a mulher em particular.
"O candidato tem que olhar mais para as mulheres e tentar enquadrá-las nas listas, seja para funções parlamentares ou municipais. O candidato que for eleito terá que criar mais associações para as mulheres moçambicanas como forma de melhorar as suas vidas e dar às mulheres mais força e protagonismo a nível nacional", pede a munícipe de Chimoio.
Face às reivindicações, a DW África ouviu políticos que estão na caça ao voto, para conhecer os projetos que cada partido propõe no seu manifesto eleitoral, que contemplem as mulheres. Afinal, elas representam cerca de metade dos votos do eleitorado.
Partidos cheios de promessas
A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, através do seu cabeça de lista em Chimoio, João Ferreira, disse ter projetos "invejáveis", desde que façam parte de associações ou grupos organizados. Ferreira acredita que, se o seu partido vencer as eleições, as mulheres de Chimoio terão um brinde, no que tange ao financiamento de pequenos projetos desenvolvidos por elas.
Mas ele lembra que "as mulheres têm que criar associações em todos os bairros, para que possamos oferecer máquinas de costura e tecidos para poderem trabalhar."
O cabeça de lista da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), maior partido da oposição, Manuel Macocove, faz igualmente promessas: "Vamos criar condições para que as mulheres também possam dirigir grupos de outras mulheres nos mercados. Vamos criar projetos que ajudem o desenvolvimento da mulher, para além de linhas de crédito que poderão também financiar os seus projetos."
Já Alberto Nota, cabeça de lista do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a segunda maior força da oposição, avança que "os projetos para a mulher serão diversificados, em função do que cada grupo definir". E, como é normal em tempos de caça ao voto, também faz promessas: "Iremos dar mais apoios e incentivos, por forma garantir que os projetos sirvam para gerar rendimentos no seio das famílias. Temos a agro-pecuária, a tecelagem, a prestação de serviços e o turismo."
Nampula: Capulanas podem ajudar a indústria têxtil a renascer?
A capulana faz parte da identidade da mulher moçambicana, sendo utilizada em várias ocasiões. Na província de Nampula, cresce o número de vendedores informais e clientes, no entanto, os preços continuam a ‘‘disparar’’.
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Capulana ‘‘aumenta’’ a beleza da mulher
A capulana conquistou, faz tempo, o coração de muitas das mulheres moçambicanas. Na província de Nampula, ela faz-se acompanhar por creme de mussiro na cara. E mesmo sem um sorriso, a beleza e as suas maravilhas falam por si. Nesta província nortenha de Moçambique, este tecido ganha ainda mais visibilidade em datas festivas entre os grupos de mulheres, mas não só.
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Homens apaixonados pela capulana
Antigamente em Nampula, assim como noutros pontos do país, o uso de capulana era exclusivo das mulheres, mas agora o cenário mudou. Muitos homens também a usam. Mandam costurar camisas, fatos, pastas, calções, entre outros. Domingos Chico é um deles. ‘‘Na verdade, gosto muito de roupa de capulana porque além de me sair barato faço, faço o feitio que quiser, desde fatos a calções’’, explica.
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Identidade moçambicana e africana
A capulana teve origem no continente asiático, só tendo chegado a África entre os séculos IX e X por meio de trocas comerciais entre os árabes e os povos que viviam no litoral do continente, com destaque para o Quénia, Mombaça e Ilha de Moçambique. Hoje, a capulana é um símbolo de identidade das mulheres moçambicanas. Há tanta adesão que há quem ache que ela surgiu em solo africano.
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Muitos clientes. Apenas uma fábrica
Em Nampula, os vendedores de capulanas dizem que pouco usam os produtos fabricados pela Nova Texmoque, a única fábrica têxtil da província, por entenderem que os tecidos não têm qualidade. ‘‘[Os clientes] desprezam [estes tecidos] porque dizem que a tinta sai e perdem a cor com facilidade. As capulanas que revendo provêem da Ásia e da China’’, conta um revendedor à DW.
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Pouco rendimento, dizem revendedores
A concorrência da capulana aumentou nos últimos anos, mas isso não beneficia os revendedores, sobretudo, os ‘‘retalhistas’’. Segundo contam à DW, atualmente as mulheres organizam-se em grupos par adquirir uma peça de capulana e dividem-na. ‘‘Entre 2000 e 2010, era normal num mês conseguir ganhar dez mil meticais, mas agora varia entre dois e três mil’’, lamenta, em entrevista à DW, um revendedor.
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Fazer dinheiro a custa das artes em capulana
Já Geraldo Constantino Maneira, conhecido por Jahmwene, tem a sua galeria de artes no quintal do Museu Nacional de Etnologia de Nampula e diz que a costura é o seu sustento. A capulana é uma das matérias-primas que usa na produção de artigos. Faz muito dinheiro nas vésperas das festas. ‘‘Não faço roupa por acaso, faço roupa tipicamente artística e que marca pela diferença. Há mais solicitação".
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Veste que ultrapassa as religiões
Inicialmente a capulana era usada frequentemente na região costeira desta província, sobretudo, por mulheres que professam a religião islâmica. Atualmente, e apesar de prevalência nesta região, as mulheres e homens do interior da província também a usam. Em festas religiosas, quer islâmicas, quer cristãs, as vestes têm como base a capulana.
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Calçado para todos os gostos
A capulana não serve apenas para enrolar no corpo e deixar a mulher mais bonita e deslumbrante. Recorrendo a este tecido, existem artistas que, todos os dias, fazem várias decorações em calçados para diferentes idades e sexos.