Moçambique: Nyusi pede que populações deixem zonas de risco
Lusa
27 de dezembro de 2020
Presidente moçambicano pediu às populações que abandonem as zonas consideradas de risco face à tempestade tropical que se aproxima do Canal de Moçambique. Quatro milhões podem ser afetados.
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"Em todo o país estão preparados e alertados, mas para coisas como essas ninguém está preparado porque são situações imprevisíveis em termos de danos. Teremos de ter cuidado e todos os que estão nas zonas de risco é melhor saírem", disse o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, durante um encontro com quadros do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), em Maputo, este domingo (27.12).
Em causa está um alerta emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) de Moçambique sobre a possibilidade da tempestade tropical moderada Chalane entrar no Canal de Moçambique na segunda-feira (28.12), podendo evoluir até ao ponto de tempestade tropical severa e atingir a costa moçambicana na quarta-feira (30.12), com destaque para as províncias de Zambézia e Sofala, no centro do país.
Segundo o chefe de Estado moçambicano, o cenário "pessimista" aponta para quatro milhões de pessoas afetadas, além de existirem mais de seis mil escolas e 550 unidades hospitalares em zonas de risco.
"Estamos, mais uma vez, perante um problema. [O sistema] penetrou o Madagáscar e nesse momento está mesmo a evoluir. Está a chover muito lá e ele vai sair em direção ao Canal de Moçambique. Portanto, para o nosso lado", frisou o chefe de Estado.
Dificuldades para prestar assistência
Lembrando a experiência do ciclone Idai, que atingiu o país em 2019, Filipe Nyusi alertou para dificuldades de assistência face à crise humanitária causada pela Covid-19 e a violência em Cabo Delgado, onde ataques de rebeldes armados provocaram uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil deslocados.
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"Estamos numa fase de Covid-19 onde não devemos nos distrair, as precauções têm de prevalecer. Estaremos na fase de inundações, temos em alguns pontos do país pessoas deslocadas", referiu o Presidente moçambicano, destacando que será complexo garantir assistência aos afetados tendo em aberto "todas estas frentes".
"É preciso ter cuidado, vai chover em todo o país a partir da altura em que [o fenómeno] penetrar no nosso território", alertou.
Entre os meses de outubro e abril, Moçambique é ciclicamente atingido por ventos ciclónicos oriundos do Índico e por cheias com origem nas bacias hidrográficas da África Austral, além de secas que afetam quase sempre alguns pontos do sul do país.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas de dois ciclones (Idai e Kenneth) que se abateram sobre o centro e o norte do país.
Feridas do ciclone Kenneth não cicatrizaram, seis meses depois
O ciclone Kenneth devastou o norte de Moçambique, em abril. 45 pessoas morreram e 250 mil foram afetadas pelo ciclone. Seis meses depois, muito já foi feito, mas muito continua por fazer na província de Cabo Delgado.
Foto: Reuters/OCHA/Saviano Abreu
Salas de aula por reconstruir
Mais de 500 salas de aula ficaram destruídas depois da passagem do ciclone Kenneth. Com apoio financeiro, recuperaram-se cerca de 100 salas. Em alguns casos, foram alocadas tendas às escolas destruídas para permitir o decurso das aulas. Entretanto, há várias escolas por reconstruir. Um exemplo é esta escola primária na Ilha das Quirimbas, distrito do Ibo, cuja cobertura foi arrasada.
Foto: DW
"Comida pelo trabalho"
O Programa Alimentar Mundial (PAM) em Cabo Delgado, chefiado por Enrique Alvarez, continua a prestar assistência alimentar às famílias afetadas pelo ciclone. Em agosto, iniciou uma nova etapa de reconstrução, denominada "Comida pelo trabalho", onde cerca 70 mil pessoas beneficiarão de apoio alimentar ou material de construção, mediante a prestação de trabalhos na comunidade.
Foto: DW
Setor da pesca atingido
O ciclone Kenneth destruiu ou danificou muitos barcos de pesca artesanal, e a atividade piscatória ficou paralisada. O motor deste barco ficou avariado com o ciclone e o proprietário e os seus sete trabalhadores viram-se obrigados a paralisar a atividade durante cinco meses.
Foto: DW/D. Anacleto
Lonas para cobrir as casas
Várias habitações devastadas pelo mau tempo em Cabo Delgado continuam por reabilitar. O Governo ofereceu tendas às famílias que tiveram as casas totalmente destruídas. Para muitas casas onde só o tecto ficou destruído, foram oferecidas lonas.
Foto: DW/D. Anacleto
A longa espera pelo reassentamento
Na cidade de Pemba, depois da passagem do ciclone, em abril, cerca de 300 famílias que tiveram as suas habitações destruídas foram levadas para o centro de trânsito do bairro de Chuiba. Aguardam aqui a distribuição de terrenos para recomeçar uma nova vida. "Ainda não há sinal de luz verde", lamentam estes cidadãos.
Foto: DW
Sistema de drenagem obstruído
Em abril, as chuvas intensas que se fizeram sentir em Pemba durante a passagem do Kenneth alagaram os bairros de Natite, Josina Machel, Eduardo Mondlane e Paquitequite. Uma das causas para o fenómeno terá sido o deficiente sistema de drenagem, que estava obstruído. O edil de Pemba, Florete Simba Motarua, promete melhorá-lo.
Foto: DW
Família pede ajuda
Uma das casas da família de Fernando Fernandes foi destruída pelo ciclone. Com um agregado numeroso, os membros têm de partilhar o pequeno espaço na residência principal. Fernandes renova o pedido de apoio a pessoas de boa-fé: "Se eles realmente sentem pelo desastre que o povo sofreu, que venham dar um apoio, não digo financeiro, mas material, como ferros ou cimento…"
Foto: DW
Lixeira municipal foi transferida
A lixeira municipal de Pemba, que há 60 anos ficava na unidade residencial de Chibuabuare, no centro da cidade, está agora a 22 quilómetros da zona urbana. A lixeira terá soterrado seis pessoas durante a passagem do ciclone Kenneth, em abril passado.
Foto: DW/D. Anacleto
União Europeia apoia reconstrução
A União Europeia ofereceu 3,5 milhões de euros para apoiar a reconstrução da autarquia de Pemba, através de um programa denominado "Mais Pemba". O programa de apoio inclui a melhoria das vias de acesso destruídas, requalificação dos espaços públicos e a limpeza da cidade. A maior parte das estradas danificadas pelo Kenneth em Pemba já foi reconstruída.