Naufrágio causa pelo menos 12 mortos em Moçambique
DW (Deutsche Welle)
21 de julho de 2021
Pelo menos 12 pessoas morreram na terça-feira (20.07), em Cabo Delgado, vítimas do naufrágio de uma embarcação que ligava Pemba à ilha do Ibo. Mau tempo e excesso de carga podem estar na origem do acidente fatal.
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Entre as vítimas mortais estão pelo menos quatro crianças e oito adultos, embora as autoridades admitam a possiblidade de mais vítimas. Catorze sobreviventes foram resgatados e receberam acompanhamento médico na ilha do Ibo.
O barco saía da cidade de Pemba em direção à ilha do Ibo. De acordo com as autoridades marítimas daquela província, o timoneiro transportava 23 passageiros e mais três elementos da tripulação, perfazendo 26 pessoas a bordo.
"[O transportador] violou algumas normas de segurança marítima, porque carregou pessoas sem o uso dos meios de segurança marítima que são os coletes salva-vidas e largou a ancora antes da hora recomendada que são as 5 horas para sair a qualquer destino", disse Tauacale Avelino, administrador marítimo de Pemba que apontou o excesso de carga da embarcação como uma das prováveis causas do sinistro.
Mau tempo precipitou acidente
O sinistro ocorreu quando a embarcação navegava nas águas de Namaue, distrito de Metuge. As autoridades acrescentam que as condições climatéricas terão precipitado a embarcação para o acidente fatal.
"Quando chegaram à zona de Namaue, devido ao excesso de carga, com o mau tempo que se registava naquele local, essa embarcação naufragou. Algumas embarcações que passavam no local no momento do naufrágio resgataram alguns passageiros", explicou ainda Tauacale Avelino.
Moçambique: Turismo na Ilha do Ibo em baixa
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O condutor da embarcação sinistrada foi detido e será apresentado às autoridades judiciais para apuramento de responsabilidades.
De acordo com Tauacale Avelino, está em curso um inquérito que visa apurar os contornos do acidente.
"Carregou as pessoas à noite, onde não havia fiscalização. Nós retomámos às 4 horas para o local para desembarcar as embarcações e ele violou todas as normas, razão pela qual o motorista está sob custódia policial na ilha do Ibo. Tem de ser transferido para Pemba e fazer-se um inquérito", adiantou o administrador marítimo de Pemba.
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Autoridades reforçam fiscalização
Pelo menos outros dois acidentes marítimos ocorreram, no ano passado, nas águas de Cabo Delgado. Um sinistro envolveu uma embarcação que transportava pescadores do distrito de Memba, província de Nampula, para o distrito de Mocímboa da Praia. Pelo menos 12 pessoas morreram.
As autoridades marítimas dizem agora estar a intensificar as ações de fiscalização às embarcações que circulam na província.
"A administração marítima já não regista embarcações de passageiros e carga sem ter condições. Estamos a falar de meios de salvação, que são os coletes salva-vidas. E apelamos a esses transportadores que observem as normas de segurança marítima e quando virem que o tempo não favorece que não se ponham ao mar", concluiu o responsável.
Memórias dos refugiados africanos de Lampedusa
Lampedusa é como uma porta de entrada de imigrantes para a Europa. Mamadou Ba veio do Senegal, mas entrou como estudante bolseiro para Portugal. Estas fotos de Lampedusa refletem a sua visão da "ilha das tragédias".
Foto: Mamadou Ba
Porta de Lampedusa
Lampedusa é como uma porta de entrada para a Europa de milhares de imigrantes africanos. Mamadou Ba também veio de África, Senegal, mas não entrou por esta porta. Foi como estudante bolseiro para Portugal em 1997. É ativista da organização não governamental SOS Racismo. Mamadou Ba tirou estas fotografias em Lampedusa. Refletem a sua visão desta ilha, que viu tantas tragédias de refugiados.
