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Moçambique: ONU defende reintegração digna dos guerrilheiros

23 de setembro de 2020

Enviado da ONU em Moçambique frisa que o país é responsável por integrar "com dignidade" as forças residuais da RENAMO na sociedade. Mas Raúl Domingos, ex-dirigente da RENAMO, diz que o processo está a ser mal gerido.

Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images

O diplomata Mirko Manzoni, enviado da ONU para a pacificação de Moçambique, entende que os antigos guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) devem ser reintegrados na sociedade "com dignidade" para facilitar a reconciliação entre os moçambicanos.

"É responsabilidade nossa responder aos combatentes e reintegrá-los com dignidade", frisa Manzoni, que deixa claro, no entanto, que este processo tem muitos desafios e deve ser visto a médio e longo prazo.

Mirko Manzoni, enviado da ONU para a pacificação de MoçambiqueFoto: Romeu da Silva/DW

A posição da ONU ficou expressa durante uma palestra, esta quarta-feira (23.09) em Maputo, sobre o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos antigos guerrilheiros. 
 
Mirko Manzoni sublinha que, antes da assinatura do acordo de paz efetiva, em agosto de 2019, foram criadas condições para que as partes envolvidas confiassem no acordo. "O mais interessante é que os discursos do Presidente da República, Filipe Nyusi, e do líder da RENAMO, Ossufo Momade, parecem alinhados. Agora, acho que temos de apoiar este diálogo entre ambos porque é lá onde temos a liderança para desarmar e para reconciliar o país", afirmou o facilitador.

Encontro sobre o processo de DDR em Maputo, esta quarta-feira (23.09)Foto: Romeu da Silva/DW

Má aplicação de fundos

No entanto, o antigo número dois da RENAMO, Raúl Domingos, considera que o processo de DDR está a ser um fracasso, dando o exemplo do fornecimento de material de construção - como chapas de zinco, enxadas, catanas e algumas sementes - aos antigos guerrilheiros.
 
"Parece-me que não se vai construir uma casa com esse material. Muito provavelmente, na primeira oportunidade que o guerrilheiro tiver, vai vender as chapas e ficar em casa de um familiar ou amigo", explica. "É dinheiro que eu acho mal aplicado. Podia-se pensar numa forma melhor de garantir uma residência para o guerrilheiro desmobilizado", sugere.

Raúl Domingos, político e antigo número dois da RENAMOFoto: Romeu da Silva/DW

Em contrapartida, o diplomata Mirko Manzoni recorda que o pacote destinado à reintegração dos ex-guerrilheiros da RENAMO é resultado de um acordo entre a RENAMO e o Governo.
 
"No primeiro ano, quando saem do mato, recebem um pacote de reinserção social que resulta de uma negociação feita pela comissão dos assuntos militares. E, nesta comissão, a decisão foi de incluir uma parte do pacote com material que podia ser utilizado. Por outro lado, [há também] um pacote financeiro, ao nível da pensão", esclarece.

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