Moçambique: Crise alimentar no sul e extremo norte do país
Lusa
2 de março de 2019
Segundo o prognóstico da Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome, uma rede de organizações norte-americanas, sul e extremo norte de Moçambique deverão enfrentar crise alimentar nos próximos meses.
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A Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome (rede Fews, em inglês), que agrega organizações norte-americanas, revela um prognóstico de dificuldades e crise alimentar no sul e extremo norte de Moçambique para os próximos sete meses.
Se a assistência alimentar não for suficiente, "na maior parte da região sul, onde a atual época agrícola foi afetada por uma seca ligada ao fenómeno El Niño, é provável que a colheita fique significativamente abaixo da média", refere o relatório divulgado nesta sexta-feira (01.3).
Como resultado, "na região Sul, provavelmente os agregados familiares pobres não conseguirão satisfazer as suas necessidades alimentares mínimas" e terão que "reduzir a frequência e quantidade de refeições, depender de alimentos menos dispendiosos, pedir comida a parentes e consumir alimentos silvestres menos recomendados".
"Três níveis"
Faixas da zona sul deverão enfrentar riscos de insegurança alimentar de nível três, classificada como "crise" numa escala da rede Fews que vai de um (sem riscos) a cinco (fome).
A situação pode melhorar para o nível dois (ou seja, "dificuldades") depois de maio, como resultados de novas colheitas e baixa de preços sazonais, tornando os mercados mais acessíveis, mas em setembro prevê-se o regresso do cenário de crise.
Ainda segundo o prognóstico, a província nortenha de Cabo Delgado enfrentará os mesmos níveis de risco devido ao abandono de aldeias e campos na sequência de ataques armados contra a população.
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estimou, na última semana, que dois milhões de moçambicanos venham a sofrer de insegurança alimentar severa no país, até final de março, um agravamento em relação ao último ano.
A província de Gaza, sul de Moçambique, está a ser a mais afetada, à semelhança de anos anteriores.
Seca em África
Não chove, as colheitas são más, pouco há para comer, há quem consuma ervas para saciar a fome: É a pior seca das últimas décadas. 14 milhões de pessoas estão em perigo. Angola e Moçambique são dois dos países afetados.
Foto: Reuters/T. Negeri
À espera de água
Os jerricans estão vazios, não há água à vista. A Etiópia atravessa a pior seca das últimas três décadas, sem chover durante meses a fio. Segundo as Nações Unidas, mais de dez milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência alimentar. Em breve, o número pode duplicar.
Foto: Reuters/T. Negeri
Sem fonte de sustento
Uma grande parte dos etíopes vive da agricultura e da criação de gado. Os animais são, muitas vezes, a fonte de sustento da família. "Vi as últimas gotas de chuva durante o Ramadão", conta um agricultor da região de Afar, no nordeste da Etiópia. O mês de jejum dos muçulmanos terminou em julho. "Desde essa altura, nunca mais choveu. Não há água, não há pasto. O nosso gado morreu".
Foto: Reuters/T. Negeri
Perigo para as crianças
Em 1984, mais de um milhão de pessoas morreu de fome na Etiópia. Pouco mais de três décadas depois, os etíopes voltam a correr perigo, sobretudo as crianças. Segundo o Governo etíope, mais de 400.000 rapazes e raparigas estão gravemente subnutridos e precisam de tratamento médico.
Foto: Reuters/T. Negeri
O El Niño
A colheita também foi magra no Zimbabué. Neste campo perto da capital, Harare, em vez de maçarocas de milho viçosas crescem apenas estes grãos secos. A seca foi agravada pelo El Niño. Noutros locais, o fenómeno meteorológico provocou chuvas fortes e inundações.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
No limite
Esta vaca está no limite das suas forças, mal consegue manter-se em pé. Os agricultores de Masvingo, no centro do Zimbabué, tentam movê-la. Em 2015, choveu metade do que havia chovido no ano anterior. Os campos ficaram completamente secos.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca em Moçambique
"Lá no nosso bairro já perdi trinta e cinco cabeças", conta um criador de gado do distrito de Moamba, a 80 quilómetros da capital moçambicana, Maputo. Milhares de famílias estão em situação de insegurança alimentar. A seca afeta principalmente o sul do país. O norte e centro têm sido fustigados por chuvas intensas.
Foto: DW/R. da Silva
Ervas para combater a fome
A província do Cunene, no sul de Angola, também tem sido afetada pela seca. À falta de outros alimentos, há populares que comem ervas para saciar a fome: "Muitos morreram, não há comida. Mas, depois, estas ervas causam diarreia", contou um morador do município do Curoca.
Foto: DW/A.Vieira
Rio seco
Seria impossível estar aqui, não fosse a seca. O rio Black Umfolozi, a nordeste da cidade sul-africana de Durban, ficou sem água à superfície. Só cavando os habitantes conseguem obter o líquido vital.
Foto: Reuters/R. Ward
Seca inflaciona os preços
O Malawi também atravessa um período de seca. E isso reflete-se aqui neste mercado perto da capital, Lilongwe. Os preços de produtos básicos como o milho aumentaram bastante, porque a colheita foi má e é necessário importá-los. Muitas vezes, os habitantes mal conseguem pagar os alimentos que precisam para sobreviver.