Foto: Mamadou Ba
Cemitério de barcos
Estes cascos encontram-se no cemitério dos barcos. É aí que ficam os barcos que transportaram os refugiados para a ilha italiana. Foram muitas as vidas que se perderam nas travessias do Mediterrâneo. A maior tragédia aconteceu no dia 3 de outubro de 2013 quando 366 refugiados perderam a vida. No dia 11 de janeiro de 2014, cerca de 200 refugiados foram salvos pela marinha italiana.
Foto: Mamadou Ba
Morrer por querer viver
A ilha de Lampedusa tem vindo a ser considerada um cemitério para milhares de imigrantes que “morrem por procurar uma vida melhor”, nas palavras de Mamadou Ba. Só em outubro de 2013 mais de 400 pessoas perderam a vida em dois naufrágios a caminho do norte de África para a ilha de Lampedusa. A maioria dos mortos era oriunda da Eritreia e da Somália.
Foto: Mamadou Ba
Memória dos imigrantes
Pouco sabemos dos milhares que morreram durante as tentativas de chegar à Europa. A maior parte dos imigrantes mortos são conhecidos pelos números anónimos das notícias sobre os naufrágios. Deixam poucos rastros como estas roupas de náufragos, que mal se distinguem. Mas os mortos são também memória na ilha de Lampedusa.
Foto: Mamadou Ba
Objetos que humanizam
Na ilha existe um museu com objetos de vítimas dos náufragos como passaportes, fotografias pessoais e anotações. “O que os objetos nos mostram é um que a morte não consegue levar a memória. Alguns objetos podem mostrar quão humanos eram e quão simples eram os seus sonhos”, conta Mamadou Ba.
Foto: Mamadou Ba
Normalidade em alto mar
Os imigrantes levavam consigo os seus hábitos quotidianos e a sua cultura. Tentavam continuar esta normalidade nas arriscadas travessias, que lhes prometiam uma vida melhor na Europa. No entanto, não se sabe ao certo se os objetos expostos no museu, como estes tachos, pertenceram a pessoas que morreram ou a sobreviventes que "apenas" perderam os seus pertences na travessia.
Foto: Mamadou Ba
Memórias de vidas perdidas
Em muitos pontos da ilha italiana de Lampedusa podemos encontrar a memória dos imigrantes. "A memória serve para manter a vida do que já não vive“, diz Mamadou Ba. A ilha tem uma extensão de apenas nove quilómetros. Ela dista cerca de 205 quilómetros da Sicília, no sul de Itália, e de cerca de 130 quilómetros da Tunísia, o que torna Lampedusa num ponto de entrada ideal para a União Europeia (UE).
Foto: Mamadou Ba
Inimigo à vista
Este bunker da Segunda Guerra Mundial à entrada de Lampedusa servia para defender a ilha da invasão de forças navais inimigas. Mamadou Ba, da organização não governamental portuguesa SOS Racismo, acredita que este bunker é simbólico: “Lampedusa é a construção do imigrante como inimigo da Europa. Que é preciso conter, que é preciso combater.”
Foto: Mamadou Ba
Contra a "Fortaleza Europa"
Em fevereiro de 2014, mais de 400 representantes da sociedade civil, reunidos em Lampedusa, aprovaram a "Carta de Lampedusa". Ela defende uma mudança de paradigma sobre as realidades migratórias. Dado que são já "incontáveis as tragédias fatais que se têm sucedido nas costas marítimas europeias", os signatários querem ver a imigração e os direitos humanos dos imigrantes na agenda da UE.
Foto: ALBERTO PIZZOLI/AFP/Getty Images
O mar de Lampedusa
A pequena ilha italiana que fica no meio do Mediterrâneo entre a Sicília e o norte de África espera por dias melhores. Poucos pensam que os fluxos migratórios e as tragédias associadas vão acabar se não houver uma transformação radical das políticas de imigração da Europa.
Foto: Mamadou Ba
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Nota: Artigo atualizado às 10h30 hora da Alemanha do dia 22 de julho. Apagámos a informação de que o barco transportava bens do Programa Alimentar Mundial, pois esta organização das Nações Unidas nega a existência desta carga.