Moçambique: ONU condena "medidas drásticas" contra crise
Lusa
24 de outubro de 2016
Declarações ocorreram durante a celebração em Maputo dos 71 anos da ONU. No fim de semana, uma mulher morreu em ataque armado a um autocarro de passageiros em Manica. Polícia atribui ataque à RENAMO.
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A coordenadora residente das Nações Unidas em Moçambique condenou nesta segunda-feria (24.10) o uso de armas e de "medidas drásticas" para resolver a crise político-militar que o país enfrenta e apontou a paz como "condição indispensável" para o desenvolvimento.
"Condenamos todo e qualquer uso de armas e medidas drásticas para resolver este conflito, é preciso percebermos que as armas não agregam valor ", disse à imprensa Márcia Freitas de Castro, à margem da celebração em Maputo dos 71 anos da Organização das Nações Unidas (ONU).
A coordenadora afirmou que o país "atravessa um período complexo" e disse que o Governo moçambicano e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), maior partido de oposição, precisam de garantir que haja confiança nas negociações como única opção para o rápido alcance de um acordo.
Calar das armas
Para a coordenadora da ONU, o diálogo entre ambas as partes é fundamental para a resolução do conflito, contudo, ressaltou, "o calar das armas é urgente e indispensável".
"É possível ter um processo negocial sem armas", frisou, acrescentando que Moçambique é signatário de vários acordos internacionais para a proteção direitos humanos e é necessário que estes compromissos sejam respeitados.
Durante a mesma cerimónia, o ministro moçambicano da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, garantiu que o Governo moçambicano tem feito tudo para que a paz seja restituída.
"A nossa intenção é que a paz seja duradoira", afirmou, acrescentando que a solução para a crise política que opõe as forças do Governo e da RENAMO passa também pelo envolvimento de todos os moçambicanos neste processo.
Ataque no fim de semana deixa um morto
A região centro e norte de Moçambique tem sido palco de confrontos entre o braço armado do principal partido de oposição e as Forças de Defesa e Segurança e denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos das duas partes.
Neste fim de semana, uma pessoa morreu e outra ficou gravemente ferida num ataque atribuído pela polícia à RENAMO a um autocarro de passageiros na coluna de escolta militar em Manica, centro de Moçambique, afirmou nesta segunda-feira a polícia.
Uma mulher foi morta a tiros na cabeça e outra ficou ferida com estilhaços de vidros quando homens dispararam contra um autocarro da companhia Linhas Terrestres de Moçambique (LTM), na escolta no trajeto Catandica-Vanduzi, disse o porta-voz do comando da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Manica, Elsídia Filipe.
Ainda de acordo com a polícia, um outro grupo do braço armado da oposição incendiou nove casas e a viatura do régulo Macuo no distrito de Mossurize, a sul da província de Manica, igualmente muito atingido pelo conflito que opõe as Forças de Defesa e Segurança e RENAMO e que tem vindo a registar um número crescente de deslocados.
O maior partido de oposição exige governar em seis províncias onde reivindica vitória eleitoral nas eleições gerais de 2014, acusando a FRELIMO de ter cometido fraude no escrutínio.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.