Presidente Nyusi promete fazer tudo para, o mais rápido possível, estancar os focos de intranquilidade provocados pela violência armada que assola alguns distritos de Cabo Delgado
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O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi defendeu esta quarta-feira (25.09.) durante a celebração dos 55 anos do início da Luta armada de Libertação Nacional, uma ação rápida e eficiente do Estado contra a violência na região de Cabo Delgado.
Filipe Nyusi descreveu como bárbaros os atos cometidos por grupos, que atuam em alguns distritos de Cabo Delgado desde 2017, e cujas motivações e mentores são desconhecidos. O Presidente moçambicano ordenou as Forças Armadas do país a darem uma resposta mais contundente para por fim ao fenómeno que já resultou na morte de um número indeterminado de pessoas e destruição de habitações e meios de sobrevivência.
Manter a paz em todo o país
Ao receber na terça-feira (24.09.) no seu gabinete oficiais do exército moçambicano para saudação, o Presidente Nyusi destacou que "já está tarde para cuidar deste assunto. Se for preciso voltarem à preparação para não através de politização das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, mas trabalharem na base de competência de comando, os comandantes no lugar próprio para poder resolver este problema. Concentrem-se na vossa missão principal e sobretudo quando o povo vive ameaçado. Erradicar a violência perpetrada por malfeitores em Cabo Delgado e manter a paz definitivamente sustentável e efetiva ao longo de todo o país".Na passada segunda-feira (23.09.) pelo menos dez pessoas morreram e várias casas, incluindo a sede da FRELIMO, partido no poder, foram incendiadas na sequência de mais um ataque armado no norte de Moçambique.
Caifadine Manasse, porta-voz da FRELIMO, confirmou à imprensa moçambicana a ocorrência do ataque contra uma sede do partido na aldeia de Mbau, distrito de Mocímboa da Paria, em Cabo Delgado.
Ataques desde 2017Recorde-se, que Cabo Delgado é a província que desde 2017 sofre, com uma certa frequência, ataques armados resultando em mortes de alvos civis e militares e destruição de habitações e dos meios de sobrevivência das comunidades. De acordo com números que circulam na imprensa moçambicana, a onda de violência já terá provocado a morte de, pelo menos, cerca de 200 pessoas, entre residentes, supostos agressores e elementos das forças de segurança.
Moçambique: Nyusi defende ação rápida e eficiente contra violência em Cabo Delgado
Para o substituto do governador provincial, Armindo Ngunga, estas ações têm por objetivo desviar o progresso do país."Perante as incursões sorrateiras de malfeitores nas nossas aldeias no norte e centro da nossa província, repudiamos o trabalho clandestino dos seus colaboradores e reafirmamos a nossa total confiança às Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e as Forças de Defesa e Segurança (FDS) no geral na protecção das populações e eliminação dessa agressão violenta contra o nosso povo, que pretende desviar o nosso foco de desenvolvimento económico e social de Moçambique".
Manutenção da paz desafiada
Entretanto, as FADM (Forças Armadas de Moçambique) consideram que mais do que nunca o seu papel é crucial para por fim a instabilidade criada por atacantes sem rosto. O General Afonso Lourenço Uathola foi quem leu a mensagem do exército.
"A manutenção da paz encontra-se desafiada especialmente na nossa província de Cabo Delgado, onde as Forças Armadas de Defesa de Moçambique encontram-se empenhadas em conservar a paz. Há insurgentes que estão a promover intolerância, inveja, assassinatos e guerras".
As autoridades policiais ao nível local não têm comentado assuntos relacionados aos ataques armados, remetendo quaisquer esclarecimentos ao Comando Geral da Polícia.
Cabo Delgado: Datas marcantes dos ataques armados
Começaram em outubro de 2017 em Mocímboa da Praia e já se alastraram a outros três distritos moçambicanos. Os ataques armados na província de Cabo Delgado, que somam já mais de 130 mortos, ainda não têm solução à vista.
Foto: DW/G. Sousa
Outubro de 2017
Os primeiros ataques de grupos armados desconhecidos na província de Cabo Delgado aconteceram no dia 5 de outubro de 2017 e tiveram como alvo três postos da polícia na vila de Mocímboa da Praia. Cinco pessoas morreram. Cerca de um mês depois, a 17 de novembro, as autoridades dão ordem de encerramento a algumas mesquitas por se suspeitar terem sido frequentadas por membros do grupo armado.
Foto: Privat
Dezembro de 2017
Surgem novos relatos de ataques nas aldeias de Mitumbate e Makulo, em Mocímboa da Praia. Na primeira semana de dezembro de 2017, terão sido assassinadas duas pessoas. Vários suspeitos foram identificados, tendo os moradores dado conta que os atacantes deram sinais de afiliação muçulmana. Por sua vez, a polícia desmentiu o envolvimento do grupo terrorista Al-Shabaab nestes ataques.
