O Presidente moçambicano anunciou esta quinta-feira à noite a prorrogação do estado de emergência por mais 30 dias. Medida visa "controlar a propagação" da Covid-19 pelo país e evitar um "lockdown", afirmou Filipe Nyusi.
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A dois dias do fim do estado de emergência, em vigor desde 1 de abril, o Presidente Filipe Nyusi anunciou esta quinta-feira que decidiu "prorrogar pela segunda vez o estado de emergência por mais 30 dias em todo o território nacional, com início as zero horas do dia 31 de maio."
Filipe Nyusi explicou numa comunicação a nação que "estas medidas não visam acabar com a Covid-19, mas controlar a sua propagação pelo país e evitar que tenhamos de acionar as medidas de nível 4, ou seja o 'lockdown'. Visam atrasar ou achatar a curva de crescimento."
A decisão do chefe de Estado já foi submetida ao Parlamento, onde deverá ser apreciada esta sexta-feira (29.05). Filipe Nyusi lamentou que, apesar de um conjunto de medidas implementadas pelo Governo, ainda persistam algumas fragilidades. Acrescentou que os próximos 15 dias serão decisivos para a tomada de medidas de relaxamento.
Em Moçambique, todas as províncias têm já pessoas infetadas com Covid-19, na sequência do registo do primeiro caso nas últimas 24 horas na província do Niassa, revelou a Diretora Nacional de Saúde Pública, Rosa Marlene, durante uma conferência de imprensa.
O país contabilizou mais seis infetados, passando o número de casos cumulativos positivos para 233. Até agora, o país registou dois óbitos e 82 doentes recuperados.
Até outubro: Testagem em todas as províncias
Esta quinta-feira (28.05) o ministro da Saúde, Armindo Tiago, informou no Parlamento que a testagem da Covid-19, atualmente centralizada em Maputo, passará a ser realizada a partir de junho em cinco províncias, prevendo-se que as restantes sejam abrangidas até outubro.
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"Porque a nossa visão é uma visão nacional, a partir de outubro o nosso cronograma indica que o país estará coberto", assegurou.
Ajuda de Cuba, incluindo fármaco
Entretanto, foi anunciada a chegada no próximo fim de semana a Maputo de 60 médicos cubanos para apoiar nos esforços de prevenção da Covid-19.
"Quando chegarem não têm data de saída. Eles [ficam] aqui até ao momento em que Moçambique controle a pandemia", afirmou Pavel Díaz Hernández, embaixador de Cuba em Moçambique.
O diplomata disse ainda que Cuba vai fornecer em breve a Moçambique 20 mil doses de "Interferon", um fármaco produzido naquele país latino-americano responsável pelo reforço do sistema imunológico. As remessas cubanas poderão incluir igualmente outros dois fármacos que servem para estabilizar a imunidade.
"Vamos ter a diferença"
Moçambique recebeu até ao momento 309 milhões dos 700 milhões de dólares que solicitou a comunidade internacional para ajudar a prevenir e combater a Covid-19.
"Temos a certeza de que vamos ter a diferença", assegurou, no Parlamento, o ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, tendo acrescentado que a maior parte do montante destina-se à área social, no âmbito das medidas do Governo para reduzir o impacto da pandemia.
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"Duzentos e quarenta milhões é para as famílias e 160 milhões é para apoiar micronegócios. Nestes micronegócios estamos a ver todos aqueles que vivem de pequenos negócios, mas que hoje não o podem fazer", afirmou.
Segundo o governante, no âmbito deste projeto deverão ser assistidos cerca de 5 milhões de pessoas carenciadas em 42 distritos.
Projetos de emprego para locais de ataques
No Parlamento, os deputados questionaram ainda o Governo sobre os ataques de insurgentes na província de Cabo Delgado e de homens armados da autoproclamada Junta Militar no centro do país.
O primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, disse que o Governo vai continuar a levar a cabo intervenções multissetoriais nas duas regiões afetadas pela insegurança, "através de projetos de geração de emprego e de renda, sobretudo para beneficiar mulheres e jovens."
De acordo com Carlos Agostinho do Rosário, "esta abordagem tem estado a permitir a defesa das populações, o restabelecimento normal do funcionamento das instituições públicas e privadas, assim como a recuperação gradual da atividade económica nos distritos afetados na província de Cabo Delgado."
A bancada da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) voltou a responsabilizar a RENAMO pelos ataques no centro do país e apelou à Resistência Nacional Moçambicana para, em conjunto com a Junta Militar, encontrar uma solução para o fim dos ataques.
Contudo, o deputado da RENAMO, André Madjibiri, fez questão de frisar: "Em relação aos ataques da zona centro, gostaríamos de dizer, aqui e agora, que a RENAMO e o seu presidente, Ossufo Momade, distanciam-se desses atos. Deixamos a responsabilidade de proteger o povo e os seus bens ao Estado moçambicano."
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
Foto: DW/R. da Silva
Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
Foto: DW/R. da Silva
Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
Foto: DW/R. da Silva
Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
Foto: DW/R. da Silva
Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
Foto: DW/R. da Silva
Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
Foto: DW/R. da Silva
Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.