Apesar dos esforços das autoridades moçambicanas, população afetada pelo ciclone Idai diz ter fome. A situação mais preocupante é, neste momento, o distrito de Buzi, em Sofala, onde há 200 mil pessoas em risco.
Publicidade
Moçambique cumpre esta quinta-feira (21.03) o segundo dia de luto nacional em homenagem às vítimas do ciclone Idai, que devastou o centro do país há quase uma semana. Aquelas que são descritas por muitos como "as maiores cheias da história de Moçambique" fizeram até à data pelo menos 202 vítimas mortais e deixaram milhares de pessoas em situação de risco.
Seis dias passaram sem que a chuva dê tréguas. A situação mais preocupante é, neste momento, o distrito de Buzi, na província de Sofala, onde se encontram, segundo o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), 200 mil das 347 mil pessoas em risco. É para lá que estão a ser encaminhados os meios aéreos e marítimos disponíveis.
A vida depois do ciclone Idai
02:09
A prioridade é salvar vidas, disse à Lusa Claudio Julaia, especialista de emergência Do Fundo Internacional de Emergência para a Infância das Nações Unidas (UNICEF). "Ainda há muita gente sitiada na província de Sofala e de Manica, mas a prioridade está a ser o distrito de Buzi que está totalmente inundado e onde muitas pessoas ainda estão nos telhados das casas e nas infraestruturas acima da água", sublinha.
A previsão da UNICEF é que "nos próximos três a cinco dias todas as pessoas que estão ainda em zonas de risco possam estar seguras". Ainda há milhares de pessoas que estão à espera de serem resgatadas, em cima de telhados e de árvores. Salvar vidas é a prioridade, explicou à DW Jamie LeSueur, chefe das operações de emergência da Federação Internacional da Cruz Vermelha. "Estamos a montar centros de acolhimento. Já há 37 na Beira e o número deverá aumentar", adiantou.
Crianças com fome
Segundo a Cruz Vermelha, pelo menos 400 mil pessoas ficaram desalojadas na Beira, estando por isso a necessitar de assistência alimentar. Vinte e duas toneladas de alimentos foram descarregadas no domingo na cidade pelas Nações Unidas e outras 40 estão a caminho.
Moçambique: "Não temos comida, não temos nada"
This browser does not support the audio element.
A ajuda deverá chegar a todos nos próximos dias, prevê a UNICEF. Enquanto isso não acontece, as queixas da população multiplicam-se. "As crianças estão com fome, não temos comida, não temos nada", lamenta uma desalojada. As vítimas pedem também "apoio de energia " e alojamento. "Não temos casas, todas as casas estão mal, mesmo bem estragadas. Está tudo mal, desorganizado", ouve-se também entre as queixas.
Desde segunda-feira (18.03) foram canalizados para os três países afetados pelo ciclone - Moçambique, Zimbabué e Maláui - 52,2 milhões de euros, contabilizou a Lusa. O governo britânico, as Nações Unidas, a União Europeia e a União Africana são apenas alguns dos muitos governos e organizações internacionais que anunciaram, nos últimos dias, contribuições para ajuda humanitária.
Mau tempo dificulta resgate
As previsões meteorológicas para as próximas horas indicam que o mau tempo vai continuar a dificultar as operações de resgate. São esperadas chuvas intensas e trovoadas pelo menos até amanhã no centro do país.
A imprensa tem dado conta da possibilidade do Zimbabué, também atingido pelo ciclone, abrir em breve as comportas das suas barragens, o que dificultaria ainda mais a situação na província de Sofala, uma vez que as margens dos rios Púnguè e Buzi já rebentaram. No entanto, e questionado acerca desta realidade, Claudio Julaia, da UNICEF, garantiu que "essa é uma informação que não está confirmada."
Para os que querem ajudar, conclui Claudio Julaia, o mais importante agora para o apoio à população é o envio de víveres e abrigo. No entanto, e por causa da falta de eletricidade na cidade da Beira, "recomenda-se que a alimentação não sejam bens perecíveis ou não haverá capacidade de os conservar."
Ciclone Idai causa mortes e destruição
Ciclone Idai faz mais de 200 mortos em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi. Cerca de 90% da cidade moçambicana da Beira foi destruída com a passagem do ciclone Idai, segundo a Cruz Vermelha.
Foto: picture-alliance/AP/C. Haga
Ciclone Idai faz mais de 200 mortos
A passagem do ciclone Idai afetou mais de 1,5 milhões de pessoas em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Mais de 200 pessoas morreram nos três países e milhares estão desalojadas. O levantamento do número de vítimas está por concluir, dado que há locais de difícil acesso devido à subida do nível dos rios.
