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Moçambique não pede ajuda à ONU para combater insurgentes

Leonel Matias (Maputo)
29 de setembro de 2020

Governo moçambicano não pondera solicitar às Nações Unidas envio de uma força para ajudar a combater os insurgentes em Cabo Delgado. "Proativismo" que situação exige não é de uma força de manutenção de paz, diz analista.

Soldado do Exército moçambicano em Naunde, alvo de ataque extremista (foto de arquivo)Foto: Borges Nhamire

A ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo, afirmou esta terça-feira (29.09) que Moçambique não equaciona solicitar, neste momento, o envio de uma força da ONU para ajudar o país a combater os alegados grupos jihadistas, no norte do país. Os ataques já resultaram em cerca de mil mortos e 250 mil deslocados internos.

"Não sei, nem sei se de facto seria a melhor prática agora, neste momento, trazer uma força das Nações Unidas. Eu creio que os nossos jovens [membros das Forças de Defesa e Segurança] que se encontram no terreno de operações estão a trabalhar", disse Verónica Macamo, citada pela Rádio Moçambique. 

Verónica Macamo: "O terrorismo é uma coisa muito complicada"Foto: DW/J. Carlos

A chefe da diplomacia moçambicana reconheceu, no entanto, que a situação em Cabo Delgado é complexa. "O terrorismo é uma coisa muito complicada, sobretudo estamos a falar de Cabo Delgado com aquele relevo, com aquela mata densa", disse.

"Não nos parece que haja problemas de falta de força ou de capacidade da parte dos nossos jovens militares ou polícias. Nos parece que, efetivamente, é a complexidade do terreno, mas que eles vão ganhando terreno, vão se esforçando e sentimos que os resultados estão aí", concluiu a ministra.

ONU não tem papel ofensivo

Em declarações à DW África sobre o posicionamento do Governo, o analista Fernando Lima observa que as Nações Unidas habitualmente não têm qualquer papel ofensivo, são forças de manutenção de paz. E não é este o atual cenário no teatro de operações, acrescenta o jornalista.

"Há uma situação que exige um 'proativismo' das forças no teatro de operações, que não pode ser a presença de uma força de manutenção de paz."

Ataques em Cabo Delgado já fizeram cerca de mil mortos e 250 mil deslocados (foto de arquivo)Foto: AFP/J. Nhamirre

Fernando Lima lembra que o Governo tem tido uma atitude muito contida em relação aos pedidos de apoios que faz internacionalmente, nomeadamente junto da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e mais recentemente da União Europeia (UE), em termos de questões logísticas.

"A perspetiva do Governo de Moçambique é contar sobretudo com as capacidades locais, não obstante não desprezar apoio material do exterior, significa meios financeiros ou meios logísticos para combater a violência em Cabo Delgado", observa.

Combater o terrorismo sem ajuda externa?

Mas será que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas estariam capacitadas para combater o terrorismo em Cabo Delgado sem ajuda externa?

"A resposta não pode ser sim ou não", afirma Fernando Lima, porque "ainda este ano a [reação] das Forças Armadas às ofensivas dos seus inimigos foi muito desastrada e foi consubstanciada na destruição e ocupação de algumas vilas de Cabo Delgado".

Contudo, mais recentemente, recorda ainda Fernando Lima, a resposta, quer das Forças Armadas de Moçambique, quer dos seus aliados externos, nomeadamente a força mercenária, parece demonstrar "mais equilíbrio nos combates que se têm desenrolado em Cabo Delgado, sobretudo a partir do princípio de maio deste ano."

Há cerca de duas semanas, Moçambique solicitou apoio logístico à UE para ajudar a combater os alegados jihadistas em Cabo Delgado. O embaixador da União Europeia, Antonio Sanchéz Benedito Gaspar, disse aos jornalistas que o bloco não vai deixar Moçambique de lado - pelo contrário, "é nos momentos difíceis que os amigos ainda são mais precisos", disse.

"Temos que criar mais condições de segurança no norte de Moçambique, mas também mais condições de crescimento económico equitativo sustentável de apoio a população. Nós estamos disponíveis para apoiar Moçambique a combater o terrorismo. Vamos ver quais são os pedidos em concreto de Moçambique", anunciou o diplomata.

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