A impunidade dos criminosos está a compensar os raptos e assassínios de empresários em Moçambique, afirmam analistas. E perguntam até que ponto a própria polícia do país estará envolvida nos crimes.
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O Serviço Nacional de Investigação Criminal, SERNIC, anunciou, na terça-feira (27/12), a detenção de um indivíduo suspeito de ter assassinado o empresário Halyumm Alimomad.
O SERNIC avança que ainda não foram apuradas as causas exatas da morte do empresário Halyumm Alimomad, raptado há mais de uma semana em Maputo, e encontrado morto no bairro de Tchumene, a norte da cidade da Matola, capital da província de Maputo.
O porta-voz do SERNIC, Serviço Nacional de Investigação Criminal, Leonardo Simbine, que anunciou a detenção, realçou o rápido trabalho da polícia.
"Desde o primeiro momento que tivemos conhecimento deste crime, desdobrámo-nos no terreno em busca dos perpetradores", salientou Simbine, acrescentando: "O SERNIC … tudo tem feito para resolver esta problemática de crimes de rapto".
Impunidade para os autores dos raptos
A opinião não é partilhada pelo analista político Wilker Dias, que explica assim o aumento deste tipo de crime no país: "A indústria de raptos em Moçambique acaba tendo as suas compensações e sem perseguições. Digo isto porque já estamos há anos a conviver com este fenómeno de raptos e sem nenhuma solução à vista", disse Dias à DW África.
Segundo o SERNIC, dos 13 crimes de rapto ocorridos, nove foram esclarecidos e resultaram em 33 detenções. Wilker Dias entende que, muitas vezes os detidos são pessoas só indiretamente envolvidas nos crimes, talvez por estarem presentes no local do cativeiro ou serem vítimas de perseguições.
"São intermediários, ou são donos das casas, ou pessoas que cuidavam dos reféns. Mas em nenhum momento encontramos os que são os verdadeiros mandantes destes crimes", disse Dias.
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A polícia estará envolvida?
A situação desespera os empresários, principais alvos dos raptos em Moçambique. O vice-presidente da CTA, Confederação das Associações Económicas, Vasco Manhiça, condenou o crime e pediu "às autoridades que medidas enérgicas sejam tomadas para parar com estes atos macabros que minam o nosso ambiente de negócios".
O analista Wilker Dias diz que não há nem vontade, nem esforço visível das autoridades para apanhar os perpetradores. "É um tipo de crime que é possível combater, está ao nosso alcance", afirma.
A criação de uma brigada anti-raptos, anunciada pelo Presidente Filipe Nyusi em dezembro de 2020, poderia ser parte da solução, diz ainda Dias. Mas não basta. É preciso igualmente reformar as forças de segurança: "Sentimos alguns polícias envolvidos", diz o analista, salientando as riquezas "astronómicas" de que usufruem "alguns funcionários afetos a essa área". São riquezas que não "condizem com o que são os seus rendimentos e nem existem negócios que possam justificar esse tipo de fortuna", explica, para rematar: "Mas não é feito nada".
Namicopo: Um bairro populoso, empobrecido e violento
O bairro de Namicopo é o maior da cidade de Nampula e o mais populoso de Moçambique. A cidade conta com mais de 700 mil habitantes e vive-se como se fosse um país fora de Moçambique, com suas próprias regras rebeldes.
Foto: Sitói Lutxheque/DW
Namicopo sobrelotado, empobrecido e violento
O bairro é famoso pela negativa: um dos empobrecidos, mais violentos, criador e protetor de grande parte de marginais da cidade e, aparentemente, vive-se como se fosse um país fora de Moçambique, com suas próprias regras rebeldes.
Foto: Sitói Lutxheque/DW
Degradação de estradas e com poucas soluções
Em Namicopo, grande parte das estradas não são asfaltadas e muito menos pavimentadas. Em consequência disso, poeiras e lamas é que anunciam o clima do momento. E porque muitas estradas são atravessadas por tubagens de água, muitas rebentam-se e criam pequenas inundações nas estradas, sem depender do clima.
Foto: Sitói Lutxheque/DW
Ruas transformadas em mercados
A única estrada asfaltada que dá acesso a administração do posto de Namicopo. A Rua Dom Manuel Viera Pinto (construída há mais de dez anos, na gestão do então autarca Castro Namuaca, da FRELIMO), foi transformada, quase em toda sua extensão, em mercados de produtos alimentares e há lojas operacionais e outras em construção.
