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Moçambique: Onde está o jornalista Ibraimo Mbaruco?

Marta Cardoso | Lusa
17 de abril de 2020

Ibraimo Mbaruco desapareceu há mais de uma semana em Cabo Delgado. MISA Moçambique diz que o jornalista foi levado pelas forças de segurança para interrogatório. Amnistia Internacional e HRW pedem investigação.

Foto: DW/A. Chissale

Ainda não há certezas sobre o que aconteceu ao jornalista Ibraimo Abu Mbaruco depois das 18:00 de 7 de abril, após ter abandonado as instalações da Rádio Comunitária de Palma, na província nortenha de Cabo Delgado. Mas surgem cada vez mais pistas sobre o caso.

Até aqui, a organização de defesa da liberdade de imprensa MISA Moçambique já tinha apurado que Mbaruco enviou uma mensagem de telemóvel a um colega de trabalho, informando que estava "cercado por militares" - o colega questionou-o pelo seu paradeiro, mas não obteve resposta. O MISA revela agora que confirmou que militares e agentes da polícia levaram o jornalista junto com a sua motorizada, tendo o sucedido sido relatado de imediato às autoridades do distrito de Palma.

As informações constam de um relatório do MISA divulgado esta sexta-feira (17.04). Segundo a organização, um agente da polícia em Palma confidenciou, em anonimato, que "foram, de facto, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique que levaram o jornalista". Acrescentou ainda ter "conhecimento que [Ibraimo Mbaruco] foi tirado de Palma para Mueda, onde as Forças Armadas têm a sala de interrogatórios".

A mesma fonte disse que colegas de Ibraimo Mbaruco denunciaram o caso, "mas a nível do Comando de Palma nada se fez". Entretanto, o irmão do jornalista apresentou queixa junto da Procuradoria Provincial, refere o MISA Moçambique.

Organizações de direitos humanos pedem ação urgente

A Amnistia Internacional e a Human Rights Watch (HRW) apelaram esta sexta-feira (17.04) às autoridades moçambicanas para localizarem o jornalista.

"O Governo de Moçambique deve urgentemente tomar todas as medidas necessárias para localizar Mbaruco e garantir a sua libertação segura", disse Dewa Mavhinga, diretora local da HRW. A organização está bastante preocupada com o "aparente desaparecimento forçado" do jornalista da Rádio Comunitária de Palma, "principalmente devido ao alarmante histórico de detenção de jornalistas por parte das forças de segurança de Moçambique".

Ainda esta semana, a 14 de abril, o jornalista Izdine Achá, da STV, foi detido durante várias horas, alegadamente por tirar fotografias a agentes das forças de segurança durante uma operação num bairro de Pemba, em Cabo Delgado. A polícia disse ter-se tratado de um "mal-entendido".

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No ano passado, dois jornalistas que cobriam o tema dos ataques armados na província, Amade Abubacar e Germano Adriano, foram detidos e maltratados pelas autoridades durante quatro meses. A acusação era que tinham violado segredos do Estado e incitado à desordem.

Em entrevista à DW, Arnaud Froger, responsável da secção africana da organização Repórteres Sem Fronteiras, deixa um recado às autoridades: "Transformar esta província [de Cabo Delgado] devastada pela violência num buraco negro de notícias e informações não ajudará a acabar com a insurreição".

Apelo à libertação de Mbaruco

Os telefones do jornalista Abu Mbaruco deixaram de tocar a 9 de abril, de acordo com Arnaud Froger, dos Repórteres Sem Fronteiras. Por isso, é urgente "que as autoridades militares e políticas de Moçambique lancem toda a luz possível sobre este caso e que o jornalista seja libertado, se ele estiver de facto preso".

A União Europeia também pediu esta semana uma investigação com "rapidez e profundidade" sobre o desaparecimento do jornalista.

Desde o final de 2017, pelo menos 350 pessoas morreram devido aos ataques armados em Cabo Delgado e mais de 150 mil foram afetadas pela violência.

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