Paulo Vahanle criticado por nomear filho de líder da RENAMO
Sitoi Lutxeque (Nampula)
5 de março de 2019
O edil de Nampula, Paulo Vahanle, da RENAMO, está a ser criticado por ter nomeado para vereador, um dos postos mais importantes do Conselho Municipal, o filho do líder do partido.
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Continua a dar que falar a nomeação de parentes de dirigentes da RENAMO a nível do Conselho Autárquico de Nampula. Uma das nomeações mais sonantes é a de Osvaldo Ossufo Momade, um dos filhos do líder do principal partido da oposição no país, para Vereador da Promoção Económica, um dos sectores vitais da edilidade, por este ser a fonte de coleta de fundos, na sua maioria, nos estabelecimentos comerciais.
Alguns cidadãos consideram que as nomeações têm a ver com a ligação partidária, uma vez que, segundo eles, existem muitos outros jovens na sociedade civil e que, se o edil optasse por um deles, estaria a fazer valer a inclusão no espírito e na letra.
André José é um desses cidadãos e afirma aos microfones da DW África que "no passado criticavam a FRELIMO, que estava a colocar familiares na administração". "Agora com a tomada de posse da RENAMO nesta cidade, estamos a ver o mesmo problema. Isso já não pode ser. Há muitos outros cidadãos da sociedade civil que estão interessados em também ajudar no desenvolvimento da cidade de Nampula", lamentou.
Várias críticas a Vahanle
Paulo Vahanle, edil de Nampula, já ouviu várias críticas, mas em declarações à DW-Africa minimizou-as afirmando que a nomeação do jovem vereador não tem nada a ver com o facto do seu pai ser líder do partido de que é membro. O edil justifica que foi mesmo pela competência do jovem, uma vez que o mesmo não é novo na gestão da coisa pública."Ele [Osvaldo Ossufo Momade] é funcionário do Conselho Municipal [desde que o edil ganhou as eleições intercalares no ano passado] antes do pai ser eleito presidente do partido. É um licenciado e tem suas competências, portanto foi indicado por mim para ocupar o cargo de vereador de Mercados e Feiras [Promoção Económica]'", disse Vahanle.
O edil entende que as críticas visam desmotivar o trabalho do seu governo municipal e aproveitou, também, para criticar os filhos de dirigentes de outros partidos, sobretudo da FRELIMO, que, segundo ele, enriquecem do dia para noite sem nunca terem trabalhado.
"Nós, na RENAMO, aos nossos filhos ensinamos a trabalhar, suar para ganhar o pão. O que é triste e incompreensível é ser filho de um dirigente, comprar edifícios luxuosos no estrangeiro sem terem trabalhado na vida... Esse que é o grande problema", destacou.
Genro nomeado como vereadorAlém do caso de Osvaldo Ossufo Momade, critica-se igualmente Paulo Vahanle por ter nomeado o genro para vereador de Institucional, Desenvolvimento e Cooperação, além de um dos seus filhos para chefe de setor. Vahanle, porém, diz que isso não é verdade.
Moçambique: Paulo Vahanle criticado por nomear filho de líder da RENAMO
Alguns analistas consideram que a nomeação de Osvaldo Ossufo Momade não se trata de nepotismo e até estão convencidos da sua competência, uma vez que antes de ascender as funções de vereador já foi, durante um curto tempo de governação de Paulo Vahanle, director de Mercados e Feiras.
"Nesse curto tempo [de governação da RENAMO, depois das eleições intercalares] ele mostrou competência. Agora quando ganha novamente eleições e forma o seu governo nomeando o filho de Ossufo Momade como vereador, ele é criticado. Todos os vereadores são filhos de dirigentes? Penso que não, mas sim são membros da RENAMO que mostraram competência, isso até porque é bom para evitar ver filhos de dirigentes milionários sem trabalhar no Estado", avalia o analista Arlindo Murririua, ouvido pela DW África.
Osvaldo Ossufo Momade, recorde-se, antes de entrar para o Conselho Municipal, depois da tomada de posse de Paulo Vahanle a 18 de abril de 2018, foi membro sénior da RENAMO com mais de 25 anos de militância e desempenhara várias funções dentro do partido e da ala juvenil da RENAMO em Nampula.
Mercados de Nampula são perigo à saúde pública
Mercados de Nampula são um perigo à saúde pública - alguns não possuem sanitários. Apesar dos esforços dos governantes em alguns locais, muitos vendedores enfrentam mau cheiro para garantir o seu sustento.
