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Moçambique: "O pão já não é nosso nem de cada dia"

8 de junho de 2022

O ministro do Comércio de Moçambique diz que a mandioca e a batata-doce podem ser uma alternativa ao pão, que está mais caro. Mas vários cidadãos acham que não, até porque não são produzidas em grandes quantidades.

Foto: DW/L. da Conceição

Vários cidadãos dizem, em conversa com a DW, que a mandioca até pode ser uma alternativa ao pão, como sugeriu o ministro da Indústria e Comércio, Silvino Moreno.

"Por engraçado que pareça, já estou a optar pela mandioca, é o que tenho mais. Parece-me que a mandioca é mais acessível que a batata-doce", diz uma residente em Maputo.

Ainda assim, a mandioca sai mais cara que o pão, que está a ser vendido entre o equivalente a 0,18 cêntimos de euro e 0,20 cêntimos. Quatro unidades de mandioca com 20 cm de comprimento custam o equivalente a 0,44 cêntimos de euro e seis unidades custam 0,73 cêntimos de euro.

"Tem de haver pão na mesa"

Os cidadãos em Maputo dizem que nada substitui o pão, que não pode faltar à mesa dos moçambicanos.

"Tem de haver pão na mesa. Pelo menos pão, não falo de arroz", sublinha um residente. "É mais para as crianças, que consomem bastante. Nós, que somos adultos, podemos recorrer a mandioca ou batata-doce."

Batata-doce e mandioca são "produtos de luxo" nas zonas urbanas, diz economistaFoto: Romeu da Silva/DW

O economista Elcídio Bachita considera que a batata-doce e a mandioca são produtos de luxo para as zonas urbanas. Por isso mesmo, o preço não pode ser comparado ao do pão.

"Um molho de batata-doce ou mandioca que custa cerca de 60 ou 50 meticais não é capaz de alimentar um agregado familiar de seis a sete pessoas, mas o pão de 50 ou 60 meticais pode alimentar aproximadamente oito elementos", salienta.

Outras realidades

O economista entende que o ministro da Indústria e Comércio devia ter em conta as realidades da população urbana e rural. "A população que vive nas zonas rurais vive consumindo a batata-doce e a mandioca e não consome pão. Mas, para a realidade urbana, é preferível continuar a consumir o pão", diz.

Elcídio Bachita lembra ainda que a mandioca e a batata-doce são alimentos sazonais, que podem desaparecer dos mercados. "A nossa agricultura é rudimentar, é de subsistência, e não é capaz de produzir batata-doce e mandioca em grandes quantidades para fazer face às pressões inflacionárias que se estão a registar ao preço do pão", lembra.

A subida do preço do pão tem a ver com a alta do preço da farinha de trigo, na sequência da guerra na Ucrânia, que estrangulou a produção e levou ao aumento dos custos da importação.

O Governo só tem uma alternativa para minimizar a alta do preço do pão, segundo Elcídio Bachita: "Através da eliminação ou isenção de importação da farinha de trigo. Isto permitiria que as panificadoras continuassem a produzir o pão sem nenhuma restrição."

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