Foto: picture-alliance/AP/C. Haga
Beira é a cidade mais atingida de Moçambique
Há pelo menos 84 mortos em Moçambique, segundo os últimos dados. Mas o Presidente Filipe Nyusi afirma que "tudo indica que poderemos registar mais de mil óbitos". A cidade da Beira foi a mais afetada. Os ventos e chuvas fortes deixaram a cidade parcialmente destruída, sem luz nem telecomunicações.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Ciclone visto do espaço
Esta imagem de satélite feita pela NASA mostra a passagem do ciclone Idai pelos países africanos. "A situação é terrível, a magnitude da devastação é enorme", disse o líder da equipa de avaliação da Cruz Vermelha na Beira, Jamie LeSueur. "Enquanto o impacto físico do Idai começa a emergir, as consequências humanas ainda não estão claras", lê-se num comunicado.
Foto: NASA
Deslocados à procura de abrigo
Milhares de pessoas estão desalojadas na zona centro de Moçambique. O Presidente Filipe Nyusi, que sobrevoou a região, indicou que aldeias inteiras desapareceram nas enchentes e que há regiões totalmente incomunicáveis. "Vimos durante o voo corpos flutuando, um verdadeiro desastre humanitário de grandes proporções", assinalou o chefe de Estado.
Foto: DW/B. Chicotimba
Estrada de acesso à cidade da Beira fechada
Com as fortes chuvas, o nível dos rios subiu. Um deles, o rio Haluma, transbordou e cortou a estrada nacional 6, espinha dorsal do centro de Moçambique e única via de acesso à Beira. A cidade ficou isolada. Em entrevista à AFP, o ministro do Meio Ambiente de Moçambique, Celso Correia, afirmou que "este é o maior desastre natural ocorrido no país".
Foto: DW/A. Sebastião
Motoristas isolados na estrada
Isolados na estrada nacional 6, única via de acesso à Beira, moçambicanos aguardam até que a via seja desbloqueada. Formou-se uma longa fila de camiões e outros veículos. Os ventos fortes derrubaram postes.
Foto: DW/A. Sebastião
Noutras vias, mais destruição
A estrada número 260, que liga Chimoio a Mossurize, também não escapou à intempérie. A ponte sobre o rio Munhinga foi arrastada, isolando os dois distritos. Formaram-se enormes buracos nas rodovias, a isolar zonas de Moçambique e a dificultar o acesso às equipas de socorro.
Foto: DW/B. Chicotimba
A fúria das águas
A ponte sobre o rio Haluma, em Nhamatanda, zona central de Moçambique, ficou submersa. É mais uma zona afetada pelas cheias e pelo nível elevado dos rios. Uma camioneta que transportava dez pessoas foi arrastada ao passar pelo local. Seis pessoas morreram e quatro conseguiram salvar-se, penduradas em cima de um camião basculante.
Foto: DW/B. Chicotimba
População precisa de ajuda médica
Mais de cem salas de aulas ficaram destruídas nas regiões mais afectadas pelo ciclone e cheias nos distritos moçambicanos de Chinde, Maganja da Costa, Namacurra e Nicoadalá. Em visita à Zambézia, o Presidente Filipe Nyusi afirmou que, além de bens alimentares, a população necessita também, com prioridade, de assistência médica.
Foto: DW/M. Mueia
Ciclone Idai leva a cancelamento de voos
A passagem do fenómeno também afetou os transportes aéreos. O aeroporto da Beira ficou inoperante entre quinta-feira (14.03.) e domingo (17.03). Todos os voos domésticos foram suspensos. Dezenas de voos previstos para descolar do aeroporto internacional de Maputo, o maior de Moçambique, foram cancelados. O fecho dos aeroportos também dificultou a chegada de ajuda humanitária.
Foto: Getty Images/AFP/E. Josine
Depois de Moçambique, Zimbabué e Malawi
O ciclone Idai atingiu a Beira na quinta-feira (14.03), tendo seguido depois para oeste, em direção ao Zimbabué e ao Malawi, afetando mais milhares de pessoas, em particular nas zonas orientais da fronteira com Moçambique. Casas, escolas, empresas, hospitais e esquadras ficaram destruídas. Estradas e pontes desapareceram, o que dificulta os trabalhos de resgate.
Foto: picture-alliance/S. Jusa
Plantações devastadas pela força do ciclone
No Zimbabué, o número de mortos após a passagem do ciclone Idai chega a 82. O Presidente Emmerson Mnangagwa disse que a resposta do Governo está a ser coordenada pelo Departamento de Proteção Civil através dos comités de Proteção Civil nacional, provincial e de distrito, com o apoio de parceiros humanitários.
Foto: picture-alliance/S. Jusa
Ciclone Idai chega ao Malawi
Os distritos de Chikwawa e Nsanje, no Malawi, ficaram inundados com a passagem do ciclone Idai. Segundo o balanço mais recente do Departamento de Gestão de Riscos, no país foram registadas 56 mortes. Quase 1 milhão de pessoas foram afetadas pela passagem do ciclone. De acordo com a Federação Internacional da Cruz Vermelha, 80 mil viram as suas casas destruídas e estão sem onde se refugiar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gumulira
Cheias nos rios aumentam risco de doenças
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou as autoridades para a importância de se levar a cabo um levantamento dos estragos nos serviços de saúde, já que o agravamento das cheias nos próximos dias, devido à continuação de chuvas fortes, aumenta o risco do aparecimento de doenças transmissíveis pela água e pelo ar.