Dia Internacional para a Consciencialização do Albinismo, uma data instituída pelas Nações Unidas, celebrada este ano (13.06) sob o lema "brilhando a nossa luz para o Mundo”.
Publicidade
Moçambique não registou nenhum caso de rapto ou assassinato de pessoas albinas nos últimos 12 mêses, depois de um período negro em que se assistiu a uma escalada de violência. Só em 2015 tinham sido registados cerca de 60 casos.
Lourenço Timba, é o Presidente da Associação de proteção das pessoas com albinismo "Defendendo os nossos direitos", ao considerar que se trata de um "bom indicador" acrescentou que "nos últimos tempos não temos recebido queixas nesse sentido. E no último encontro que tivemos com a Comissão multissetorial do Governo não tivemos a indicação de algum caso registado. Pelo menos até ao momento esta situação parou".Recorde-se que os raptos e assassinatos de pessoas com albinismo eram praticados por indivíduos que acreditam que poções ou amuletos produzidos a partir de partes do corpo de pessoas albinas têm poderes mágicos.
Resposta enérgica à violência bruta
O escritor Mia Couto, que é igualmente membro da Comissão de Honra da Associação Kanimambo, recorda que os preconceitos transformaram-se depois numa forma de violência bruta. Aponta, porém, que houve uma resposta enérgica masfalta ainda muito para fazer.
"Em Moçambique houve pessoas presas até levaram penas muito pesadas. Isto pode ser um princípio para mostrar que há uma autoridade, que há um poder que não aceita esse tipo de discriminação".
O Governo aprovou em 2015 um plano multissetorial para combater a violência contra a pessoa albina. O plano prevê, entre outras medidas o reforço da consciencialização das populações e maior celeridade na tramitação dos processos relacionados com esses casos.
Discriminação e exclusão
Para Lourenço Timba, a discriminação e a exclusão constituem, neste momento, algumas das principais preocupações das pessoas albinas."A maior dificuldade é o acesso a educação porque o facto dos albinos terem problemas de miopia continua a ser um entrave estudar de forma fácil. Também temos questões de emprego em que as pessoas se queixam da falta de oportunidades de trabalho. Na área da saúde pelo menos nos últimos tempos tivemos uma ajuda do Governo em que os associados podem ter alguns produtos que ajudam na proteção da pele a um preço aceitável".
Moçambique não regista há um ano "casos" de albinos
Moçambique tem cerca de 20 mil pessoas com albinismo, 70% das quais são crianças, adolescentes e jovens, de acordo com dados oficiais.
As celebrações desta quarta-feira (13.06) do Dia Internacional para a Consciencialização do Albinismo foram marcadas pela realização de palestras, debates e exposições fotográficas sobre o dia a dia da pessoa albina.
Em Maputo a organização portuguesa Kanimambo completou a oferta de 90 óculos graduados a pessoas com albinismo que beneficiaram o ano passado de consultas gratuitas de oftalmologia numa iniciativa daquela ONG.
Margarida Carneiro é a Presidente da "Kanimambo" (obrigado) e disse à DW que "temos um grande trunfo na manga que queremos ver se concretizamos que é repetirmos em setembro a segunda missão de oftalmologia, mas queremos lançar também a primeira missão de dermatologia. Queremos atingir as 200 pessoas se for possível", concluiu.
Homenagem fotográfica aos albinos moçambicanos
Da autoria do fotógrafo brasileiro Davy Alexandrisky, a mostra "Preto Branco" é composta por 45 fotos e abriu ao público no início de agosto no Centro Cultural Brasil-Moçambique, em Maputo. Uma celebração das diferenças.
Foto: D. Alexandrisky
Celebração das diferenças
As fotos foram recolhidas em Moçambique pelo fotógrafo e artista visual brasileiro Davy Alexandrisky. A exposição procura mostrar o quotidiano dos albinos no trabalho, nos momentos de lazer e na vida privada, e sensibilizar para a luta pelos seus direitos. "A exposição é a celebração da vida plena a partir das diferenças", afirma Alexandrisky.
Foto: L. C. Matias
"Somos todos iguais"
Segundo Milton Munjovo, vice-presidente da Associação Amor à Vida, parceira do projeto, a principal mensagem que se pretende transmitir é de igualdade entre todos, respeito pelos direitos e dignidade de cada um. Munjovo defende a implementação de medidas de proteção dos albinas, como o acesso à educação, saúde e emprego, para melhorar a condição destas pessoas.
Foto: L. C. Matias
Afetos sem fronteiras
O amor, o carinho e o afeto ao próximo são marcas dominantes nestas fotos. "Homens e mulheres, negros e negras, não deixam de o ser por falta de melanina no organismo", escreve o autor da exposição.
Foto: L. C. Matias
Sensibilizar para os direitos dos albinos
Visitantes posam ao lado das fotografias no Centro Cultural Brasil-Moçambique, num gesto de empatia e cumplicidade com a causa. Em alguns países africanos, há registo de raptos e assassinatos de pessoas albinas, praticados por indivíduos que acreditam que poções ou amuletos produzidos a partir de partes do seu corpo têm poderes mágicos.
Foto: L. C. Matias
Pele diferente, hábitos iguais
Em Maputo, o local da exposição, uma jovem albina recorre a um serviço ambulante de estética para envernizar as unhas. O objectivo da mostra é precisamente demonstrar que os albinos são iguais aos outros seres humanos, apesar de necessitarem de uma atenção especial para proteger a vista e a pele da radiação solar.
Foto: Davy Alexandrisky
Poses espontâneas
As 45 fotografias que compõem a exposição "Preto Branco" foram captadas espontaneamente. Cada um posou ao seu gosto, de acordo com o autor Davy Alexandrisky. Na imagem, um par de jovens - ela albina, ele não - distribui música e sorrisos.
Foto: D. Alexandrisky
Menos casos de raptos
Não tem havido raptos e assassinatos de albinos nos últimos tempos, contrariamente ao terror que se vivia nesta altura em 2016, afirma Milton Munjovo, vice-presidente da Associação Amor à Vida. Munjovo estima que se tenham registado 20 casos de raptos nos primeiros sete meses deste ano, contra cerca de 50 em igual período no ano passado.
Foto: D. Alexandrisky
Luta pelos direitos dos albinos
Moçambique tem cerca de 20 mil pessoas albinas, segundo dados oficiais. Estima-se que, deste número, 70% sejam crianças, adolescentes e jovens. A maior parte dos albinos vêm de famílias carenciadas e são vulneráveis. O país celebrou pela primeira vez o Dia Mundial de Consciencialização do Albinismo em 2016 e aprovou um plano para combater a violência contra a pessoa albina.
Foto: Davy Alexandrisky
"Delicadeza impressionante"
Mussagy Jeichande, um dos visitantes, diz que a exposição consegue sensibilizar para o drama que os albinos sofrem em pleno século XXI. Considera que o fotógrafo conseguiu trazer a grande realidade de que o albino é um ser humano como qualquer outro. "A exposição revela, com profundidade, a sensibilidade do albino, do ponto de vista estético, de harmonia e da sensibilidade humana", afirma.