Foto: DW/S. Lutxeque
Hipotecar a saúde a favor da sobrevivência
Fátima Sualehe é vendedeira de hortícolas no mercado da Padaria Nampula. Ela desenvolve esta actividade há mais de dois anos, quando se separou do seu esposo. Aqui, ela enfrenta o cheiro ruim produzido pelas águas negras. Mas "é para garantir o sustento dos meus cinco filhos", disse a vendedeira de espinafre.
Foto: DW/S. Lutxeque
Espaço dos CFM transformados em mercado
Nos 18 bairros que a cidade de Nampula tem a apetência de vender, aliada ao desemprego, acarreta no aumento da actividade comercial. Isso faz com que mesmo lugares impróprios sejam ocupados pelos vendedores. Um desses lugares é o recinto dos "Caminhos de Ferro de Moçambique", onde está instalado o famoso "Mercado da Padaria Nampula".
Foto: DW/S. Lutxeque
Nas ruas da cidade
A cidade de Nampula está a ficar praticamente sem ruas e passeios. Nestes locais, vendedores encontram maior atrativo para a prática comercial. "Nos mercados não há muitos clientes, por isso a aproveitamos esses locais para vender nossos produtos e ganhar dinheiro", justificam quase todos os vendedores "assaltantes das ruas".
Foto: DW/S. Lutxeque
"Reciclar" consumíveis e vender
Todas as manhãs, mulheres e crianças escalam o mercado grossista do Waresta, o maior estabelecimento comercial de venda a grosso e a retalho. Nem todos vão para vender, muito menos comprar os produtos. Aproveitam-se da chegada e descarregamento dos camiões de grande tonelagem, transportando produtos, para selecionar os que não estão em decomposição e postereriormente colocá-los nas bancas.
Foto: DW/S. Lutxeque
Lixo e locomotivas
A luta pela sobrevivência de milhares dos moçambicanos, sobretudo os residentes na província mais populosas do país, já está a causar prejuízos e acidentes ferroviários. Os vendedores acumulam lixo e até chegam a embaraçar as locomotivas. As autoridades municipais falam em transferência dos vendedores, enquanto as empresas ferroviárias não param de sensibilizar os vendedores para o abandono.
Foto: DW/S. Lutxeque
Insuficiência de sanitários públicos
Muitos mercados da cidade de Nampula não tem sanitários públicos. Um dos maiores mercados é o da Padaria Nampula, no centro da cidade. Para atender as necessidades biológicas, os vendedores que ficam quase todo o dia a praticar a actividade comercial fazem as necessidades ao relento, mesmo no recinto dos estabelecimentos comerciais.
Foto: DW/S. Lutxeque
Sanitários em abandono
Enquanto muitos estabelecimentos comerciais não possuem sanitários públicos, no mercado grossista do Waresta existem dois desses melhorados, construídos pelas autoridades. Mas, de acordo com os gestores dos mesmos, os vendedores preferem fazer suas necessidades biológicas ao relento, distanciando de pagar uma taxa de 10 meticais por cada vez que necessitam.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mercados a céu aberto
Apesar dos esforços da edilidade, reconhecido pelos munícipes, a cidade, que ainda ostenta o título da terceira maior de Moçambique, tem alguns dos seus mercados com aspetos rurais. Há muitos mercados e bancas a céu aberto, e outros de construção precária. Em tempos chuvosos, os vendedores vivem à deriva.
Foto: DW/S. Lutxeque
Partidarização dos mercados
Os partidos políticos na cidade de Nampula também procuram ganhar protagonismo através de propagandas baratas. Em quase todos os mercados da periferia existem bandeiras dos três partidos políticos com assento parlamentar (RENAMO, FRELIMO e MDM). A situação agudizou-se no período das campanhas eleitorais, mas até agora nenhum partido removeu os seus materiais de propaganda.
Foto: DW/S. Lutxeque
Esforços da Edilidade
O Conselho Municipal de Nampula, liderado por Paulo Vahanle, tem, apesar das dificuldades financeiras que herdou do antigo Governo (quando assumiu o poder depois das eleições intercalares) se esforçado para melhorar os mercados. Um deles é o mercado do Waresta, o maior da cidade, que está a beneficiar-se das obras de reabilitação.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mercado Novo
O Mercado Novo, localizado no centro da cidade, é o primeiro e mais organizado. Aqui não existe lixo no chão, muito menos degradação. Há lojas organizadas e com sistema de escoamento de águas negras. Está localizado a pouco mais de 200 metros do edifício da edilidade, e a menos de cem metros do Mercado Central. Foi criado no Governo de Mahamudo Amurane, edil já falecido.