Nyusi garante estar atento a crise no setor da construção
Leonel Matias (Maputo)
9 de junho de 2018
Esta sexta-feira (08.06), o Presidente garantiu que soluções para a crise nesta classe são prioridade do seu governo. Aos empreiteiros, Nyusi pediu ainda diversificação na atividade e alertou para corrupção no setor.
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Os empreiteiros do setor da construção civil reuniram-se esta sexta feira (08.06) com o Presidente Filipe Nyusi. Numa altura em que a classe se queixa de estar na iminência de decretar falência em consequência da crise económica nacional, os empreiteiros pediram ao Chefe de Estado a tomada de medidas.
Em entrevista à DW África, Manuel Pereira, presidente da Federação dos Empreiteiros, explica que dos três mil empreiteiros que existem a nível nacional, "50% estão parados". "Não têm obras nem dinheiro, a maioria dos seus trabalhadores foram despedidos. É uma situação crítica", afirmou.
Estado tem de tomar medidas
Na opinião deste responsável, cabe ao Estado "resolver este problema" numa altura em que "não existem concursos nem obras". Para Manuel Pereira, "se o Estado deu os alvarás, tem o dever de dar as obras [aos empreiteiros]".
Moçambique: Nyusi garante estar a olhar para crise no setor da construção civil
Por seu lado, o Presidente Filipe Nyusi reconheceu o impacto negativo da crise na indústria da construção civil. E garantiu que o Estado se esforçará na procura de soluções. "Sabem bem que a situação económica não nos ajudou, não nos permitiu pagar. O Estado está a dever cento e tal [milhões de meticais]. A [crise] não ajudou muito a esta classe", constatou o Chefe de Estado neste encontro com os empreiteiros nacionais, acrescentando que o Ministério da Economia e Finanças tem como "prioridade resolver este problema". "O que também faz com que tenham capacidade para poder executar [as obras]", afirmou Nyusi.
Na mesma ocasião, o Presidente do país desafiou os empreiteiros a diversificarem a sua atividade, de modo a não dependerem apenas da construção de edifícios e das obras do Estado.
Obras de qualidade
Filipe Nyusi concordou com o clamor dos empreiteiros do setor para que seja priorizada a alocação das obras às empresas moçambicanas, mas sublinhou que as mesmas devem ter qualidade. Facto que permitiria, segundo o chefe de Estado, "empregar mais moçambicanos, treiná-los, internacionalizar as empresas nacionais e manter traços locais nas obras".
Nyusi apelou ainda às empresas moçambicanas que se associem entre si de modo a realizarem algumas obras complexas e que criem parceiras com empresas estrangeiras com know how.
Corrupção no setor
Outro dos temas abordados por Filipe Nyusi neste encontro foi a corrupção no setor, nomeadamente, as ilegalidade que ocorrem durante os concursos para a alocação das obras e no processo de fiscalização. Afirmando que estes atos comprometem a qualidade das obras, o Presidente de Moçambique pediu aos empreiteiros que "denunciem". "Vocês andam a dizer que vão combater a corrupção e que o governo não está a fazer nada. O governo tem que fazer o quê se vocês estão ali a ver?", interrogou.
Moçambique: O que foi feito ao dinheiro destas obras?
É a pergunta de vários cidadãos de Massinga, província moçambicana de Inhambane. Cada vez há mais obras na vila, que nunca chegam ao fim.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras atrasadas
As obras arrastam-se no município de Massinga, sul de Moçambique, e os cidadãos querem saber porquê. Os empreiteiros ganham obras de construção civil na região, mas muitas são abandonadas após ser pago 50% do dinheiro para a sua execução, segundo o Conselho Municipal. A Justiça já notificou alguns empreiteiros para explicarem os atrasos, mas as estradas e avenidas continuam em péssimas condições.
Foto: DW/L. da Conceição
Mercado por construir
A União Europeia e a Suécia financiaram a construção de um mercado grossista em Massinga. Segundo a placa de identificação, as obras começaram a 28 de setembro de 2017 e deviam ter terminado a 28 de janeiro, mas até agora estão assim. O município remete as responsabilidades para o empreiteiro; contactada pela DW, a empresa negou explicar o motivo do atraso nas obras.
