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LiteraturaMoçambique

Prémio Camões: Paulina Chiziane "emocionada" com distinção

21 de outubro de 2021

A escritora foi, esta quarta-feira (20.10), distinguida com o Prémio Camões, tornando-se na primeira mulher moçambicana a conquistar o maior e mais importante galardão literário na lusofonia. À DW, diz-se emocionada.

Foto: Otavio de Souza

Apenas três moçambicanos conquistaram, até à data, o Prémio Camões: José Craveirinha em 1991, Mia Couto, em 2013, e Paulina Chiziane, em 2021.

O anúncio de que Paulina Chiziane é a galardoada deste ano foi feito na quarta-feira (20.10) pela ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca. "O júri decidiu por unanimidade atribuir o Prémio à escritora moçambicana Paulina Chiziane, destacando a sua vasta produção e receção crítica, bem como o reconhecimento académico e institucional da sua obra", lê-se na nota enviada à imprensa.

O júri referiu também a importância que dedica nos seus livros aos problemas da mulher moçambicana e africana.

Um dia depois do anúncio do vencedor do galardão, a escritora moçambicana, autora de "Niketche", abriu o seu coração à DW África para contar o momento em que recebeu a notícia. 

DW África: Como recebeu a notícia de que foi a vencedora do prémio Camões 2021?

Paulina Chiziane (PC): Foi uma grande confusão. Eu estava a cozinhar, a preparar-me para comer o meu petisco e dão-me a notícia. Eu fiquei meio tonta. A panela estava a arder... passado um tempo começam a vir pessoas, amigos, vizinhos, e eu esqueci a panela. Veio a minha vizinha e disse: "estou a ver fumo na tua cozinha, o que está a queimar?" Foi assim que eu recebi a notícia. Isto para dizer que foi com muita emoção, gente que vem do chão, como nós, moçambicanos, e africanos de uma maneira geral, não estamos habituados a estas coisas boas. Estamos mais habituados à dor, porque houve um acidente aqui, um desastre ali, nós sabemos melhor gerir a dor do que a felicidade.

DW África: E está a saber gerir este momento, sendo que é também a primeira mulher moçambicana a receber o prémio?

PC: Estou a tentar, não é fácil, mas acho que vou conseguir gerir esta realidade.

DW África: É uma grande responsabilidade...

PC: É uma grande responsabilidade sim, reconheço isso, porque há uma nova geração que vem e se vai inspirar.

DW África: A Paulina diz sempre, e nas suas obras também é evidente, que não é romancista, mas contadora de histórias. Este acaba por ser um reconhecimento deste contar de histórias...

PC: São tantas histórias bonitas que esta terra tem que precisam de ser contadas. Para que é que eu preciso de ser romancista se posso contar a história do meu povo, de acordo com a sua estética?

DW África: É muito defensora da africanidade. Olha para este Prémio Camões como um reconhecimento desta profundidade com que conta a africanidade?

PC: Com certeza. Eu sou moçambicana, tenho a memória do meu povo, defendi essa memória, defendi essa cultura, essa maneira de estar. E o mundo acabou reconhecendo que esta maneira de estar é uma maneira de estar humana, porque todo o ser humano tem a sua cultura e o seu lugar de origem.

DW África: Vê este prémio como uma espécie de sinal de que a mulher está a ganhar o seu espaço na sociedade moçambicana, assim como no mundo?

PC: É uma parte, mas não é tudo. Pode ser enganoso olhar para a Paulina como uma simples mulher. Eu sou mulher, sou mãe, claro, e sou negra. Este prémio sempre girou entre brancos e mulatos. Uma preta igual a mim receber este prémio, eu digo: "O quê? Será que falo bem português?" Mas pronto, o essencial é dizer o seguinte: cada um de nós, na sua língua, na sua forma de expressão, seja homem, seja mulher, num mundo globalizado deve se afirmar a partir da sua própria essência.

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