Foto: Sitói Lutxheque/DW
Crise de transportes
A crise de transportes que afeta a cidade de Nampula, também se faz sentir no populoso bairro de Namicopo. Por conta disso, os transportes semi-coletivos, vulgo chapa-100, com lotação para 15 passageiros chegam a transportar mais de 20, dentro do bairro (da entrada a sede do posto administrativo) num troço de quase 4km.
Foto: Sitói Lutxheque/DW
“Bombas caseiras” que alimentam contrabando de combustível -
Existem poucas gasolineiras em Namicopo, mas isto não tem sido grande preocupação para os condutores. Há bombas de combustíveis caseiras alimentadas, grande parte, com combustíveis contrabandeados. Os preços, nalguns casos, têm sido baixos. Por exemplo, um litro de gasolina custa 60 meticais contra os pouco mais de 70 vendidos em gasolineiras oficiais.
Foto: Sitói Lutxheque/DW
Água: um bem preciso escasso em Namicopo -
Água potável continua a escassear em quase todos os 23 bairros que compõem a cidade de Nampula e o de Namicopo é um deles que depara-se com o problema. Para contornar a crise, o Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água (FIPAG) disponibilizou tanques móveis para prover aquele recurso, mas há sempre enchentes que, sem demora, esgotam a água.
Foto: Sitói Lutxheque/DW
Moto-taxi gera sustento e criminalidade
Tem sido uma das maiores alternativas no combate ao desemprego nos jovens em Namicopo. Mas há quem utilize para protagonizar assaltos nas vias públicas da cidade de Nampula. Os jovens de Namicopo, por sinal onde grande parte dos operadores vivem, lideram a lista dos que praticam desmandos nos bairros da cidade. Não se circula tranquilamente em Namicopo.
Foto: Sitói Lutxheque/DW
Lixo convive com moradores
À semelhança de tantos outros bairros da cidade, o lixo produzido localmente continua a ser o amigo de quem produz, por conta da morosidade na remoção, por parte das autoridades camararias.
Foto: Sitói Lutxheque/DW
Paço episcopal: A residência "deslocada" de Namicopo -
Paço episcopal, a residência do arcebispo, é uma das primeiras e a mais antiga infra-estrutura construída no bairro de Namicopo, antes da independência do país. Com mais de 40 anos de existência, viveram todos os bispos católicos de Nampula, sendo o pioneiro dom Manuel Viera Pinto (já falecido), dom Tomé Makweliha (aposentado) e dom Inácio Saúre (atual arcebispo).
Foto: Sitói Lutxheque/DW
PRM luta sempre para manter a tranquilidade
A Polícia da República de Moçambique reconhece que Namicopo é o mais agitado e com frequentes casos criminais a nível da cidade de Nampula, mas o chefe das Relações Públicas da corporação em Nampula, Dércio Samuel, diz que “Namicopo não é um país fora de Moçambique, temos envidado esforços na segurança públicas para continuar a manter a tranquilidade”. Existem duas esquadras em Namicopo.
Foto: Sitói Lutxheque/DW
Centro de Saúde de Namicopo com fraca movimentação
No bairro de Namicopo existem dois centros de saúde: o de Namicopo e o de Namiepe, mas estes não tem recebido muitos pacientes, nos últimos tempos. As autoridades locais suspeitam que as medidas de restrições impostas e o medo de contração do coronavírus sejam um dos maiores motivos.
Foto: Sitói Lutxheque/DW
Palco da valorização da cultura
A cultura está em alta no bairro de Namicopo. Os maiores e melhores grupos culturais da cidade, principalmente de Tufu, estão em Namicopo. E para não desfalecer a prática de várias modalidades culturais, o Governo construiu em 2012 o palco de Namicopo, que também acolheu o festival nacional da cultura realizado na época.
Foto: Sitói Lutxheque/DW
O maior círculo eleitoral
Namicopo é um bairro com desenvolvimento lento. Mas nem tudo vai mal. É o bairro que, devido ao aumento populacional, decide a escolha de um autarca. Portanto, é o maior círculo eleitoral. Já saíram de Namicopo dois autarcas, nomeadamente Castro Namuaca da FRELIMO e Paulo Vahanle da RENAMO (atual edil), todos habitantes.