O chefe da diplomacia moçambicana, José Pacheco, apelou à comunidade internacional para intensificar a ajuda humanitária às vítimas do ciclone Idai. França, Brasil e Estados Unidos já anunciaram mais apoio.
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"O Governo reitera a importância de se continuar a intensificar a ajuda humanitária, sem obviamente descurar outras medidas de apoio para o restabelecimento dos serviços e atividades económicas e sociais", afirmou José Pacheco, falando esta quarta-feira (27.03) na abertura de um encontro com representantes do corpo diplomático acreditado em Moçambique.
A passagem do ciclone Idai pelo Moçambique, segundo os últimos dados do Governo, causou pelo menos 468 mortos, mais de 1.500 feridos e mais de 135 mil desalojados, levando um rastro de destruição à zona centro do país.
Sem a ajuda da comunidade internacional, prosseguiu o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, o sofrimento das pessoas afetadas pelo ciclone Idai teria sido mais profundo e penoso e o processo de salvamento de vidas humanas teria sido comprometido e de impacto limitado.
Mais coordenação
O chefe da diplomacia moçambicana defendeu ainda a necessidade do aprimoramento dos mecanismos de coordenação entre as entidades governamentais e os parceiros internacionais na prestação de assistência humanitária, de modo a assegurar que o apoio chegue às vítimas em tempo útil.
Manica: Milhares de desalojados devido a ciclone Idai
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Por seu turno, falando em nome do corpo diplomático acreditado em Moçambique, o embaixador da Palestina, decano adjunto dos embaixadores em Maputo, Fayez Jawad, manifestou o compromisso da comunidade internacional no apoio às vítimas do ciclone Idai, assinalando o dever moral e humanitário do mundo perante situações de emergência provocadas por desastres naturais.
"Asseguramos a nossa solidariedade e apoio no alívio do sofrimento das famílias vítimas e o compromisso de fornecer tudo o que for possível para que os afetados possam enfrentar os efeitos desta catástrofe, como um dever moral e humanitário", declarou Fayez Jawad.
Mais ajuda humanitária a caminho
A França enviou quarta-feira (27.03) um segundo avião de ajuda humanitária para Moçambique, com 65 toneladas de bens, no quadro da missão "Ação Humanitária França", realizada com organizações não-governamentais e fundações de empresas parceiras.
Os Estados Unidos da América (EUA) também prometeram enviar mais aeronaves militares e comerciais com apoio.
O Brasil anunciou que vai enviar esta sexta-feira (29.03) dois aviões de transporte Hércules C-130, da Força Aérea Brasileira com ajuda humanitária, incluindo uma equipa de bombeiros que irá contribuir com o trabalho está a ser realizado em Moçambique."Já mobilizámos 100 mil euros em favor de Moçambique", disse o chefe da diplomacia brasileira, Ernesto Araújo.
Beira: Vida difícil após ciclone Idai
A Beira foi a cidade moçambicana mais afetada pelo ciclone Idai. Milhares de pessoas ficaram desalojadas e agora a vida está bastante mais cara. Autoridades apelam à solidariedade de todos para reconstruir a região.
Foto: DW/A. Sebastião
Beira após ciclone
O ciclone Idai destruiu mais de 90% da cidade da Beira, no centro de Moçambique, segundo a Cruz Vermelha. Milhares de pessoas ficaram desalojadas. Muitas estão em centros de acomodação, outras refugiaram-se em edifícios no centro da cidade. Estas famílias viviam no bairro pesqueiro da Praia Nova, inundado pelas águas, e refugiaram-se aqui.
Foto: DW/A. Sebastião
Medo de doenças
Aqui, nos escombros de um edifício onde havia uma loja de colchões, vivem mais de 180 pessoas, incluindo crianças. Dormem em cima de plásticos, sem redes mosquiteiras. E o risco de contrair malária é grande. As autoridades locais estão preocupadas com a possível eclosão de doenças, também por causa das águas paradas e da falta de saneamento básico. Foram confirmados cinco casos de cólera na Beira.
Foto: DW/A. Sebastião
À espera de realojamento
Elisa morava no bairro da Praia Nova e vive agora na antiga loja de colchões. O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais (INGC) prometeu realojar as pessoas que aqui estão, e chegou a registar os seus nomes, conta Elisa. Mas, até agora, ela e os outros continuam à espera.
Foto: DW/A. Sebastião
Começar do zero
Pedro vende produtos alimentares: arroz, bolachas, sal, tomates. Mas perdeu toda a sua mercadoria com o ciclone Idai. Como este comerciante, muitos outros habitantes da região perderam as suas fontes de rendimento - na agricultura, por exemplo. A ONU pede apoios para estas pessoas. Pedro tinha uma pequena poupança e, entretanto, já conseguiu comprar produtos para vender na Praça do Município.
Foto: DW/A. Sebastião
Vida mais cara
Os preços dos alimentos e dos materiais de construção subiram depois da passagem do ciclone Idai. E as filas são grandes para comprar produtos básicos como arroz, farinha ou óleo alimentar. Nos centros de acomodação, as vítimas do ciclone alertam que a comida não chega. Uns conseguem arranjar comida distribuída pelas autoridades ou por parceiros, outros não.
Foto: DW/A. Sebastião
Especulação de preços
O preço do tomate aumentou para quase o triplo do habitual. Antes, um quilo rondava 70 meticais (quase um euro); agora, pode custar entre 180 e 200 meticais (2,80 euros). As vendedeiras alegam que os fornecedores aumentaram o preço da caixa de tomate. As autoridades avisam, no entanto, que, se alguém for apanhado a especular preços, será punido com "mão dura".
Foto: DW/A. Sebastião
Reconstrução
Depois da passagem do ciclone Idai, o edil Daviz Simango disse em entrevista à DW que a Beira se tornou uma "cidade fantasma". Segundo Simango, recuperar a cidade e voltar à normalidade é um "desafio enorme". O Governo moçambicano apelou esta quarta-feira (27.03) ao setor privado, à sociedade civil e aos parceiros internacionais para continuarem a apoiar a reconstrução da região afetada.