Moçambique: organizações reclamam direitos das crianças
Manuel David (Lichinga)
1 de junho de 2017
Organizações afirmam que, em Moçambique, continuam negados os direitos fundamentais, como alimentação e educação, a muitas crianças. País está entre os piores classificados do relatório anual da Save the Children.
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Moçambique está entre os piores classificados num relatório da organização não-governamental Save the Children, que luta pelos direitos das crianças. O país encontra-se na posição 160, num total de 172. Em Moçambique, são muitas as crianças que sofrem de desnutrição crónica. A pobreza infantil é elevada e há muita dificuldade em manter as crianças na escola. A violência e a negligência são outros dois problemas graves do país.
Neste Dia Mundial da Criança (01.06), Victor Maulana, coordenador da Associação Amigos da Criança Boa Esperança, alerta para a necessidade de proteger os mais pequenos. "Há muitas crianças que se encontram em situação de vulnerabilidade e maiores riscos", começa por afirmar este responsável da associação da província do Niassa, acrescentando que existem muitas crianças que "não vão à escola", muitos outros casos de "trabalho infantil e casamentos prematuros". O responsável fala de "vários fenómenos que afetam esta camada social", acrescentando que, em Moçambique, "as crianças andam de qualquer maneira e casam-se muito cedo".
José Moda, diretor provincial do Género, Criança e Ação Social, partilha das mesmas preocupações. No seu entender, é urgente que os pais e encarregados de educação parem de maltratar as crianças, para que estas gozem dos seus direitos em plenitude. Neste sentido, afirma, estão a ser desenvolvidas várias atividades que visam o apoio à criança. Segundo José Moda, "mais de seis mil crianças estão a ser apoiadas em vários programas de proteção social com kits alimentares e atividades".
O coordenador da Associação Amigos da Criança Boa Esperança, Victor Maulana, aplaude estas medidas. Mas chama a atenção, por outro lado, para a necessidade de se construírem mais centros infantis públicos para acolher as crianças mais desfavorecidas. "A ausência de escolinhas públicas faz com que muitas crianças sejam perdidas antes de atingirem a maioridade. [Se tivéssemos] escolas espalhados por todo o país, as crianças iriam à escola desde pequenas porque toda a criança que vai à escola desde pequena está a preparar o seu futuro", afirma.
Relatório "Save the Children"
01.06.2017 - Dia Int. Criança-Moçambique - MP3-Mono
A manutenção ou retenção da criança na escola, a mortalidade neonatal e materna e a desnutrição crónica, que afeta aproximadamente 43 por cento a menores até cinco anos de idade, são algumas das dificuldades de Moçambique apontadas no relatório da organização Save the Children, intitulado "Infância Roubada".
Em reacção a este relatório, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) apela ao Governo moçambicano e parceiros que reforcem os sistemas de apoio às crianças, nomeadamente, ao nível da oferta de cuidados de saúde e educação.
Entre os países lusófonos, Angola é o que regista o pior lugar, estando na 171ª posisão, num total de 172 países. A Guiné-Bissau tem melhor classificação que Moçambique, ocupando a posição 156. São Tomé e Príncipe ocupa o lugar 114 e Cabo Verde está na posição 85.
Sudão do Sul: Crianças da zona de guerra
No Sudão do Sul, deslocados internos são acolhidos nos campos de proteção das Nações Unidas. Muitos são crianças sem os pais. A Nonviolent Peaceforce (NP), uma organização não-governamental, tem ajudado essas crianças.
Foto: DW / F. Abreu
Entre os deslocados, pais desaparecidos
Mais de 30.000 pessoas vivem nos campos de acolhimento das Nações Unidas em Juba, capital do Sudão do Sul. Cerca de 7.000 são crianças que perderam contacto com os pais. Agora, a ONG Nonviolent Peaceforce está tentando reunir as famílias.
Foto: DW / F. Abreu
Encontrando as famílias
O primeiro passo é definir a identidade da criança. Em seguida, recolhe-se o máximo de informações possíveis que possam ajudar a localizar os pais. Os dados ficam então disponíveis na internet e podem ser acessados por todas as organizações que trabalham pela protecção das crianças no Sudão do Sul. Se uma família não pôde ser localizada, as crianças são encaminhadas para adoção.
Foto: DW / F. Abreu
Forças de Paz femininas
No Sudão do Sul, a Nonviolent Peaceforce protege mulheres e crianças. Esses grupos raramente participam dos conflitos armados, mas são muito afetados. Por isso, a organização está a criar equipas femininas de luta pela paz. Essas mulheres são especialmente treinadas para combater a violência sexual e de gênero nas comunidades.
Foto: DW / F. Abreu
Mulheres pela Paz
Além de treinamento, as equipas de Mulheres pela Paz recebem acompanhamento constante. Elas ajudam outras mulheres vulneráveis nas comunidades contra a violência sexual, de gênero e também a identificarem os riscos. Em contacto com as autoridades, contribuem para que os culpados sejam levados à justiça.
Foto: DW / F. Abreu
Ulang, no Estado do Alto Nilo
A guerra civil começou como uma disputa política. Entretanto, reacendeu o conflito entre as etnias Dinka, do Presidente Salva Kiir; e Nuer, liderada pelo rebelde Riek Machar. Ulang, região localizada no Estado do Alto Nilo, é dominada pelos Nuer. Em maio de 2015, foi alvo das tropas do Governo. O resultado? Dezenas de pessoas mortas. A única área de paz tornou-se palco de mais um conflito.
Foto: DW / F. Abreu
Proteção para as crianças de Ulang
Em Ulang, a Nonviolent Peaceforce desenvolve um projeto de proteção para as crianças. Esse é um dos seis projetos dessa organização não-governamental no Sudão do Sul. Tais projetos variam de acordo com as necessidades locais. Em Ulang, por exemplo, voluntários da comunidade garantem o lazer e o esporte às crianças.
Foto: DW / F. Abreu
Futebol num antigo campo de batalha
Na escola primária Kopuot, em Ulang, as crianças que participam do projeto agora podem jogar futebol. O prédio ao fundo ainda tem as marcas de balas nas paredes. Uma triste lembrança de que, durante a ofensiva de maio, essa escola foi alvo das tropas do Governo.
Foto: DW / F. Abreu
De volta à escola
Em maio, durante a ofensiva do Governo, todos os materiais escolares e muitos outros materiais foram destruídos. Agora, em salas de aula improvisadas, luta-se para que as crianças da comunidade tenham acesso à educação. Autoria: Fellipe Abreu