Na província moçambicana de Inhambane, a população da chamada terceira idade é alvo de maus-tratos. Há casos de assassinato por suspeita de feitiçaria. O Governo diz estar a intensificar as ações de sensibilização.
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Em Inhambane há muitos casos de idosos assassinados a sangue frio pelos seus familiares. Alguns chegam a ser queimados vivos. Há vários de idosos maltratados pelos próprios filhos que culpam os pais por não terem sucesso ou oportunidades na vida.
Almone Fernando é um líder comunitário no distrito de Funhalouro. Ele conta que há um mês uma idosa foi assassinada pelo próprio neto na sua comunidade: "Matou a avó com quem vivia e queimou [o seu corpo]".
Sandra Malova está há cinco anos a residir num centro de apoio a idosos no distrito de Massinga. Malova contou à DW África que escapou por pouco da morte em Maputo, porque a sobrinha a culpou pela morte da mãe e queria vingar-se.
Superstições e maus tratos
"Zanguei-me e fui ao tribunal. Deram-me razão. Mas não quero viver com pessoa que me quer matar. Pedi para vir ficar aqui", explicou Malova à DW África.
Natural da Zambézia, o idoso Jeque Araújo hoje reside no distrito de Zavala, em Inhambane. Araújo diz que sua família não pode saber onde está. O idoso teve de fugir de sua casa onde era maltratado pelos familiares. "A minha família não sabe se eu estou vivo ou não. Estou aqui há muitos anos", diz.
"Amanhã todos seremos idosos”
Cenildo Raúl, responsável pelo Centro de Apoio à Velhice em Massinga, disse à DW África a maior parte dos idosos aqui acolhidos teve de sair de casa por servítima de superstições que estão na origem dos maus-tratos. Muitas vezes os idosos são acusados de feitiçaria. Acrescenta que só poucos familiares visitam mais velhos.
Isabela Matimbe, diretora distrital da Saúde, Mulher e Acção Social em Funhalouro, garante que o Governo está a fazer um trabalho de consciencialização junto a jovens adultos para que saibam valorizar as pessoas da terceira idade.
"O idoso sempre será nossa biblioteca humana e é uma dádiva. Devemos lembrar-nos que hoje somos jovens, mas amanhã seremos idosos", disse Matimbe.
Idosos abandonados em Inhambane
Maltratados, acusados de feitiçaria e sem apoio. Em Moçambique, muitos idosos são rejeitados pelos familiares, vivem sem abrigo e passam a maior parte do dia nas ruas a pedir esmola. Governo diz que faltam fundos.
Foto: DW/L. da Conceição
Viver na rua sem abrigo e comida
Isabel Bato vive há cinco anos nas ruas da cidade de Maxixe, na província de Inhambane. Os familiares rejeitaram-na, alegando que estava a enfeitiçar os filhos e netos para que não tivessem sucesso nos seus trabalhos e negócios. Sem apoio do Governo, a idosa vive pedindo esmola nas lojas dos comerciantes locais.
Foto: DW/L. da Conceição
Caminhar sem destino
Como muitas pessoas da terceira idade, Jortina João caminha pelas ruas do distrito de Morrumbene a pedir ajuda às pessoas. É "caminhar sem ter destino e descanso", diz. Se ficar sentada, ninguém a apoiará com alimentação e roupas, sublinha.
Foto: DW/L. da Conceição
Pedir ajuda
Nos mercados, lojas e mercearias, os idosos pedem ajuda todos os dias para conseguir algo para comer, mas nem todos satisfazem os seus pedidos. Abandonada pela família, Joana de Vaz precisa de sair para pedir ajuda, mas nem sempre sai satisfeita. "Às vezes, recebo dois quilos de arroz, um pouco de óleo, mas muitas pessoas não são solidárias", conta.
Foto: DW/L. da Conceição
Olhar de fome
Tal como outras idosas no interior da província de Inhambane, Joana Wacitela passa fome devido à seca que assola esta região de Moçambique. A colheita não foi boa na sua machamba: "Estou a passar mal de fome, estou a pedir ajuda". Segundo o governo provincial, o apoio não chega a todos os idosos devido à falta de fundos.
Foto: DW/L. da Conceição
Poucos idosos recebem apoio
A Associação dos Aposentados de Moçambique (APOSEMO), o Instituto Nacional de Ação Social (INAS) e a Associação Gupuanana em Inhambane confirmam que os apoios direcionados aos idosos não chegam a todos. Em Inhambane, nem metade das pessoas da terceira idade beneficia dos programas sociais básicos. Estas pessoas são cada vez mais excluídas.
Foto: DW/L. da Conceição
Cesta básica com poucos produtos
O artigo 5º da Lei 03/2014, aprovada pelo Parlamento moçambicano, estabelece que cabe às famílias, à comunidade, à sociedade e ao Estado assegurar o direito à alimentação da pessoa idosa. Em Moçambique, algumas pessoas da terceira idade recebem uma cesta básica, mas com pouquíssimos produtos, como óleo, açúcar, arroz e sal.
Foto: DW/L. da Conceição
Amizade para sempre
Apesar de tantas dificuldades, os idosos gostam de fazer novas amizades enquanto a vida lhes permite. Sitoe Manuel e Ernesto José enfrentam juntos os problemas e reclamam do pouco apoio que recebem do INAS. "Mesmo com dificuldades, temos que ter fé e recordar os bons momentos que passámos. A amizade faz bem a uma pessoa", dizem.
Foto: DW/L. da Conceição
Sem alternativas
Japao Boane perdeu o emprego de motorista por causa da sua idade. Sem ter outra alternativa para se sustentar, decidiu abrir uma pequena banca em frente à sua residência para vender pequenos produtos, como rebuçados e bolachas. Ele diz sentir-se excluído da sociedade.
Foto: DW/L. da Conceição
Investir em pequenos negócios
Joana Chaquir luta todos os dias para sobreviver. Os filhos não lhe dão nenhum apoio. Ela decidiu começar um negócio para vender caldo e alface no mercado distrital de Morrumbene, em Inhambane. Com o que vende, consegue comprar um copo de arroz, meio litro de óleo e arroz.
Foto: DW/L. da Conceição
A perder as forças para trabalhar
Hawa Leka recebe um subsídio de 300 meticais fornecido pelo INAS. Com o dinheiro, começou a vender camarão e peixe seco em Inhambane. Ela afirma que está a perder as forças a cada dia que passa e não sabe o que será do seu futuro, caso não consiga mais trabalhar.
Foto: DW/L. da Conceição
Idosos assassinados pelos familiares
Araujo Nhanice, líder comunitário do povoado de Guicico, no distrito de Morrumbene, não recebe apoio do Governo e não sabe porquê. Ele alerta que, na sua comunidade, os casos de assassinato de idosos prosseguem e que os principais autores são familiares das vítimas.
Foto: DW/L. da Conceição
Esperança em dias melhores
Embora passem muitas dificuldades no dia-a-dia, os idosos de Inhambane ainda têm esperança de que melhores momentos virão. O rosto, no entanto, não esconde as marcas do sofrimento.