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O que se sabe em Cabo Delgado sobre a operação Vulcão IV?

António Cascais
6 de janeiro de 2023

O governo moçambicano anunciou nova operação para destruir bases terroristas entre os distritos de Macomia e Muidumbe. A DW África falou com o coordenador da Associação Kwendeleya, em Pemba, o ativista Abudo Gafuro.

Força Local em Cabo Delgado
Foto: DW

As forças governamentais moçambicanas anunciaram o lançamento de uma operação para destruir bases terroristas no limite entre os distritos de Muidumbe e Macomia, alvo de incursões rebeldes, nos últimos dias.

A operação, designada Vulcão IV e que conta com a ajuda das forças estrangeiras que apoiam Moçambique no combate contra o terrorismo, visa "intensificar medidas de perseguição e destruição das bases terroristas do inimigo que aterroriza o norte do rio Messalo, distrito de Muidumbe, e o ocidente de Chai, no distrito de Macomia", refere-se num comunicado do Ministério da Defesa.

Segundo o documento, as novas incursões são a continuação da operação Vulcão I, que foi realizada em julho do ano passado e que culminou com a destruição da base Catupa, descrita como o principal refúgio dos rebeldes no interior do distrito de Macomia.

A propósito desta nova operação, a DW África falou com o ativista cívico Abudo Gafuro, residente na capital de Cabo Delgado, Pemba, também coordenador da Associação Kwendeleya que apoia deslocados que fugiram dos ataques terroristas.

DW África: O que se sabe em Cabo Delgado sobre a Operação Vulcão IV?

Abudo Gafuro (AG): Esta operação envolveu todos os tipos de militares que temos na província de Cabo Delgado, os internacionais e os nacionais. Envolve as tropas do Ruanda, da SADC, a força local, a Força de Defesa e Segurança (FDS) e a força de intervenção rápida.

DW África: Estas novas incursões, no âmbito do Vulcão IV, são a continuação da operação Vulcão I, realizada em julho do ano passado. Segundo fontes governamentais, a operação visa a destruição das bases terroristas, quando os próprios já haviam afirmado que já não havia bases. Como se explica isso?

AG: O que sabemos através das fontes primárias, que são os próprios deslocados internos que saem daquela região à procura de segurança, na verdade existem pelas matas pequenas células divididas dos terroristas. O que se sabe é que a região entre Rio Messalo, que passa pelo Macomia e a zona de Muidumbe, é uma zona triangular e que com facilidade os terroristas estão lá a circular.

Ativista cívico Abudo Gafuro (ao centro), residente na capital de Cabo Delgado, PembaFoto: Privat

DW África: Segundo informações os terroristas estão cada vez mais dispersos, divididos em pequenos grupos. Confirma-se isso?

AG: A verdade é que sim. Tivemos informação de fontes seguras de que os terroristas estão entre a região fronteiriça de Cabo Delgado e Nampula, mas sobretudo no distrito de Chiúre, distrito de Namuno e uma parte no distrito de Montepuez.

DW África: O Abudo Gafuro foi também fundador do Centro Inter-religioso para a Paz. Nessa qualidade, suponho que é também muçulmano. Como é que as pessoas encaram todo este conflito?

AG: No Centro Inter-religioso para a Paz, que neste momento funciona dentro da Diocese de Pemba, na paróquia São Carlos Lwanga de Mahate, não havia diferenciação entre cristãos e muçulmanos. Nós ajudávamos a quem quer que fosse.

DW África: Ouvimos que muitos refugiados querem, a todo o custo, regressar às suas terras de origem. Preferem correr o risco de estar nas suas terras a serem alimentados fora das suas terras. Confirma-se?

AG: As pessoas que estão nos centros de acomodação dizem que estão a passar mal por falta de apoio alimentar devido ao desvio por parte de algumas organizações que estão a prestar apoio no terreno. Essas organizações estão a fazer com que as próprias vítimas não tenham acesso ao apoio alimentar e o deslocados se sentem forçados a abandonar os centros. Preferem voltar a casa e dizem "prefiro morrer na minha terra do que morrer aqui de fome”.

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