Foto: DW/L. da Conceição
Jardim perdido
O Conselho Municipal de Massinga gastou mais de 1,5 milhões de meticais (20.000 euros) para construir aqui um jardim etnobotânico - um projeto com a participação do Governo central e da Universidade Eduardo Mondlane. Mas as plantas colocadas aqui desapareceram e o terreno está abandonado. O Município promete que o jardim voltará a funcionar em breve, embora falte água para regar as plantas.
Foto: DW/L. da Conceição
Estrada sem fim à vista
Os trabalhos neste troço de cinco quilómetros duram há mais de três anos. O município de Massinga culpa o empreiteiro pela demora; a DW tentou contactar a empresa, sem sucesso. Segundo o município, aos 4,8 milhões de meticais (63 mil euros) pagos inicialmente ao empreiteiro foram acrescentados outros 3,9 milhões (51 mil euros) para continuar as obras, que deviam ter terminado em outubro.
Foto: DW/L. da Conceição
Estrada acabada?
25 de setembro de 2017 era a data de "entrega" desta estrada, segundo a placa de identificação. Mas a via, que parte da EN1 até ao povoado de Mangonha, continua em estado crítico. A obra está orçada em cerca de 1,9 milhões de meticais (quase 25 mil euros). Tanto a Administração Nacional de Estradas, delegação de Inhambane, como o Conselho Municipal recusaram comentar este assunto.
Foto: DW/L. da Conceição
Mais obras por acabar
Os trabalhos da pavimentação desta avenida também já deviam ter terminado, mas as obras continuam. O custo: cerca de 3,9 milhões de meticais (cerca de 51 mil euros). Mas a avenida continua por pavimentar. A DW tentou perguntar o motivo da demora à empresa Garmutti, Lda, responsável pela execução da obra, sem sucesso.
Foto: DW/L. da Conceição
Falta transparência
Segundo o regulamento de contratação de empreitadas de obras públicas, nos locais de construção devem constar as datas de início e do término dos trabalhos. Mas não é isso que acontece aqui. Segundo um relatório do governo local, um ano depois desta obra começar, só 30% dos trabalhos foram concluídos. O empreiteiro está incontactável; a empresa não tem escritório em Inhambane.
Foto: DW/L. da Conceição
Fatura sobre fatura
O orçamento inicial para os trabalhos de reabilitação no Hospital Distrital de Massinga rondava os dois milhões de meticais (cerca de 26 mil euros), mas, meses depois, o custo aumentou 600 mil meticais (8.000 euros).
Foto: DW/L. da Conceição
Edifício milionário
Este edifício custou à edilidade mais de 40 milhões de meticais (acima de 500 mil euros), sem contar com os equipamentos novos - cadeiras, secretárias ou computadores. Alguns empreiteiros acham estranho que tenha custado tanto dinheiro, porque o material de construção foi adquirido na região. Em resposta, o município justifica os custos com a necessidade de garantir o conforto dos funcionários.
Foto: DW/L. da Conceição
Adjudicações continuam
O município de Massinga continua a adjudicar novas empreitadas apesar de muitas obras não terem terminado. Vários residentes dizem-se enganados pelo edil, Clemente Boca, por não cumprir as promessas eleitorais.
Foto: DW/L. da Conceição
Campo por melhorar
Todos os anos, a Assembleia Municipal de Massinga aprova dinheiro para melhorar este campo de futebol, mas o campo continua a degradar-se. Segundo membros da assembleia, o dinheiro "sai" dos cofres públicos, mas nada muda e os jogadores "sempre reclamam". Em cinco anos, terão sido gastos 30 mil meticais (cerca de 400 euros). Nem o edil, nem os gestores do campo dizem o que foi feito ao dinheiro.
Foto: DW/L. da Conceição
"Fazemos sozinhos"
Devido à demora na construção de mercados e bancas, os residentes da vila de Massinga têm feito melhorias por conta própria, para manterem os seus produtos em boas condições. Questionados pela DW, os vendedores disseram que preferem "fazer sozinhos", porque se esperarem pelo município nunca sairão "do sol, da chuva e da poeira".