Foto: DW/G. Sousa
Janeiro a maio de 2018
Apesar de ter começado calmo, 2018 revelar-se-ia um ano de terror na província de Cabo Delgado com os ataques a alastrarem-se a mais distritos. Dada a gravidade da situação, a Assembleia da República aprovou, a 2 de maio, a Lei de Combate ao Terrorismo. Mas, no final do mês, dia 27, novos ataques foram realizados junto a Olumbi, distrito de Palma. Dez pessoas morreram, algumas decapitadas.
Foto: Privat
2 de junho de 2018
Dias mais tarde, a televisão STV dava conta que as forças de segurança moçambicanas haviam abatido, nas matas de Cabo Delgado, oito suspeitos de participação nos ataques. Foram ainda apreendidas catanas e uma metralhadora AK-47, além de comida e um passaporte tanzaniano. Por esta altura, já milhares de pessoas haviam abandonado as suas casas, temendo a repetição dos episódios de terror.
Foto: Borges Nhamire
4 de junho de 2018
Ainda se "festejava" os avanços na investigação das autoridades, e consequente abate dos suspeitos quando, a 4 e 7 de junho, se registaram novos incêndios nas aldeias de Naunde e Namaluco. Sete pessoas morreram e quatro ficaram feridas. Foram ainda destruídas 164 casas e quatro viaturas. O mesmo cenário voltou a repetir-se a 22 de junho: um novo ataque na aldeia de Maganja matou cinco pessoas.
Foto: Privat
29 de junho de 2018
Fortemente criticado por não se ter ainda pronunciado acerca dos ataques, o Presidente moçambicano Filipe Nyusi resolve fazê-lo, em Palma, perante um mar de gente. Oito meses e 33 mortos [25 vítimas dos ataques e oito supostos atacantes] depois... Em Cabo Delgado, Nyusi prometeu proteção aos cidadãos e convidou os atacantes a dialogar consigo, de forma a resolver as suas "insatisfações".
Foto: privat
Agosto de 2018
Depois de, em julho, um novo ataque à aldeia de Macanca - Nhica do Rovuma, em Palma, ter feito mais quatro mortos, Filipe Nyusi desafiou, a 16 de agosto, os oficiais promovidos no exército, por indicação da RENAMO, a usarem a sua experiência no combate contra estes grupos armados que, mais tarde, a 24 do mesmo mês, tirariam a vida a mais duas pessoas, na aldeia de Cobre, distrito de Macomia.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Setembro de 2018
Setembro de 2018 voltava a ser um mês negro no norte de Moçambique. Ataques nas aldeias de Mocímboa da Praia, Ntoni e Ilala, em Macomia, deixaram pelo menos 15 mortos e dezenas de casas destruídas. No final do mês, o ministro da Defesa, Atanásio Mtumuke, afirmou que os homens armados responsáveis pelos ataques seriam "jovens expulsos de casa pelos pais".
Foto: Privat
Outubro de 2018
Um ano após o início dos ataques em Cabo Delgado, a polícia informou que os mais de 40 ataques ocorridos, haviam feito 90 mortos, 67 feridos e destruído milhares de casas. Foi também por esta altura que Filipe Nyusi anunciou a detenção de um cidadão estrangeiro suspeito de recrutar jovens para atacar as aldeias. No final do mês, começaram a ser julgados 180 suspeitos de envolvimento nos ataques.
Foto: privat
Novembro de 2018
Novos relatos de mortes macabras surgem na imprensa. Seis pessoas foram encontradas mortas com sinais de agressão com catana na aldeia de Pundanhar, em Palma. Dias depois, o cenário repetiu-se nas aldeias de Chicuaia Velha, Lukwamba e Litingina, distrito de Nangade. Balanço: 11 mortos. Em Pemba, o embaixador da União Europeia oferecia ajuda ao país.
Foto: Privat
6 de dezembro de 2018
A população do distrito de Nangade terá feito justiça pelas próprias mãos e morto três homens envolvidos nos ataques. Na altura, à DW, David Machimbuko, administrador do distrito de Palma, deu conta que "depois de um ataque, a população insurgiu-se e acabou por atingir alguns deles". Entretanto, o Ministério Público juntou mais nomes à lista dos arguidos neste caso. Entre eles está Andre Hanekom.
Foto: DW/N. Issufo
16 de dezembro de 2018
A 16 de dezembro, e após mais um ataque armado no distrito de Palma, que matou seis pessoas, entre as quais uma criança, Moçambique e Tanzânia anunciaram uma união de esforços no combate aos crimes transfronteiriços. 2018 chegava assim ao fim sem uma solução à vista para os ataques que já haviam feito, pelo menos, 115 mortos. O julgamento dos já acusados de envolvimento nos ataques continua.
Foto: privat
Janeiro de 2019
O novo ano não começou da melhor forma. Sete pessoas morreram quando um grupo armado intercetou uma carrinha de caixa aberta que transportava passageiros entre Palma e Mpundanhar. Na semana seguinte, outras sete pessoas foram assassinadas a tiro no Posto Administrativo de Ulumbi. Um comerciante foi ainda decapitado em Maganja, distrito de Palma, no passado dia 20.