Zambézia: Oposição preocupada com o recenseamento eleitoral
28 de abril de 2023A população da província moçambicana da Zambézia está a comparecer em peso para o recenseamento eleitoral. Muitos brigadistas que trabalharam em processos anteriores admitem que nunca viram um registo com tanta adesão como o que se vive agora na capital provincial Quelimane.
Edson Emílio é um destes recenseadores e garante que "muitos jovens estão a se recensear".
"Uma coisa que nunca aconteceu antes, a juventude está a recensear bastante. Não sei se é pelo cartão novo, porque é um cartão com novo modelo, um cartão biométrico", admite o recenseador em Quelimane.
Problemas técnicos atrapalham o processo
Mulheres e homens de todas as idades enchem de madrugada os postos de recenseamento em Quelimane. Mas algumas pessoas regressam a casa no próprio dia sem conseguirem concluir o processo por causa das filas enormes e problemas técnicos.
Alima Alfredo diz ter encontrado "muita dificuldade". "A máquina estraga-se constantemente, a fotografia do eleitor não sai e isso nos deixa muito preocupados", relata Alfredo.
A eleitora também reconhece a grande afluência de jovens: "Desde que começamos a recensear, nunca aconteceu isso, há muitos jovens que estão a recensear".
Número de eleitores é 30% maior
O porta-voz do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) na Zambézia, Abdul Rajabo, diz que o número de eleitores subiu mais de 30% quando comparado com o período homólogo do recenseamento anterior.
O porta-voz entende que os eleitores podem estar a ser atraídos pela qualidade dos novos cartões biométricos.
"Já na primeira semana recenseamos 131 mil eleitores em todos os distritos com autarquias. Comparativamente ao igual período homologo de 2018, a nossa evolução é de 33%. Há muitos fatores que contribuem para que os cidadãos afluam. O primeiro é a campanha de educação cívica que está a ser levada a cabo, e a qualidade do cartão de eleitor também é um fator atraente para a população", explica.
Oposição queixa-se de falhas
Mas os partidos da oposição queixam-se de falhas no processo de recenseamento. Maria Elisa Cipriano, delegada provincial da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), teme que haja pessoas a serem recenseadas mais do que uma vez em diferentes sítios.
"Na Zambézia, temos sete distritos autárquicos e nestes sete distritos o processo não esta a decorrer como devia. Encontrámos senhas a serem distribuídas nos postos de recenseamento, dez ou vinte senhas, mas no dia seguinte aparecem nos postos de recenseamento 200 senhas e não compreendemos. Essas senhas a mais foram distribuídas aonde?", questiona a representante do maior partido da oposição moçambicana.
A DW testemunhou a chegada a Quelimane de vários transportes coletivos de pessoas para o processo de recenseamento. São cidadãos oriundos de Nicoadala e Namacurra, por exemplo, que deveriam se recensear nas suas localidades, mas que estão a tentar fazê-lo na capital provincial.
José Lobo, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), teme dias piores.
"Pressentimos de que vai haver muito conflito. A FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder] vai utilizar a nossa foça de defesa e segurança e a nossa polícia para impor a vontade deles. O que eu posso dizer de uma forma resumida é que este processo de recenseamento devia estar a correr num clima de paz e tranquilidade e não está a decorrer", queixa-se José Lobo.