Moçambique: Otimismo no futuro apesar dos ciclones
Rodrigo Vaz Pinto
18 de junho de 2019
Os ciclones Idai e Kenneth afetaram o crescimento económico de Moçambique, que este ano se vai ficar pelos 2%. Mas os líderes das grandes empresas estão otimistas em relação aos grandes investimentos como o gás natural.
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Os ciclones Idai e Kenneth, que passaram por Moçambique entre março e abril vieram desacelerar a economia. Apesar dos danos causados, algumas empresas estão positivas em relação ao futuro e prevêem um grande crescimento, sobretudo com o investimento na exploração de gás na Bacia do Rovuma em Cabo Delgado.
Gás natural
A Anadarko, empresa de exploração energética americana, anunciou um investimento de 25 mil milhões de dólares (22 mil milhões de euros) na exploração de gás natural. Paulo Mendonça, diretor executivo da empresa energética portuguesa Galp em Moçambique, acredita que a confiança dos empresários se baseia muito em investimentos como este.
"A confiança que existe nos empresários em termos genéricos é crescente com base na cada vez mais forte perspetiva com os grandes investimentos no gás se realizarem”.
José Reino da Costa, presidente do Conselho Executivo do Millenium BIM, disse à DW África que alguns balcões do banco foram afetados pelos ciclones, mas já vê a vida a voltar à normalidade na cidade da Beira, severamente atingida pelo ciclone Idai.
"O que nós sentimos, eu próprio estive na Beira há 15 dias, é que a atividade económica voltou praticamente ao normal. Obviamente que ainda se vê a destruição e as pessoas já estão a retomar a sua vida normal, e como se costuma dizer a vida continua”.
Apesar dos números do FMI apontarem para um crescimento de apenas de 2% em 2019, nos próximos anos as projeções mostram um crescimento forte. Em 2020 espera-se que Moçambique cresça já 6%.
Alguns sectores em recuperação
A agricultura e o pequeno comércio foram as atividades económicas mais prejudicadas. A recuperação na agricultura só poderá ser feita nas próximas colheitas. José Reino da Costa diz que os prejuízos na cidade da Beira foram muito grandes.
"As estimativas que foram feitas pelo gabinete que foi criado para avaliar os prejuízos e também para a reconstrução da Beira apontam para valores, entre perdas, danos efetivos e perdas económicas potencias superiores 3 mil milhões de dólares”.
Moçambique: Economia depois do Idai e Kenneth
Também Paulo Mendonça conta como os ciclones afetaram a Galp. Mas mantém-se otimista em relação ao futuro.
"A Galp tem em construção dois parques armazenários de combustíveis, um deles na Beira, que está neste momento em fase construção e esse projeto sim foi algo afectado, uma vez que estava em fase de construção na altura em que o ciclone atingiu a costa da Cidade da Beira e houve um determinado impacto, que está neste momento a ser quantificado. De qualquer maneiro isso não altera de modo nenhum os planos de investimento que a empresa tem para o país”.
Moçambique vai tornar-se um dos maiores produtores de gás natural na próxima década e a Galp vai participar nesse processo. Paulo Mendonça já tem datas para o início da extração e produção de gás natural.
"O ano de 2020 marcará o início da construção das duas fábricas, que temos previsto no consórcio da Área 4, como objetivo de produzir gás natural a partir de 2024”.
Ciclones em Moçambique: Agora, a reconstrução
A cidade da Beira recebe durante dois dias a conferência internacional de doadores, após os ciclones Idai e Kenneth. Os ciclones afetaram mais de 1,5 milhões de pessoas. Este é um retrato de um país abalado.
Foto: Lena Mucha
Ajuda chega à Beira
Helena Santiago, de 53 anos, trabalha nos escombros da sua casa no bairro dos CFM - Maquinino, na Beira, onde vive com o marido e oito filhos. A sua casa não resistiu ao ciclone Idai. A conferência internacional de doadores que começa esta sexta-feira (31.05) na Beira poderá ser uma esperança para muitos afetados como Helena Santiago, pois uma das metas é a reconstrução.
Foto: Lena Mucha
Beatriz
Beatriz é fotografada com três dos sete filhos em frente ao seu campo de milho devastado. A sua aldeia natal, Grudja, esteve dias a fio debaixo de água. Beatriz e os filhos conseguiram salvar-se das enchentes que surpreenderam os moradores na manhã de 15 de março. Durante três dias, as pessoas ficaram à espera de ajuda no telhado da escola ou em cima das árvores, ou até que a água baixasse.
Foto: Lena Mucha
Centro de saúde destruído
Pacientes e crianças estão à espera de serem atendidos por uma equipa de emergência em frente ao centro de saúde de Grudja. O centro foi completamente destruído pelas inundações. Medicamentos e materiais de tratamento ficaram inutilizáveis devido à água.
Foto: Lena Mucha
Salvação
No telhado da escola primária Nhabziconja 4 de Outubro, muitas das pessoas salvaram-se das inundações. Algumas semanas depois do desastre, esta escola conseguiu retomar as aulas. Muitas outras escolas, no entanto, continuam fechadas.
Foto: Lena Mucha
Regina
Regina trabalha com a sogra, Laina, na sua propriedade. Antes da passagem do ciclone, Regina morava com o marido e os cinco filhos numa aldeia próxima de Grudja. As inundações destruíram a sua casa e as plantações. Ela e o marido refugiaram-se em cima de uma árvore e sobreviveram. Alguns dos seus filhos morreram nas inundações, outros ainda estão desaparecidos.
Foto: Lena Mucha
No Revuè
O rio Revuè, na localidade de Grudja, transbordou devido às fortes chuvas após o ciclone, inundando grande parte das terras circundantes. Nesta foto, tirada depois do nível da água ter voltado ao normal, estas mulheres lavam a roupa nas margens do rio.
Foto: Lena Mucha
Campos arruinados
Nesta imagem, as jovens Elisabete Moisés e Victória Jaime e Amélia Daute, de 38 anos, estão num campo de milho arruinado. Como muitos outros, tiveram que esperar vários dias nos telhados de Grudja depois das fortes chuvas, em meados de março. 14 dos seus vizinhos, incluindo 9 crianças, afogaram-se durante as inundações.
Foto: Lena Mucha
Escola primária tornou-se hospital
Mulheres e crianças estão à espera de tratamento médico, dado por uma equipa de emergência numa escola primária no distrito de Búzi, a oeste da cidade costeira da Beira. O ciclone Idai atingiu a costa moçambicana nesta cidade de cerca de 500 mil habitantes no dia 15 de março.
Foto: Lena Mucha
Fila para sementes
Em muitas partes do país, as plantações ficaram destruídas pelas enchentes. Durante um ano, pelo menos 750 mil pessoas deverão ficar dependentes de alimentos, segundo estimativas do Programa Alimentar Mundial. Em Cafumpe, no distrito de Gondola, 50 famílias receberam sementes de milho, feijão e repolho da organização de assistência alemã Johanniter e da ONG local Kubatsirana.
Foto: Lena Mucha
Reconstrução
Em Ponta Gea, na Beira, regressa-se à vida quotidiana. Muitas infraestruturas foram destruídas pelo ciclone. Nesta foto, cabos de energia destruídos e linhas telefónicas estão a ser reparados. Mas, a poucos quilómetros daqui, aldeias inteiras precisarão de ser reconstruídas. Em muitos sítios, ainda falta água e alimentos.